Cultura

Cinema na kombi: projeto da UnB espalha cultura pelo DF

Projeto Cine Pipoca no Rolê organiza sessões gratuitas de filmes levados em uma kombi a escolas, quadras e associações do DF; após dois anos de sacrifícios, ação passa a contar com recursos de apoio cultural

A kombi leva o cinema — literalmente — para dentro das salas de aula -  (crédito: Arquivo pessoal / Rose May Carneiro)
A kombi leva o cinema — literalmente — para dentro das salas de aula - (crédito: Arquivo pessoal / Rose May Carneiro)

Um projeto audiovisual da Universidade de Brasília (UnB) tem levado cultura, de forma gratuita, para moradores do Distrito Federal. Em uma kombi, o projeto Cine Pipoca no Rolê percorre quadras e escolas das regiões administrativas onde realiza sessões gratuitas de filmes. Em dois anos de existência, a iniciativa levou a sétima arte a 600 pessoas.

Promovendo a cultura e, ao mesmo tempo, estimulando o pensamento crítico, as produções audiovisuais exibidas abordam temas de cunho social. Por isso, as temáticas dos filmes, segundo Rose May Carneiro — coordenadora do projeto e professora do curso de cinema/audiovisual da UnB — giram em torno de questões como: "O papel da mulher; a igualdade de gênero e a responsabilidade do cuidado; o consumo desenfreado e a questão ambiental; a educação, a arte, a cultura e o amor como responsáveis pela transformação social; o racismo estrutural e a constante luta antirracial; um olhar afetuoso sobre os nossos biomas, o nosso país, o nosso povo e toda a nossa diversidade e riqueza cultural".

Além de provocar reflexões sociais, o projeto, para diversas pessoas, proporciona a primeira oportunidade para elas assistirem a um filme na vida. "Tivemos a possibilidade de nos emocionar com pessoas que assistiram um filme pela primeira vez. (Também com) jovens, de uma escola, no Paranoá, que leram um livro do Darcy Ribeiro com os seus professores e, em seguida, viram um documentário sobre ele na tela itinerante do nosso cinema. E. além disso, ouvi, recentemente, uma caloura do audiovisual que me disse ter escolhido este curso por causa do nosso projeto de extensão. Achei isso, simplesmente, maravilhoso", lembra Rose.

"A interação é bonita de se ver. As pessoas mais tímidas, muitas vezes, no final da sessão, sentem-se estimuladas a fazer perguntas, darem o seu depoimento, contarem as suas histórias. Certa vez, projetamos o filme Pelo Malo com a professora Emília Silberstein, em uma escola da Asa Norte, e os estudantes resolveram dançar ao final da sessão. Foi lindo e emocionante", acrescenta a educadora.

Recursos

Nos últimos dois anos, o Cine Pipoca no Rolê realizou 11 sessões, com muito sacrifício. No início, Rose teve de custear a iniciativa com seu próprio bolso. Mas, em 2024, a situação começa a mudar. Com ajuda da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), o projeto conseguiu recursos financeiros para expandir sua logística de modo a proporcionar uma melhor experiência à população. "Felizmente, neste ano, tivemos o apoio da FAP-DF por meio do edital de demanda espontânea, que nos possibilitou comprar equipamentos, entre outros insumos, além de podermos contratar cinco estagiários e estagiárias, beneficiados com bolsa de estudos. Cultura, arte e educação, não sei por quê, têm certa dificuldade de contar com o apreço do empresariado de Brasília. Mas, acredito, isso há de mudar", diz a coordenadora, esperançosa em obter algum patrocínio com a iniciativa privada candanga.

Com uma audiência eclética, inclusive quanto à questão etária, os encontros atraem crianças, jovens e adultos. Com base nessa condição e sem esquecer que as exibições devem promover temas reçacionados aos direitos humanos e questões sociais, é feita a escolha dos filmes. Os organizadores do projeto disponibilizam a programação pelo instagram, no perfil: @cine.pipocanorole. Por ele, quem quiser, pode também sugerir obras a serem exibidas e solicitar sessões em escolas, entidades sociais ou quadras.

Oportunidades

O futuro do Cine Pipoca é promissor, segundo seus organizadores. A professora Rose disse que estão estreitando laços com diretoras de projetos e inovação do Ministério da Cultura, além de contar com o apoio de parlamentares. "Queremos ser uma espécie de escola de extensão itinerante ecofeminista do audiovisual, com projeções de filmes, debates e divulgação de conhecimentos em conteúdos audiovisuais (fotografia, documentário, videoclipes)", esclarece.

Para a educadora, o audiovisual não se restringe apenas às telas. Essa área, em sua opinião, tem a função de facilitar o exercício da autorreflexão e do intercâmbio educacional. “A pandemia (2020) nos mostrou o quanto é fundamental o papel da ciência, da cultura, das artes, da educação, das trocas simbólicas, do cuidado com o outro, das aprendizagens, do afeto, do olhar, cuidadoso, que extrapola qualquer tela. O cinema segue a cartilha do nosso mestre Paulo Freire: dialogar e dar esperança. Por meio de trocas simbólicas, podemos enxergar a nossa pluralidade e os muitos outros e outras que há em nós”, pontua.

*Estagiário sob supervisão de Manuel Martínez

  • Rose:
    Rose: "Tivemos a possibilidade de nos emocionar com pessoas que assistiram um filme pela primeira vez Foto: Arquivo pessoal / Rose May Carneiro
  • De dia ou à noite, 
não importa, o projeto Cine Pipoca no Rolê leva cultura aonde o povo está
    De dia ou à noite, não importa, o projeto Cine Pipoca no Rolê leva cultura aonde o povo está Foto: Fotos: Arquivo pessoal / Rose May Carneiro
  • A iniciativa, segundo os organizadores, aborda temas de cunho social, como questões de gênero
    A iniciativa, segundo os organizadores, aborda temas de cunho social, como questões de gênero Foto: Arquivo pessoal / Rose May
postado em 18/11/2024 06:00
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