Após prender o autor da barbárie que chocou Brasília, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apura as circunstâncias do tiroteio que tirou a vida de um jovem e deixou mais cinco vítimas, incluindo uma criança, no Puxadinho Gastrobar, em Riacho Fundo II. Os sobreviventes ainda não foram ouvidos pelo delegado responsável pelo caso e, na tarde de ontem, familiares e amigos prestaram a última homenagem a Jorny Thiago Abreu, assassinado aos 23 anos.
Em coletiva de imprensa, o delegado adjunto da 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo), Sérgio Bautzer, informou que ainda é preciso encontrar e apreender a arma utilizada no crime, ouvir as vítimas sobreviventes e esperar os laudos necroscópico, que deve sair em até 30 dias, e de local — a partir das imagens do bar feitas por peritos.
O funcionário do Puxadinho Gastrobar, 28, que facilitou a entrada de Felype Barbosa da Silva, 27, no estabelecimento, foi solto na tarde dessa terça-feira (15/10) em audiência de custódia. Ele havia sido preso em flagrante por ter permitido a entrada do autor dos disparos sem fazer revista, conforme revelaram as imagens das câmeras de segurança do local. Segundo Bautzer, o rapaz e o suspeito eram apenas conhecidos.
O trabalhador foi autuado como partícipe no homicídio consumado e nos cinco homicídios tentados e vai responder em liberdade provisória sob medidas cautelares, o que significa que não pode mudar de endereço, deve comparecer a todos os atos do processos, não pode frequentar o local do crime nem sair do DF por mais de 30 dias.
Suspeito preso
O responsável pelo tiroteio, Felype Barbosa da Silva, 27, foi preso em um hotel em Valparaíso (GO) na noite de segunda-feira (14/10). No local, foram encontradas porções de cocaína e maconha. O acusado, que se apresenta como empresário, por ser proprietário de uma distribuidora de bebidas no Recanto das Emas, está em prisão temporária a pedido dos investigadores. Ele confessou ter efetuado os disparos contra o segurança aos policiais militares que o prenderam.
Além de Felype, um de seus funcionários também foi preso. Segundo a PCDF, o funcionário teria levado um veículo para ajudar o chefe a fugir. No entanto, ele não sabia que a polícia já estava no hotel e foi detido pelos PMs ao chegar. O funcionário foi autuado por favorecimento pessoal, mas liberado após prestar depoimento.
Os investigadores não conseguiram interrogar Felype imediatamente, pois, de acordo com a Lei de Abuso de Autoridade, é proibido realizar interrogatórios durante o período noturno. Ele deverá ser ouvido até hoje. “O acusado não possui antecedentes criminais. Os únicos registros que temos dele em delegacias do DF são como vítima. Pelo que apuramos, ele disparou contra o segurança por não querer pagar uma conta que incluía quatro cervejas”, afirmou o delegado Sérgio Bautzer.
“Para entrar no estabelecimento, os clientes recebem uma pulseira que não possui identificação, mas está vinculada ao consumo. No dia do crime, o acusado já havia ingerido álcool e efetuado disparos em uma chácara, utilizando a mesma arma que ostentou no bar. Ele conseguiu entrar no local armado sem ser revistado”, explicou Bautzer.
O delegado acrescentou que pessoas portando armas no estabelecimento assinavam um termo de cautela, obrigatório para indivíduos armados, especialmente aqueles das forças de segurança. “Essas pessoas devem preencher o termo ao entrar. Não foi o caso do suspeito. Quando ele foi abordado pela segurança, chamou o funcionário que foi preso, o qual permitiu sua entrada portando a arma. Esse funcionário também cuidava da fiscalização de clientes que deixavam o bar sem pagar, além de supervisionar outros funcionários e a segurança do local”, relatou o delegado adjunto.
Segundo as investigações, Felype impediu a revista ao acionar o funcionário que permitiu sua entrada, embora ele não tivesse autorização para portar arma de fogo. “Ele entrou no bar por volta das 21h30, e os disparos ocorreram cerca de uma hora depois, por volta das 22h30. As imagens mostram que ele disparou várias vezes contra o segurança, que morreu no local. Estamos aguardando um laudo pericial para entender melhor a dinâmica, já que houve outras vítimas, incluindo uma criança que está hospitalizada. O menino foi atingido na cabeça, e nossa equipe está torcendo pela sua recuperação”, concluiu Bautzer.
Despedida marcada por revolta
"Injustiça, barbaridade, impunidade, vazio e sensação de impotência" é como Joseane Patrícia Abreu, mãe da vítima, irá se lembrar do filho, Jorny Thiago Abreu, velado na tarde desta terça-feira (15/10). A terapeuta espera que a justiça seja feita e que somente a prisão do autor não seja o suficiente. "Infelizmente, no nosso país, não podemos acreditar na justiça. Que venha logo esse julgamento e que ele (acusado) pegue o máximo de anos", cobrou.
Joseane contou que se sentiu muito honrada com a homenagem e visita da PMDF no último adeus ao filho. "Eles deram a honra da Polícia Militar. Deram uma medalha que só quem tem mérito recebe. O pessoal da Polícia do Exército também veio, porque ele serviu, e a PCDF também esteve aqui", relatou. "Eu tenho certeza de que criei um filho para a integridade e a sociedade, e não para a bandidagem. Eu vi hoje que isso valeu a pena, mas por causa de um bandido, temos um rapaz enterrado", reforçou.
Jorny veio de Ibotirama (BA) com a mãe e o irmão mais novo em busca de melhores condições de vida. Colegas do jovem contaram que ele tinha o sonho de prestar concurso público e se tornar policial. Além de amigos e familiares, vários seguranças, com quem a vítima trabalhava, vieram dar o último adeus.
Ao menos cinco equipes da PMDF estiveram presentes durante o sepultamento da vítima para prestar condolências à família do jovem. O capitão da PMDF, Edimar Oliveira, contou que, após a corporação descobrir que a vítima tinha o sonho de se tornar policial, decidiram prestar uma homenagem. "Isso é para mostrar que, por baixo dessa farda, existe um ser humano, um pai de família e um filho. O que estamos fazendo hoje é tanto para o Thiago quanto para a mãe, Joseane", observou.
Assim como Jorny, todos os policiais compartilharam o sonho de um dia proteger a população. "É como uma vocação, essa coisa de se doar para proteger o outro. É um sonho que tivemos. Deus nos abençoou para realizá-lo e, infelizmente, Thiago não vai conseguir. É por isso que a Polícia Militar está aqui, mostrando que estamos presentes", finalizou.
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