Trânsito

Livro analisa problemas no Eixão e aponta possíveis soluções

Obra As travessias do Eixão reúne estudos sobre uma das principais vias rodoviárias do Distrito Federal

Carlos Madson e Wilde Cardoso, junto a outros quatro coescritores e dois colaboradores, apresentam discussões que fogem do emocional -  (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)
Carlos Madson e Wilde Cardoso, junto a outros quatro coescritores e dois colaboradores, apresentam discussões que fogem do emocional - (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)

A rodovia DF-002 — conhecida pelos moradores do Distrito Federal como "Eixão" — é uma das principais vias de Brasília. Projetada por Lucio Costa como parte do plano urbanístico da capital federal, faz o papel de "artéria" para o fluxo de veículos que cortam o Plano Piloto, literalmente, de norte a sul, e vice versa. Contudo, se por um lado atende a motoristas, motociclistas e passageiros — que podem trafegar a, no máximo, 80 km/h — essa extensa avenida impacta os não motorizados. Eles enfrentam um dilema para cruzar a via: recorrer a passagens subterrâneas, com iluminação e segurança deficientes, ou arriscar-se a serem atropelados se forem por cima. Essa situação inspirou o livro As Travessias do Eixão.

A obra reúne diversos estudos, antes dispersos em várias publicações, dissertações e teses, que buscam soluções para o problema. "A ideia do livro nasceu das discussões e ações da Andar a Pé, uma associação civil sem fins lucrativos que defende a promoção da acessibilidade plena, segura e confortável de pedestres no espaço urbano de Brasília. O organizador do livro foi o coordenador dessa entidade, o engenheiro Wilde Cardoso", explica Carlos Madson Reis, arquiteto urbanista e um dos autores da obra.

As Travessias do Eixão — com oito capítulos escritos por seis coautores e dois colaboradores —, segundo Cardoso, tem o propósito de substituir o "achismo" por dados concretos e científicos, proporcionando uma base racional para os debates sobre a via. "Historicamente, o debate sobre o Eixão tem sido marcado por opiniões pessoais, e o livro oferece dados, informações técnicas e estudos científicos que permitem decisões mais embasadas. Não podemos mais ficar reféns de uma discussão puramente emocional enquanto as pessoas continuam morrendo, sejam motoristas, pedestres ou usuários das passagens subterrâneas, onde há riscos adicionais, especialmente para os mais humildes, que enfrentam esses problemas diariamente", afirma o engenheiro.

Análises

Ele e Fátima Macedo Martins, arquiteta urbanista, exploram, no primeiro capítulo, a origem das travessias do Eixão. Juntos, buscam entender a situação atual, analisando o projeto de Lucio Costa e as adaptações implementadas posteriormente. Em seguida, no segundo, é apresentada uma pesquisa publicada, em 2023, — pela Associação Andar a Pé, entre outras entidades — que traça o perfil dos usuários das passarelas subterrâneas. O capítulo seguinte traz um estudo que questiona o porquê de apenas 13% dos usuários das travessias residirem no Plano Piloto.

"Pedestres e ciclistas enfrentam uma constante sensação de insegurança, seja pelo risco de atropelamentos e acidentes fatais ao atravessarem (o Eixão) por cima seja pelo medo da violência nas passagens subterrâneas, frequentemente sujas e mal iluminadas", diz Benny Schvarsberg, professor de planejamento urbano e urbanismo da Universidade de Brasília e um dos responsáveis pelos capítulos dois e três.

O livro também discute a gestão institucional da via, que, ao ser designada como DF-002, em 1994, passou a ser tratada como rodovia, gerando interferências urbanas, especialmente no contexto de atividades de recreação, aos domingos, no Eixão do Lazer. Além disso, analisa dados do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para avaliar o impacto de uma possível redução de velocidade — a 60 km/h — e a diminuição de acidentes, especialmente atropelamentos. Nos capítulos finais, são apresentadas cinco alternativas para as passagens do subsolo, conciliando preservação urbana, segurança, funcionalidade, sustentabilidade e custo-benefício.

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Futuro

"As propostas incluem reduzir a velocidade, instalar semáforos, criar uma 'ilha verde' no canteiro central e valorizar o espaço para uso social e humano, à semelhança do que ocorre no Eixão do Lazer aos domingos e feriados", aponta Schvarsberg.

O lançamento do livro coincide com a decisão da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF em realizar uma audiência pública para discutir medidas de segurança e melhorias na avenida. O juiz Carlos Frederico Maroja de Medeiros, que determinou o encontro, orientou que seja avaliada a redução da velocidade no Eixão de 80 km/h para 60 km/h, e implementação de políticas de segurança para os usuários.

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postado em 16/11/2024 06:00
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