Investigação

Moraes rejeita pedido de major réu do 8/1 para assistir jogo de futsal do filho

Uma das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é de que os policiais réus pelos atos antidemocráticos não possam sair de casa aos fins de semana. O ministro Alexandre de Moraes rejeitou o pedido do major Flávio Silvestre de Alencar

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes rejeitou um pedido para flexibilizar as medidas cautelares impostas ao major Flávio Silvestre de Alencar, réu pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

A defesa do major havia solicitado à Corte a liberação para que ele pudesse comparecer ao jogo de futsal do filho, marcado para o sábado (26/10). No entanto, uma das condições estabelecidas por Moraes ao conceder liberdade provisória a Alencar foi a proibição de sair de casa nos fins de semana, além do recolhimento domiciliar noturno durante a semana.

Apesar do apelo, o pedido foi indeferido por Moraes. O major está em liberdade provisória desde 28 de maio, após ser alvo de uma megaoperação da Polícia Federal realizada em agosto do ano anterior. Alencar responde pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e por violar a Lei Orgânica e o Regimento Interno da Polícia Militar.

Todos os sete oficiais réus no processo em curso no STF estão soltos. Eles devem se apresentar à Vara de Execuções Penais (VEP) do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) todas as segundas-feiras, assim como os demais réus.

Denúncia

Alencar foi um dos alvos de uma operação da PFem agosto do ano passado eé réudesde fevereiro deste ano.Na denúncia assinada pelo coordenador do Grupo Estratégico dos Atos Antidemocráticos da PGR, Carlos Frederico Santos, o procurador afirma que existia uma rede de desinformação entre os membros do alto comando, com o repasse de mensagens falsas que colocavam em xeque a lisura do processo eleitoral brasileiro.

Em uma delas, a dois dias do segundo turno das eleições de 2022, o coronel Klepter Rosa enviou uma mensagem, sem nenhum contexto, para o então comandante-geral, coronel Fábio Augusto Vieira. Nela, há um áudio editado atribuído ao ex-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT), onde deixa explícito que o pleito eleitoral já estaria "armado", além de que a ordem será "restabelecida", afastando o ministro Alexandre de Moraes.

Nas mensagens analisadas pela PF e PGR, ao receber esse "informe", Fábio repassou ao coronel Marcelo Casimiro, ex-comandante do 1° Comando de Policiamento Regional (1° CPR), criando uma rede de desinformação e de mentiras falsas dentro do comando da corporação. No relatório da PGR, as mensagens conspiratórias prosseguiram entre Casimiro e Fábio após as eleições, que elegeram democraticamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um dos exemplos de que as mensagens circularam entre os integrantes da força foi em em 1° de novembro. Nesse dia, nas mensagens obtidas pela PF e anexadas na denúncia da PGR, Casimiro enviou um quadro explicativo que, segundo ele, seria para a "regular sucessão presidencial".

Nela, há três hipóteses: uma suposta aplicação do art. 142 da Constituição Federal; "intervenção militar"; e "intervenção federal" por iniciativa militar. Mesmo duvidando da procedência das mensagens, Casimiro diz: ""Não (sei) se procede esse entendimento, mais (mas) é interessante a explicação".

As mensagens entre os dois não cessaram e, mais para o fim do dia, Casimiro enviou mais uma "corrente de desinformação" onde dizia que existia um relatório das Forças Armadas, dizendo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria vencido as eleições.

Ao ler a mensagem, Fábio, mesmo sabendo que o conteúdo não era verídico, não retrucou o coronel, que comandava a área responsável pelo batalhão da Esplanada dos Ministérios. "A cobra vai fumar CMT (comandante). Mesmo q (que) não seja verdade", escreveu.

No trabalho da PGR de 196 páginas, a denúncia é destrinchada em uma espécie de linha do tempo, com cada acontecimento apurado pelo grupo de procuradores. No recorte feito pela reportagem, a tentativa de invasão à sede da PF, em 12 de dezembro, e o cenário de terror, na capital do país, foi criticada pela PGR. Na denúncia, Carlos Frederico cita que, embora presente no local, a PMDF não prendeu ninguém.

A justificativa dada pelos oficiais, inclusive à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa, era de que a corporação optou por colocar "ordem na casa", principalmente porque parte da equipe estava alocada na diplomação de Lula — o caso ocorreu quando o indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré, foi preso pela própria PF.

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