Riacho Fundo II

Homem confessa ter efetuado disparos que mataram segurança em bar do DF

Jorny Thiago Abreu foi baleado e morreu no local. Uma criança de 10 anos, atingida na cabeça, segue internada em estado grave. Felype Barbosa da Silva, de 27 anos, foi detido pela PMDF na noite de ontem e levado à 29ª DP

Cerca de 24 horas depois do tiroteio que matou o segurança Jorny Thiago Abreu e deixou outras cinco pessoas feridas, no Puxadinho Gastrobar, na QC3 do Riacho Fundo II, o suspeito de cometer o crime foi preso pela Polícia Militar do DF (PMDF), na noite de segunda-feira (14), perto da divisa entre Valparaíso (GO) e Santa Maria.

O Correio apurou que Felype Barbosa da Silva, de 27 anos, não resistiu à prisão e confessou o crime aos policiais militares. Ele foi levado à 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo) junto com outro suspeito, que teria auxiliado na tentativa de fuga. O suposto comparsa acabou liberado após ser ouvido pelo delegado. Até o fechamento desta edição, a Polícia Civil ainda não havia se pronunciado sobre o caso. Confira o momento da chegada do suspeito na delegacia: 

Na noite deste domingo, frequentadores do bar no Riacho Fundo II passaram por momentos de desespero durante um tiroteio. Pelo menos 15 disparos foram feitos no local, como mostra um vídeo compartilhado nas redes sociais.

Segundo investigações da Polícia Civil (PCDF) e depoimento de testemunhas, Jorny, de 23 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça ao tentar impedir um cliente de sair do bar sem pagar uma conta de R$ 55, pelo consumo de três cervejas.

Outras cinco pessoas ficaram feridas, entre elas, uma criança de 10 anos, que foi atingida também na cabeça e está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base. 

O suspeito entrou no bar sem passar pela revista. Em um vídeo compartilhado com o Correio, câmeras de segurança mostram o acusado chegando ao espaço e abraçando o funcionário responsável por fazer a revista dos frequentadores. 

O trabalhador que permitiu a entrada do suspeito foi preso em flagrante na madrugada de ontem, por ter atuado como partícipe no homicídio consumado e nos cinco homicídios tentados, por ter faltado com dever de vigilância. Até o fechamento desta edição, ele seguia preso e à disposição da Justiça Criminal para realização de audiência de custódia.

Segundo a 29ª Delegacia de Polícia, cerca de 10 pessoas já foram ouvidas, entre elas seguranças, clientes e os proprietários do local. O Correio apurou que só uma das quatro mulheres baleadas foi ouvida na delegacia. A mãe da criança atingida, em choque, não foi ouvida ainda. Outras duas mulheres seguem internadas com os projéteis alojados no corpo. 

Ed Alves/CB/DA.Press -
Ed Alves/CB/DA.Press -
Ed Alves/CB/DA.Press -

"Cheio de sonhos"

Natural de Ibotirama (BA), Jorny Thiago Abreu veio para o DF com a mãe e o irmão mais novo em busca de melhores condições de vida. Com o salário que recebia trabalhando no setor de serviços gerais de uma academia, e com os "bicos" que realizava — como o de segurança —, ajudava no sustento da família. "Queria prestar concurso público e virar policial. Era cheio de sonhos", contou um colega, que preferiu não se identificar.

Nas redes sociais, amigos e familiares manifestaram pesar pelo ocorrido. "Quem te conheceu sabe o bom rapaz, e de boa índole, que você foi", comentou um conhecido, em uma antiga postagem da vítima no Instagram. "Que a justiça, aqui da Terra, seja feita", comentou outro colega. 

Reprodução/Redes sociais - Thiago Abreu, 23 anos, fazia bico como segurança no bar e sonhava em ser policial

Josy Abreu, mãe do jovem, compartilhou um vídeo e fotos com vários momentos ao lado do filho. "Nenhuma mãe está pronta pra devolver um filho. Hoje perdi meu primogênito. Não sei se vou aguentar viver sem você", postou. Em outra postagem, divulgou o horário e o local do sepultamento de Jorny, que ocorrerá na tarde de hoje, no Cemitério de Taguatinga. 

Rafaela Pereira, 28, irmã do menino atingido com um tiro na cabeça, descreveu como se sentiu após receber a notícia sobre a tragédia. "Estava viajando e me veio um sentimento de desespero, porque ele é apenas uma criança. Muitos estão culpando os pais por levarem a criança e acho isso muito injusto, pois enquanto isso o criminoso está solto", afirmou.

