Entrevista

Celina Leão detalha medidas de segurança após atentado terrorista

Ao CB.Poder especial, a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, falou sobre atentado terrorista na Praça dos Três Poderes, as ações do GDF para controlar a situação e medidas que serão adotadas para reforçar a segurança no local

Celina Leão, governadora em exercício do DF, fala ao CB.Poder sobre atentado na Praça dos Três Poderes -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Celina Leão, governadora em exercício do DF, fala ao CB.Poder sobre atentado na Praça dos Três Poderes - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

O atentado terrorista ocorrido na Praça dos Três Poderes foi tema do CB.Poder especial. O programa teve participação, nesta quinta-feira (14/11), da governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (Progressistas), que falou sobre o caso. Em conversa com as jornalistas Denise Rothenburg e Adriana Bernardes, ela deu detalhes sobre a ação do governo do DF para controlar a situação na noite em que explosivos foram detonados no local. Celina anunciou reforço na segurança da capital, com planos de construção de um novo batalhão da Polícia Militar (PMDF), que irá atender a Esplanada dos Ministérios, com capacidade para 1,5 mil policiais.

A senhora esteve na Esplanada no momento do ocorrido. Como estava o clima no local?

A Polícia Militar (PMDF) chegou ao local no momento e acionou um protocolo de segurança que nós temos do esquadrão antibombas. Há todo um critério a ser cumprido. Eu estava próxima do local e passei para conferir como estava a situação, e falei com as nossas forças de segurança. Até a própria imprensa teve que sair da cobertura no momento, por conta do perigo de haver alguma bomba acionada. Rapidamente, tivemos todas as informações e fizemos a primeira coletiva com a imprensa.

Como está a situação? 

Toda varredura do perímetro foi efetuada. A Esplanada dos Ministérios foi liberada às 11h novamente, com toda segurança. Ontem (quarta-feira, 13/11), eu fiz todos os contatos com todos os chefes de Poderes.

Com qual deles falou primeiro?

O primeiro foi o ministro Barroso. Ele disse que tinha confiança no trabalho executado, que também estava à disposição e dialogando com a segurança do próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Eu o coloquei a par de toda a situação naquele momento e falei que o manteria informado dos desdobramentos, coisa que fiz também com alguns outros ministros do Supremo que falaram conosco. Entrei em contato também com o presidente Lula, à noite. Ele falou que hoje (quinta-feira, 14/11) estaria no Rio de Janeiro. Coloquei que nós tínhamos 100% do controle da situação. Falei também com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira. Solicitei que, pelo menos até meio-dia, não tivesse expediente naqueles locais para deixar bem isolado o perímetro e fazer as perícias.

Tivemos o 8 de Janeiro, no ano passado, que foi um ataque à democracia e aos Três Poderes e, agora, mais um ataque ao STF. Segundo a Polícia Federal (PF), existe essa ligação entre os dois eventos.  A Inteligência da Polícia Civil apurou alguma coisa nesse sentido?

Nossas investigações, por parte da Polícia Civil, são preliminares, até porque nós cuidamos do momento, isolamos (a área), garantimos a segurança da população no DF e, imediatamente, compartilhamos todas as informações com a Polícia Federal, que é o órgão competente nesse tipo de situação, envolvendo membros do STF. Em Ceilândia, as polícias Militar e Civil participaram da busca na casa. Nosso Esquadrão Antibombas também ajudou naquela operação, mas a busca por informações foi feita pela PF, ou seja, depois da situação controlada, com as bombas que existiam lá desarmadas. Aí, sim, os policiais federais entraram com seus agentes para fazer a coleta de dados.

Depois desse episódio, a segurança na área da Esplanada dos Ministérios vai ser reforçada?

É importante colocar que várias medidas já foram tomadas. Nós inauguramos o Batalhão dos Poderes. Uma determinação do nosso governador (Ibaneis Rocha) é a construção de um novo batalhão, bem maior do que aquele que fizemos. Esse tem uma pronta resposta de 500 homens naquela área da Esplanada. Foi o que aconteceu quarta-feira. Tínhamos homens de prontidão, um batalhão especializado. Fizemos um reforço em todo o perímetro do Congresso e das residências do presidente da República e do vice. Esse batalhão está em funcionamento. A licitação para a construção de um novo batalhão está em análise no Tribunal de Contas (TCDF). Houve uma suspensão pelos conselheiros, mas acho que, rapidamente, também será resolvida. Quando tivemos aquele momento em que os Poderes retiraram as grades, foi um momento simbólico, no qual o Brasil queria transmitir paz. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) foi contrária, à época. A grade não impede, mas cria uma barreira. São segundos ou minutos a mais para que as forças que estão naqueles locais possam tomar algumas providências. É bom também falar que a PMDF não pode nem acessar os prédios dos Poderes. Naquilo que nos compete, o protocolo foi 100% cumprido.

Um tema que pode trazer um choque no Congresso é o projeto de lei que anistia golpistas condenados pelos atos de 8 de Janeiro. Qual é a sua avaliação a respeito?

Acho que essa decisão vai ser tomada pelo próprio Congresso. Para mim, tenho uma responsabilidade institucional. É muito ruim ficar emitindo o que eu acho, até porque há um inquérito em curso. Qualquer posicionamento meu como governadora em exercício do DF pode causar algum tipo de constrangimento. 

Como o governo está se planejando para garantir mais segurança, especialmente no fim de ano, quando aumenta a circulação de pessoas na cidade?

