A evolução do tratamento antirretroviral, a PrEP (profilaxia pré-exposição), a situação do Brasil em relação ao controle do vírus, o avanço do HIV entre homens jovens de 15 a 29 anos e o registro de 11 mil mortes por ano em decorrrência do HIV no país foram temas do CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (21/11). O convidado foi o infectologista e diretor médico de HIV da GSK, Rodrigo Zilli. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ele disse acreditar que o Brasil vai alcançar as metas de controle até 2025.
O tratamento antirretroviral completou quase 40 anos. O que mudou nesse tratamento tão substancial para as pessoas infectadas com HIV?
Desde 1987, existe o AZT (zidovudina), que era o único medicamento conhecido e disponível. Hoje, já se sabe que esse medicamento tem muitas toxicidades. Ao longo do tempo, foi se combinando medicamentos, porque só com a combinação você consegue suprimir o vírus, nenhum remédio sozinho faz isso de forma adequada e sustentável. Ao longo do tempo, foram se colocando medicamentos de classes terapêuticas mais modernos, com menos toxicidade, com melhor comodidade de dose, melhor barreira à resistência, ou seja, à medida que vai tratando diariamente, a chance de falhar é muito pequena, se o paciente tomar diariamente o medicamento. E, hoje, chegou-se a um tratamento de uma vez por dia.
Antes, era um coquetel de quantos comprimidos?
Mais de 20 comprimidos, várias vezes ao dia. Tinha que tomar, às vezes, com bastante quantidade de água, com alimento — às vezes, alguns com alimentos gordurosos. Então, para a pessoa conseguir ter uma qualidade de vida, era muito difícil.
Como é que anda no Brasil a questão de abandono de tratamento?
Hoje, com o tratamento que o Ministério da Saúde fornece, que é dessa classe mais moderna, usada em todos os lugares do mundo, você faz uma vez ao dia. O tratamento inicial são dois comprimidos, uma vez ao dia. Tem que tomar diariamente. Realmente, não pode parar. Existe um dado oficial do Ministério da Saúde mostrando que em torno de 9% a 10% das pessoas perdem o acompanhamento por diversas causas. Não é necessariamente um abandono, elas perdem o acompanhamento.
Uma coisa que preocupa é que homens jovens de 15 a 29 anos estão se expondo e se infectando. Por que isso acontece e como o governo deveria agir?
Sim, o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostra que homens entre 15 e 29 anos compõem a população na qual a epidemia no Brasil cresceu nos últimos dez anos. Nenhuma outra faixa etária, nem outra faixa de estratificação por gênero cresceu. Então, isso é um desafio, isso é uma constatação. São dados epidemiológicos. Então, com certeza, trabalhar a prevenção e a conscientização em relação aos riscos é fundamental. Tenho visto muitas ações nessa direção, não só em nível de governo, mas também de sociedade civil.
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O que é PrEP?
A PrEP (profilaxia pré-exposição) é um método de prevenção do HIV. Trata-se de usar medicamentos previamente a potenciais exposições ao vírus. Não é uma vacina, mas, sim, um tratamento preventivo, que depende de uso contínuo para garantir proteção. Dados científicos mostram que é bastante eficaz para prevenir a contaminação pelo HIV, sendo especialmente importante para pessoas em maior risco de exposição. Hoje, qualquer pessoa pode acessar a PrEP pelo sistema público de saúde, sem restrições quanto a grupos específicos. Basta se autodeclarar em risco para ter direito ao medicamento. O grande desafio está na conscientização sobre a existência da PrEP, na percepção de risco e no conhecimento de como acessar o tratamento. Além disso, há esforços para superar barreiras, como julgamentos e preconceitos nos serviços de saúde, que podem dificultar o acesso, principalmente para populações mais vulneráveis. É importante destacar que a PrEP é destinada a pessoas que não têm HIV. Por isso, antes de iniciar o tratamento, é necessário realizar um teste de HIV com resultado negativo nos últimos sete dias. Isso garante que a prevenção seja adequada e segura para quem vai usar a PrEP. Esse cuidado é uma exigência para que o medicamento seja prescrito e fornecido.
Para uma mulher que contraiu o vírus jovem, na fase reprodutiva e que quer ser mãe, é seguro? Ela pode continuar fazendo o tratamento, tomando o remédio e, ainda assim, engravidar? Quais são os riscos de transmissão para a criança?
Os estudos envolvendo medicamentos em gestantes são sempre delicados, por diversos motivos. Às vezes, demora-se para obter dados que confirmem a segurança absoluta na gestação. Por isso, as bulas de remédios frequentemente trazem precauções. No entanto, hoje, está claro que mulheres vivendo com HIV têm seu direito reprodutivo e sexual preservado, e existem medicamentos seguros para essa situação. O esquema terapêutico padrão atual é seguro para a gestação, mas exige cuidados específicos, considerando os múltiplos aspectos relacionados à saúde da mulher e da gestante. Dados robustos mostram que é seguro continuar o tratamento durante a gestação, podendo ser necessárias adaptações feitas pelo médico. Se a mulher está indetectável durante a gestação e, especialmente, no parto, o risco de transmissão do vírus é praticamente eliminado. O bebê, contudo, precisa de acompanhamento pediátrico, pois foi exposto ao vírus no útero. Mesmo assim, recomenda-se que a mulher não amamente, mesmo estando indetectável. Essa é uma discussão científica atual, e, apesar de avanços, ainda há incertezas. Por isso, a orientação vigente é evitar a amamentação, priorizando alternativas seguras para a alimentação do bebê.
A ONU tem uma meta global para que se alcance o controle do HIV até 2025, chamada de 95, 95, 95. Como o Brasil está nesse cenário e o que falta para atingirmos esse objetivo?
Isso é uma iniciativa que já existe há alguns anos. Vários países são signatários dessa meta. Ela prevê que 95% das pessoas saibam que têm o vírus estejam diagnosticadas; que, dessas, 95% estejam em tratamento; e que, entre as em tratamento, 95% estejam indetectáveis, ou seja, sem transmitir o vírus. O Brasil está atualmente em 90, 81, 95. Esses 81% são referentes ao tratamento e devem melhorar no próximo boletim, pois esse dado é de 2022. Desde então, houve avanços no número de pessoas em tratamento.
Vamos alcançar 95, 95, 95 até 2025?
Acredito que sim, e, em 2030, a meta é eliminar o HIV como um problema de saúde pública.
Veja a entrevista:
*Estagiário sob supervisão de Malcia Afonso
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FRASE
Existe um dado oficial do ministério mostrando que em torno de 9% a 10% das pessoas perdem o acompanhamento (do tratamento) por diversas causas"
FRASE
Em 2030, a meta é eliminar o HIV como um problema de saúde pública"