Rafaela contou, em entrevista ao Correio, que até as 13h50 de ontem, a criança havia realizado um procedimento para drenar o inchaço na cabeça. Segundo a jovem, o estado de saúde da mãe também é grave. "Nós somos muito unidos e agora, infelizmente, nós só podemos fazer nossas orações", concluiu.

Pronunciamento

Em nota divulgada nas redes sociais, a empresa Costa e Alves Bar e Restaurante, responsável pelo Puxadinho Gastrobar, se manifestou sobre o tiroteio e a morte ocorridos no estabelecimento. A empresa ressaltou que repudia todo ato de violência, prezando pela segurança do espaço e de seus frequentadores. Além disso, informou que está colaborando e prestando todas as informações necessárias aos órgãos competentes.

Ainda segundo a nota, "um cliente completamente alterado efetuou disparos que culminaram no falecimento de um prestador de serviço no local, bem como em ferimentos de clientes, inclusive, uma criança". A equipe de segurança, segundo a empresa, é terceirizada. A empresa declarou solidariedade aos familiares de Jorny e às demais vítimas do tiroteio.

Medo

A violência e o barulho excessivo do Puxadinho Gastrobar têm tirando o sossego e vêm sendo motivo de reclamação dos vizinhos, que se sentem cada vez mais inseguros. Clarice Ramos, 58 anos, moradora do Condomínio 14, que fica ao lado do estabelecimento, descreveu o cotidiano difícil da região, afetado por constantes brigas que ocorrem no bar e restaurante recentemente inaugurado.

"Aqui, nós já temos um alto índice de violência, de roubos e furtos. Agora, com o Puxadinho, o sossego, no fim de semana, acabou. Quando não é briga, é tiroteio, é som muito alto até altas horas da madrugada", reclamou a cozinheira aposentada.

Clarice descreveu que a cada dia a região tem estado mais perigosa, trazendo insegurança aos moradores. "Todo fim de semana e durante a semana também acontecem essas brigas. A falta de segurança é constante aqui", desabafou a moradora. 

Ana de Lima, 64, aposentada, que mora no Riacho Fundo II há mais de 20 anos, enfatizou que o barulho tem aumentado na região desde a inauguração do estabelecimento. "O som é muito alto e não tenho nem conseguido dormir, atender o telefone, assistir televisão. A barulheira vai até as 4 horas da manhã", contou a ex-servidora pública.

Ana afirmou que o sentimento de insegurança nas redondezas aumentou, especialmente pela quantidade de pessoas que frequentam o estabelecimento. "Nós, como moradores, sentimos medo, porque aqui está sempre cheio, vem gente de todo lado, de todo jeito e você não sabe com quem está mexendo", lamentou.

(Contribuiu Darcianne Diogo)

 

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Três perguntas para

Jéssica Marques é especialista em direito penal do Kolbe Advogados Associados

1.O dono do bar pode ser responsabilizado pelo fato de o segurança ter permitido que o suspeito entrasse no estabelecimento sem passar pela revista?

As casas noturnas têm o dever de zelar pela incolumidade física dos frequentadores, adotando medidas aptas a elidir ações criminosas, sob pena de serem responsabilizadas pelos danos ocasionados aos consumidores. Portanto, a entrada de pessoas armadas nesses locais é considerada falha na prestação de serviços exsurgindo ao estabelecimento a responsabilidade objetiva pelo eventual defeito no serviço prestado.

2.É obrigatório ter segurança e revista em bares? Se sim, como deve funcionar?

Todo estabelecimento, para se manter legalmente aberto, precisa cumprir regras e normas de segurança. Atualmente, a revista ou busca pessoal é considerada ilegal, no entanto, o estabelecimento que presta serviços ao público tem a obrigação de se equipar com instrumentos de segurança necessários a prevenir a ocorrência de dano, podendo utilizar aparelhos de revistas para resguardar a integridade de seus frequentadores.

3.Por quais possíveis crimes o suspeito, que está foragido, pode ser condenado? 

O suspeito poderá ser condenado pelos crimes de homicídio, cuja varia de 12 a 30 anos de reclusão, e de tentativa de homicídio, cuja pena é a mesma do homicídio, diminuída de 1 a 2/3. 

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