Pegamos um momento de transição, com a aposentadoria de quase cinco mil homens na PMDF. Então, nós tivemos uma saída em massa, a qual conseguimos repor. Não é fácil conseguir isso. A maior nomeação da história da segurança pública foi no nosso governo. Temos cuidado da segurança pública com muita atenção, não somente com investimento na infraestrutura, mas também com reposição e contratação dos que compõem essa missão. Temos avaliação da segunda melhor segurança pública do Brasil, perdendo apenas para Santa Catarina, que tem um perfil socioeconômico diferente do nosso. 

Pode dar mais detalhes sobre a ampliação do Batalhão dos Poderes?

Temos uma ampliação que já aconteceu. Tínhamos cerca de 180 homens e, com o reforço, temos agora capacidade para 500 policiais. Ainda temos um projeto de construção do outro batalhão, que custará R$ 18 milhões. O processo licitatório está andando, inclusive com alguns apontamentos dos conselheiros. Acredito que, com essa situação, haverá uma agilidade por parte também do Tribunal de Contas em seguir com esse processo. Esse novo posto terá capacidade para 1,5 mil policiais. Há em curso todo um protocolo. E trabalhamos, também, investimentos maciços em tecnologia e inteligência, com monitoramento de várias cidades aqui do DF. 

O homem que realizou o atentado na Praça dos Três Poderes ficou aqui durante quatro meses. Haverá alguma proposta para controlar a compra de explosivos e monitorar pessoas que chegam de fora e já tiveram participação em atos anteriores semelhantes?

Muitos materiais não podem ser adquiridos de qualquer forma. Existe legislação para ter acesso a alguns tipos de explosivos. O Governo do Distrito Federal tem protocolos específicos também sobre isso. Temos uma inteligência reforçada. O que aconteceu aqui no DF é algo que nem a PF ou a PCDF haviam identificado, até porque nós vivemos em um momento de muita violência nas redes. O que é verdadeiro e o que é lacração?

Mas o homem não disse que queria matar o ministro Alexandre de Moraes?

Isso precisa ser visto com muita seriedade. O inquérito vai apurar isso. Essa semana, tivemos um ativista falando que vai botar um fuzil na cabeça de todos os deputados do PL. O nível de extremismo e agressão é muito grave. A democracia no país está consolidada. Posso divergir de você, mas não posso aceitar nenhum tipo de violência. O crime de ameaça já existe, mas precisa de forças (de segurança) monitorando-o. Precisamos de um momento de diálogo sobre essas agressões, que acontecem de forma mútua. Nenhum extremo é saudável para o nosso país.

É possível uma pacificação política, uma vez que o homem era filiado ao PL e foi candidato a vereador pelo partido em Santa Catarina?

Ele foi filiado ao PL em 2020, antes de o presidente Jair Bolsonaro se filiar. Outra informação importante é que, no WhatsApp — mostrando até o desequilíbrio dele — ele fala que queria matar o Bolsonaro também. Você não pode pegar uma investigação e falar "só esses aqui valem; esses outros, não". Há um desequilíbrio emocional e psicológico perceptível nas ações dele e que levam àquela situação de extremo, sem bom senso nem decisão republicana ou capacidade de dialogar. É isso que temos de combater.

Apesar de os índices criminais estarem caindo, entre a população, há um sentimento de insegurança muito grande. Como o governo planeja agir para que a população tenha esse sentimento de redução de crimes?

Acho que temos um problema estrutural na segurança pública. Inclusive, dialoguei com o presidente Lula sobre essa situação. Temos hoje um regramento de que a polícia prende e, depois, os criminosos são soltos. Temos pessoas que cometem 30 crimes e são soltas novamente. É como se fosse enxugar gelo. A audiência de custódia, hoje, no Brasil, é quase como se o policial fosse o autor e aquele que cometeu o crime, a vítima. Há um sentimento de revolta nisso tudo. O sentimento do próprio bandido é de impunidade, e do policial, é de que ele prende, mas o Judiciário solta, porque a legislação que hoje o Judiciário tem é essa. Temos que rever tudo isso.

Outro desafio para o DF é a questão do feminicídio. Tivemos outro caso nesta semana.  Há alguma alguma medida em estudo para reforçar essa política de prevenção ao assassinato de mulheres por condição de gênero?

Não temos somente política, temos a execução de programas, alguns até ganharam prêmios, como o Viva Flor, considerado o melhor programa de proteção a mulheres do Brasil. A mulher vítima de violência pode ir a uma delegacia e sair com monitoramento, independentemente de medida judicial. Entretanto, o crime do feminicídio, muitas vezes, acontece em ambiente fechado. É preciso que as mulheres tenham coragem de fazer a denúncia. Brigamos tanto por isso, para não negligenciar qualquer tipo de ameaça. Tivemos um reforço na pena do crime do feminicídio, mas é um crime de gênero que precisa passar pela formação dos nossos homens, entendendo que não somos propriedade de ninguém e temos os nossos direitos.

Na sua opinião, por que homens continuam matando mulheres? 

Há esse sentimento de posse. É como se a mulher fosse propriedade. Ao ponto de, como ocorreu na semana passada, chegar ao extermínio de qualquer possibilidade de vida. O governador Ibaneis Rocha, na semana passada, também discutiu isso comigo. Teremos a criação de uma subsecretaria de saúde mental dentro da Secretaria de Saúde. É um tema que precisamos tratar com toda a seriedade.

Veja a entrevista:

postado em 15/11/2024 06:00
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