Escolha a Escola do seu Filho

Em evento do Correio, especialistas debatem o futuro da educação

CB Talks promovido nesta terça-feira (12/11) pelo Correio Braziliense reuniu especialistas e educadores, que debateram sobre inclusão, aprendizagem contínua e competências socioemocionais, além de analisarem o processo de ensino de crianças e jovens

 Com mediação feita pelas jornalistas Mariana Niedereuer e Sibele Negromonte, especialistas e educadores apresentaram métodos e políticas que promovem uma visão que ultrapassa os limites da sala de aula -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Com mediação feita pelas jornalistas Mariana Niedereuer e Sibele Negromonte, especialistas e educadores apresentaram métodos e políticas que promovem uma visão que ultrapassa os limites da sala de aula - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Com o objetivo de abordar o processo de ensino-aprendizagem de crianças e jovens, além de se aprofundar na temática para contribuir com o desenvolvimento do segmento educacional, o CB Talks "Escolha a Escola do seu Filho: o Futuro da Educação e a Busca pela Formação Completa do Indivíduo", evento promovido nesta terça-feira (12/11) pelo Correio Braziliense, reuniu especialistas e educadores, que debateram sobre inclusão, aprendizagem contínua e competências socioemocionais, promovendo uma visão que ultrapassa os limites da sala de aula e visa preparar as novas gerações para os desafios do futuro. A mediação foi feita pelas jornalistas Mariana Niedereuer e Sibele Negromonte.

Alexandre Veloso, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), ressaltou a importância da participação dos pais nas escolhas educacionais de seus filhos. Para ele, um dos pilares de uma educação de qualidade é o "tripé do sucesso", que une pais, escola e diretores em prol de um objetivo comum. "É fundamental ouvir os pais, para que eles possam contribuir na criação de normas, como, por exemplo, as mudanças no novo ensino médio", observou.

O presidente da Aspa-DF enfatizou a importância de refletir e debater o papel da educação em uma sociedade em constante transformação. "A educação de hoje não é a mesma de 10 anos atrás, nem a mesma de um ano atrás. Precisamos acompanhar essa evolução e manter o diálogo para buscar uma educação de qualidade que atenda às necessidades do presente", afirmou.

Modelo internacional

Marcos Scussel, vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF), pontuou que o caminho para uma educação mais efetiva no Brasil pode estar sendo traçado lá fora. O painelista disse que viajou para outros países recentemente e citou Israel, Itália, Japão e Singapura como inspiração para modernizar o ensino nas escolas brasileiras.

Ele explicou que, além do lado acadêmico, as escolas nesses países trazem um foco maior para o desenvolvimento moral do jovem. Scussel levou como exemplos o Centro de Altas Habilidades, em Israel, onde os jovens aprendem a colaborar em grupo e a desenvolver, em equipe, a capacidade de solucionar problemas. Além disso, relacionou as culturas de Japão e Singapura ao alto valor que dão para a didática da autonomia e da responsabilidade.

O vice-presidente do Sinepe-DF também abordou o ensino italiano, onde desde cedo, pela dinâmica da escuta, do diálogo e da investigação, é desenvolvido nas crianças um senso de cidadão, além de ser construído valores em seu processo de aprendizagem. "Quando se fala em educação do futuro, a gente olha para o presente. O futuro será aquilo que estamos fazendo hoje. Então, que escolhas nós estamos fazendo hoje, enquanto sociedade, para formar as nossas crianças e jovens como cidadãos desse futuro?", questionou o educador, dizendo acreditar que essas ideias estrangeiras podem inspirar a educação brasileira a olhar para o futuro.

O papel da escola

A supervisora escolar da Secretaria de Educação (SEEDF) Juliana Nunes afirmou que a reflexão sobre o papel da escola é crucial e que o foco excessivo em conteúdos tradicionais pode obscurecer a importância de uma educação que valorize a diversidade e a justiça social. "É preciso promover o pensamento crítico e a autonomia das crianças, permitindo que elas questionem sua realidade", pontuou. "Muitas vezes, adultos tendem a ver as crianças como seres passivos, que precisam apenas receber informações, sem reconhecer que elas são ativas construtoras de conhecimento", opinou.

