Com o aumento de água das chuvas em bueiros, caixas de energia e esgotos, os escorpiões que se alojam nesses locais são obrigados a procurar abrigo. E é nesse momento que pode ocorrer o encontro com o ser humano, entrando nas casas, sapatos e roupas — muitas vezes se escondendo em lugares que ninguém vê. Esse fenômeno eleva o risco de acidentes, especialmente para pessoas desatentas, que podem não perceber a presença desses aracnídeos. A picada do escorpião amarelo (Tityus serrulatus), a espécie mais comum e perigosa no Brasil, pode causar reações graves e até fatais.
Eles têm hábitos noturnos, se alimentam de insetos (principalmente grilos e baratas) e costumam se esconder, às vezes tão bem, que pegam as pessoas desprevenidas. Sandra Mendes, 41, moradora de Valparaíso (GO), foi uma vítima de picada dentro de casa, quando calçava seu tênis de corrida. "Assim que eu andei, apertei ele no tênis e, imediatamente, eu senti uma fisgada como se algo tivesse me furando, tirei para ver o que era e vi o escorpião. Em poucos segundos, não sentia mais meu dedo", descreve.
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O Distrito Federal registrou 2.157 notificações de acidentes protagonizados por escorpiões, de janeiro a setembro deste ano. No mesmo período do ano passado, foram 2.223 notificações. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), 80% dos acidentes são classificados como leves, em que há apenas desconforto na área afetada e são tratados com medicação. Já sintomas como náuseas, vômitos e dores de cabeça aparecem em situações moderadas e graves, em que pode ser necessário o uso do soro antiescorpiônico.
Os hospitais locais de referência para tratamento de picadas, especialmente do escorpião amarelo, são o Hospital Materno Infantil de Brasília e dez hospitais regionais — Guará, Brazlândia, Paranoá, Ceilândia, Gama, Santa Maria, Planaltina, Sobradinho, Taguatinga e Asa Norte.
Orientações
O biólogo e mestre em zoologia pela Universidade de Brasília (UnB) Feliphe de Freitas Novais explica que o soro antiescorpiônico é um tratamento vital para vítimas de picadas de escorpiões. "Sua principal função é neutralizar as toxinas liberadas pelo veneno do escorpião, o tempo é um fator determinante na gravidade da reação do organismo ao veneno. Sem o tratamento adequado, as toxinas podem causar desde dor intensa até reações mais severas, como dificuldades respiratórias e até mesmo a morte", esclarece.
Existem cerca de oito espécies de escorpiões no DF, como também o Tityus fasciolatus. Embora menos comum em áreas urbanas e mais restrito ao Cerrado, tem características que podem dificultar sua identificação. "O Tityus fasciolatus possui um padrão de coloração rajado e, apesar de ser menos perigoso, ainda pode causar acidentes. A confusão entre as duas espécies pode resultar em subnotificações de acidentes envolvendo-o, uma vez que muitos profissionais de saúde podem ter dificuldade em diferenciá-las", informa.
Nos últimos 15 dias, o animal peçonhento já apareceu duas vezes na casa de Camila Rejaine, 49, moradora do Grande Colorado. Na primeira ocasião, ela estava pegando uma roupa para lavar, quando algo amarelo caiu no chão. Sua primeira reação foi gritar e, logo em seguida, seu parceiro matou o escorpião. Na segunda vez, quem flagrou foi sua enteada, enquanto varria as folhas caídas do pé de manga. "Moramos em uma chácara e, aqui, tem muita mata. Nosso medo é que pique as crianças", declara.
O especialista informa que os melhores métodos são manter sempre a casa organizada, sem acúmulo de lixo (que atrai o principal alimento dele, as baratas), assim como o quintal também organizado. Instalar soleiras nas portas e telas mosquiteiras nas janelas também podem ajudar, outra forma de prevenção é instalar telinhas nas pias e ralos de banheiros e outros ralos que possam existir na casa. Além de sempre verificar roupas e calçados antes de usá-los, caso você more em alguma zona com incidência dos escorpiões.
Mas quando, de fato, a pessoa é picada, é preciso telefonar para o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) e se informar qual o local mais próximo com o soro específico para escorpiões, além de obter todas as informações necessárias para o socorro necessário. "Gostaria de frisar a necessidade de um cuidado maior com crianças entre a faixa etária de 1 a 4 anos, pois o risco de complicações costuma ser maior, além de idosos e também pessoas imunossuprimidas", completa.
*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
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