Investigação

Impermeabilizante de sofá que causou incêndio e matou família custou R$ 380

Produto foi adquirido pela internet. No site de compra, não há nenhuma informação quanto aos riscos de incêndio

O produto utilizado para impermeabilizar o sofá da família que morreu no incêndio custou pouco mais de R$ 380 e foi adquirido pela internet. Conforme revelado em primeira mão pelo Correio, com base nos laudos periciais da Polícia Civil de Goiás (PCGO), o solvente presente no produto foi a causa do incêndio. As vítimas da tragédia ocorrida em um condomínio de Valparaíso de Goiás foram Graciane Rosa de Oliveira, de 35 anos, seu marido Luiz Evaldo, de 28, e o filho do casal, Léo, que tinha apenas 19 dias. 

Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Material obtido pelo Correio -
Amarildo Castro/Blog do Amarildo -
Reprodução/Redes sociais -

A substância de cinco litros foi comprada por Graciane em 22 de agosto e entregue pela transportadora na casa dela dois dias depois. Na descrição do produto presente no site, são dadas algumas orientações quanto ao uso. A empresa responsável alerta que, para evitar a descoloração do estofado, é indicado um pré-teste em uma área escondida antes de tratar toda a peça. “Sempre faça um teste em uma parte oculta do estofado para testar a resistência da cor, encolhimento ou outras alterações.”

No site, o produto garante secagem rápida, inalteração de cor ou textura, penetração em 100% da fibra e aumento da durabilidade. Quanto à diluição, a única recomendação é: “Pronto para uso. Agite antes!”. Não há, no entanto, nenhuma informação ou alerta sobre os riscos de incêndio e se a substância é ou não inflamável. 

Dinâmica

Fotos obtidas com exclusividade pelo Correio mostram o antes, durante e depois do incêndio. As imagens foram juntadas ao inquérito policial e retiradas das câmeras de segurança do residencial. Renan Lima Vieira, o profissional responsável pela aplicação do produto, foi contratado pela família dias antes para o serviço. Ele esteve no imóvel dias antes para fazer a higienização do móvel, processo este comum nesses casos. 

Em 27 de agosto, as imagens mostram Renan chegando ao residencial às 9h34. Vestido com uma blusa e calça jeans, ele carrega o equipamento nas mãos sem nenhum tipo de proteção. Depois, sobe no elevador até o 7º andar, onde morava a família. Outra filmagem registra o momento exato em que as chamas são vistas debaixo da porta do apartamento, às 10h20, menos de uma hora depois da chegada de Renan. Segundos depois, o trabalhador sai às pressas para o corredor. 

A mãe de Graciane, Maria das Graças, é vista saindo logo depois de Renan. A idosa permanece internada com um quadro delicado no Centro de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Não chega a passar um minuto da saída dos dois e todo o corredor é coberto pela fumaça. 

Laudo

Os peritos confirmaram que o fogo começou entre a sala e a cozinha e que os vestígios encontrados no local foram suficientes para provar que o incêndio ocorreu proveniente de ação humana voluntária, ou seja, não foi intencional. Dessa forma, concluiu-se que a causa foi acidental em decorrência do uso inadequado de produtos solventes próximos à fonte de calor ou chama. 

À reportagem, o advogado Paulo Henrique, que representa a família de Luiz, afirmou que vai contestar o relatório e solicitará a responsabilização do autor por incêndio culposo com resultado morte com dolo eventual. 

“Vou pedir a prisão dele e pedir que o caso seja tratado como incêndio culposo com resultado morte por dolo eventual. Ele (autor) assumiu o risco ao não pedir para os moradores saírem do apartamento antes de fazer o serviço”, explicou.

 

Mais Lidas