Ela também questionou se as escolas estão realmente preparadas para oferecer um ambiente que leva em consideração obstáculos como a resistência de educadores e gestores à mudança, infraestrutura inadequada com acesso à internet de qualidade, além da falta de metodologias inovadoras dos próprios professores. Juliana citou a Escola da Ponte, em Portugal, como um modelo educacional a ser adotado no futuro. "O DF tem se adaptado, com a Comunidade de Aprendizagem do Paranoá, por exemplo, que implementa uma abordagem semelhante, focando em projetos e sem provas formais", detalhou.

Desafios do presente

Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), o professor doutor Francisco Thiago Silva destacou que a verdadeira escola do futuro é aquela que enfrenta e supera os desafios do presente. "Falar sobre o futuro da educação não é um tema fácil. Não podemos discutir educação sem considerar o contexto histórico. Somos uma ex-colônia portuguesa e vivemos duas ditaduras militares, o que ainda traz impactos. Precisamos pensar em uma educação que se construa a partir da realidade do Brasil", analisou.

Segundo Francisco, discutir a inovação e o futuro da educação é sempre uma oportunidade valiosa. "Precisamos falar sobre educação, principalmente sobre inovação, com foco na formação de professores e nas perspectivas futuras da área. Esse debate é fundamental", destacou. "Precisamos promover o diálogo entre a educação pública e privada, pois tudo faz parte de uma mesma educação. Discutir direitos humanos, educação em tempo integral e formação integral, sempre em diálogo com as escolas e a comunidade escolar, é um privilégio", pontuou.

Revisitar a história

Doutor em linguística, especialista em cultura africana e escritor, o professor André Lúcio Bento disse que não é possível pensar no futuro da educação brasileira sem olhar para o passado recente do país. O painelista destacou que a escravidão foi abolida há apenas 136 anos, e que os direitos à educação, no Brasil, não se tornaram igualitários de imediato. "Durante muito tempo, algumas escolas não aceitavam negros ou eles só podiam estudar durante a noite", contou.

Por isso, de acordo com o especialista, é preciso ter cuidado com algumas comparações, na hora de falar sobre educação. "Alguns países não tiveram o mesmo passado que o nosso", observou. Segundo Bento, a realidade começou a mudar há pouco tempo. "Só com a Constituição Federal, a educação passou a ser um direito de todos. Para discutir o futuro da educação, esse passado precisa ser revisitado", acrescentou.

Questionado sobre o que pode ser feito, em termos práticos, dentro da sala de aula, para que se possa olhar, realmente, para uma escola do futuro, Bento afirmou que falta, em alguns casos, planejamento, coordenação e execução. "Algumas escolas não têm projetos de verdade. São ações muito isoladas e, às vezes, individualizadas, ou seja, projeto do professor", lamentou. "Muitas vezes, as escolas fazem muito, têm muita boa vontade, mas não estão colocando em prática o seu projeto político-pedagógico", apontou.

*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti

  •  12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Juliana Nunes Supervisora escolar secretaria de Educação.
    12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Juliana Nunes Supervisora escolar secretaria de Educação. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Francisco Thiago Silva - professor UNB.
    12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Francisco Thiago Silva - professor UNB. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Professor André Lúcio.
    12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Professor André Lúcio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Alexandre Veloso - Presidente ASPA/DF.
    12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Alexandre Veloso - Presidente ASPA/DF. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Marcos Scussel Vice pres. SINIPE DF
    12/11/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Debate Correio Braziliense. Escolha a escola do seu filho. Marcos Scussel Vice pres. SINIPE DF Minervino Júnior/CB/D.A.Press

 


postado em 13/11/2024 03:00
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