No terceiro ano do ensino médio, um teste vocacional na escola apontou para que Cristiane Damasceno seguisse na área de Humanas, especificamente no direito, e esse foi o rumo que ela tomou para a vida. A candidata à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Distrito Federal, contou como foi a infância sendo filha de uma diretora de escola e destacou a paixão por viagens em entrevista conduzida pelas jornalistas Ana Maria Campos e Adriana Bernardes, no Podcast do Correio.
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Cristiane nasceu em Sobradinho e disse que enxerga a região administrativa como um lugar onde todos se conhecem, como em cidades do interior. "Eu e minha irmã éramos conhecidas como as filhas da dona Olga, e isso era muito bom. Depois que a gente fica adulta, traz essas memórias afetivas de novo", descreveu. "Morei lá durante 26 anos, depois me mudei para o Guará e faz um ano que resido aqui no Plano Piloto", afirmou.
Por ter estudado em uma escola de sete irmãs negras, a advogada contou que sempre teve uma referência feminina muito forte, tanto dentro de casa com a família quanto na escola. "Isso foi muito encorajador, porque convivi muito com mulheres negras durante toda a minha infância. A escola era delas, fizeram um grande patrimônio na cidade, e sempre foram muito incentivadoras, especialmente das meninas", pontuou.
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O teste vocacional na escola foi crucial para Cristiane se identificar com a advocacia. Na universidade, no Ceub, ela abriu os olhos para o mundo que existia fora de Sobradinho. "Lá, você encontra gente que é filho do senador, da governadora, que o pai é empresário. É um outro mundo. Comecei a viver um mundo que era completamente diferente do meu", descreveu, dizendo que aquilo a motivou a crescer cada vez mais.
Cristiane mencionou que a área criminal foi a escolhida para seguir carreira, mas cita que, quem opta por seguir esse rumo, carrega alguns traumas secundários, uma vez que lidam com muitas mazelas e com pessoas que vão perder a liberdade. "O advogado também sofre naquele caminho junto com o cliente, isso é inegável. Por isso, há pessoas que não pegam determinados tipos de casos, porque é óbvio que isso abala psicologicamente em determinadas situações", relatou.
A advogada destaca um projeto social em penitenciárias femininas em que atua. "A gente vê o trabalho dando total resultado, sabe? Você pega as pessoas pela mão, e temos vários casos de sucesso. Algumas estão trabalhando, se formaram, compraram casa, mudaram a vida completamente. Gosto de fazer esse tipo de trabalho, porque a gente vê que também vale a pena investir nas pessoas", comemorou.
Ler é um dos prazeres de Cristiane, que, somente este ano, leu 17 livros sobre liderança. "Quando comecei a ler sobre isso, eu já havia me conformado que não ia concorrer. Mas resolvi ler porque sempre é um aprendizado, de repente, somos desafiados em alguma função", revelou. Deixando de lado temas sobre trabalho, ela falou sobre uma de suas escritoras favoritas. "Uma que está fora da curva é Bell Hooks, que fala sobre o amor, e eu adoro ela. Sempre tenho um livro dela para ler", acrescentou.
Recentemente, Cristiane foi à Austrália e brincou que mudaria para lá, pois, em sua avaliação, é como se fosse o Brasil do outro lado do mundo. "A natureza é exuberante e eles têm muito cuidado com isso", descreveu. "Fiz um passeio e mostraram um lugar que, há 100 anos, era uma cidade e estava tudo reflorestado. Eles têm muito cuidado com essa questão do meio ambiente, de verdade", finalizou.
Embora tenha prazer em visitar outros países, Cristiane não pretende viajar para vários cantos do mundo como a principal atividade após se aposentar do direito. O pensamento atual é de criar uma escola para formar mulheres líderes na política. "Acho que toda a experiência que tive e todo o caminho que construí têm um significado importante para passar àquelas que vêm depois de mim, para que elas possam chegar mais longe e fazer com que o nosso legado realmente se institua e a gente tenha um país diferente", finalizou.
Confira a íntegra do Podcast do Correio
* Estagiário sob a supervisão de Ana Maria Campos e Patrick Selvatti
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