DIA DOS PROFESSORES

Dia do Professor: Correio traz histórias de quem faz a diferença

Em sala de aula, mestres ajudam os alunos a superar dificuldades e a desenvolver habilidades até então não conhecidas

É senso comum que os professores têm um papel fundamental na transformação da vida dos alunos. Mas, alguns desses profissionais vão além da missão de transmitir conteúdos. Eles desafiam os estudantes a superar as próprias dificuldades, despertam em seus aprendizes a paixão pelo conhecimento e estimulam talentos e habilidades até então não revelados. O Correio conversou com alguns desses mestres que estão fazendo a diferença em sala de aula.  

Premiada com a medalha de mérito feminino da Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura (Abrasci), a professora Kenia Holanda(Abrasci) inovou o ensino da matemática com atividades lúdicas em sala de aula. Atuando no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 04 de Ceilândia, Kenia identificou que a disciplina era um grande desafio para muitos alunos e desenvolveu um laboratório para tornar o aprendizado mais acessível e envolvente. 

O projeto tenta trazer a matemática de forma concreta para o aluno, sem, necessariamente, estar usando um quadro ou caderno para o aprendizado. "Desenvolvemos, no laboratório de matemática, a construção de alguns materiais juntamente com os alunos. Estamos criando um laboratório de informática que vai trazer a matemática mais concreta, utilizando temas do cotidiano com o aluno para que ele fique mais interessado", explica.

Segundo a professora, muitos estudantes mudaram a percepção que tinham da matemática. Além disso, o ambiente se torna mais colaborativo, o que torna a relação entre alunos e professores mais leve e próxima. "O dever do professor é ajudar os alunos a enxergar o próprio potencial, muitas vezes quando eles mesmos não acreditam em suas capacidades. Somos inspiradores, motivadores. Acredito que meu papel também é despertar sonhos, ajudar a construir autoestima e, sobretudo, dar aos alunos a certeza de que eles podem transformar suas vidas", afirma.  

Kayo Magalhães/CB/D.A Press -
Arquivo Pessoal/cedido ao Correio -
Arquivo Pessoal/cedido ao Correio -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -

Música e aprendizado 

Cecilia Rodrigues dedica-se ao ensino desde 2010 e, há nove anos, trabalha com crianças com deficiência utilizando a música para auxiliar no aprendizado. Atualmente, ela leciona na Escola Classe 18, em Taguatinga, com crianças do primeiro ao quinto ano, todas com deficiência intelectual. 

"Eu comecei a utilizar a música quando trabalhei como estagiária em uma creche e comecei a observar que as crianças desenvolviam muito a fala quando cantávamos ou fazíamos atividades musicais. No ensino especial, o uso da música é ainda mais significativo, pois as crianças com comorbidades e necessidades educacionais especiais precisam de mais estímulos", explica a professora. 

De acordo com Cecília, a música pode ser utilizada em várias faixas etárias e contextos, pois motiva e estimula o desenvolvimento integral da criança, trabalhando a fala, o lado motor e o cognitivo. Na educação especial, a música também ajuda a melhorar a interação social. "O uso da música com meus alunos ajudou muito a superar algumas limitações, pois eles se sentem mais motivados e participativos", afirma.

Outro exemplo de professor diferenciado é o de ciências, William Vieira, do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 213 de Santa Maria. Ele, em parceria com alunas da turma de robótica, foi responsável por transformar a experiência de aprendizado da estudante Ana Vitória Soares, 16, que tem paralisia cerebral. "Inicialmente, não sabíamos até que ponto a Ana compreendia o que se passava, já que não havia quase nenhuma comunicação, o que me angustiava", relembra William.

Diante desse desafio, o professor observou que a menina tinha facilidade com escrita e leitura digital. Ele propôs o caso ao grupo de alunas da robótica, que se interessaram em ajudar. Assim, nasceu o projeto "A Voz da Ana". Após dois meses de pesquisa, as estudantes descobriram uma ferramenta que converte texto em voz, e criaram uma caixa robótica com um dispositivo de voz, teclado e botões com frases de uso comum. 

"Antes da criação da caixa robótica, Ana apenas estava presente na sala de aula, mas não interagia com os colegas. Com a caixa, ela passou a se expressar, e os alunos começaram a interagir. Ela também passou a responder às perguntas, revelando suas preferências", celebra William. 

A mãe da Ana, Rejane Soares, 43 anos, contou ao Correio que não poderia estar mais feliz com o resultado. "É muito gratificante saber que os professores e os alunos se prontificaram para incluir a Ana em sala de aula, sou muito grata. Agora ela tem mais vontade de ir para escola. Em casa, ela conta como foi o dia. A felicidade dela é notória", compartilha. 

Inclusão

A professora Maria Janerrandra, detalha como a educação é uma ferramenta de inclusão. Ela atua na Escola Classe Café sem troco, onde leciona para as crianças e adolescentes de 46 famílias de refugiados indígenas venezuelanos da etnia Warao Coromoto. Ela começou a dar aulas no local após ser chamada do banco reserva de aprovados no concurso da Secretaria de Educação, pois era a única com fluência em espanhol.

"O acesso à educação tem mudado a vida desses jovens. Inclusive, o meu projeto de mestrado é sobre como a educação interfere na saúde dos indígenas. Tenho observado como esses alunos mudaram seu comportamento, melhoraram seus cuidados pessoais e sua higiene. Eles chegaram à escola analfabetos e, hoje, muitos já sabem escrever seus nomes, preencher seu CPF, e, alguns, já estão lendo fluentemente, enquanto outros leem devagar. Isso tem feito uma diferença enorme na vida deles e de suas famílias", compartilha Janerrandra. 

Além das aulas, a professora e a escola também se empenham em buscar cursos e oportunidades para inserir os alunos que já possuem 18 anos no mercado de trabalho. "Eu sempre brinco que eles são como meus filhos, então, acabo desempenhando um papel que vai além de apenas ensinar. Antes de conhecê-los, eu tinha uma visão muito diferente da vida. São crianças extremamente carentes, com histórias de vida marcadas pela fome e por dificuldades que estão muito distantes da minha realidade. Eles me ensinaram a valorizar as pessoas, o cuidado, o carinho e o amor", diz Maria. 

 


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