Ciência, arte e debate social. A exposição Astrofísica dos Corpos Negros, que estreou ontem no Planetário de Brasília, une os três âmbitos em um só projeto e, além de provocar reflexões, exalta o trabalho e a trajetória de astrofísicos negros brasileiros. A mostra que apresenta uma nova perspectiva sobre a ciência e seus protagonistas poderá ser visitada até 28 de dezembro.
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No século 19, cientistas buscavam solucionar um problema teórico que passou a ser conhecido como a "questão corpo negro". Nos dias atuais, a comunidade científica ainda convive com as indagações, mas distancia-se do campo de pesquisa para adentrar no âmbito social. Os idealizadores colocam a sub-representação de pessoas negras nas ciências como um dos debates centrais da exposição. Para eles, a superação desse obstáculo, como no caso do estudo teórico do corpo negro séculos atrás, modificará a forma como a realidade é compreendida atualmente e contribuirá para avanços sociais e da ciência.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Reisman, destacou a importância de receber a iniciativa no Planetário, especialmente no Mês da Consciência Negra. "Despertar o interesse dos jovens pelo conhecimento científico e tecnológico e promover a inclusão são dois dos principais compromissos da secretaria. Nesse sentido, acreditamos que a exposição desempenhará um papel fundamental ao utilizar metodologias inovadoras para apresentar conceitos da astrofísica de forma acessível aos estudantes." Além da exposição presencial, o projeto oferece uma versão virtual, lançada durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
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Ao Correio, a coordenadora da mostra. Eliade Lima, explicou que, comumente, as pessoas imaginam a NASA a ESA (Agência Espacial Europeia) quando o assunto é astrofísica, e ressaltou que existem, sim, astrofísicos brasileiros, sobretudo negros. Ela apontou que integrantes do projeto já trabalharam nesses lugares com ciência de ponta, inclusive. "É preciso retirar o olhar europeu e eurocentrado da ciência. As crianças que se imaginam na área precisam de modelos reais e próximos a eles."
Oportunidade de aprender
E se o desejo dos idealizadores é fomentar a representatividade, o pequeno Bruno Lucas Matos, 11 anos, estudante do 6° ano na Fundação Bradesco de Ceilândia, provou, logo na estreia, que o objetivo foi alcançado. Ontem, gestores e professores da escola levaram os alunos para contemplar a exposição, além das outras atividades que o planetário oferece. O aluno amou a visita. "Eu acho que a exposição é importantíssima. É muito legal a mensagem que eles passam nas imagens e nos quadros", disse, apontando para as ilustrações dos pesquisadores que evidenciam suas peles negras, assim como a dele.
Beatriz Souza Lima, 12, concordou com o colega. "Eu gostei bastante porque não são só as pessoas brancas que podem trabalhar com a astronomia, mas também pessoas negras." Ela disse que já tinha refletido sobre a questão, porque gosta de temas sociais.
"Traz muito conhecimento para a gente e nós vamos levar tudo que aprendemos para a sala de aula. Eu entendi que pessoas pretas têm, sim, capacidade e acho que é muito importante para que elas alcancem mais cargos", disse Sofia Gomes que, aos 12 anos, entendeu exatamente a proposta da exposição.
As amigas nutricionistas Flávia Dantas, 35 anos, Ana Elizabete Sousa, 27, e Ana Flávia dos Santos, 25, saíram de Maceió (AL) para fazer turismo em Brasília. As três aproveitaram a oportunidade para conhecer o planetário e conferiram de perto a exposição. Flávia avaliou que a iniciativa é interessante e contribui a quebra dos estereótipos. "É muito importante para que valorizem esses profissionais, e as origens e história do país", completou Ana Elizabete.
Orientadora pedagógica e educacional da Fundação Bradesco de Ceilândia, Kennia Macedo elogiou a proposta. "Nós temos alunos majoritariamente negros e, por meio da exposição, eles passam a enxergar que são capazes e podem também. É uma forma de exaltar a potencialidade das pessoas negras. Foi um passeio grandioso."
Saiba Mais
Serviço
Astrofísica dos Corpos Negros
Data: De quarta-feira (13) a 28/12
Local: Planetário de Brasília (Eixo Monumental – ao lado do Clube do Choro e do Centro de Convenções Ulysses Guimarães)
Horário: Das 7h às 19h30 (terça a domingo)
Entrada franca.