Entrevista | Natália Paes | especialista em reprodução humana

Congelamento de óvulos deve ser feito até os 35 anos, explica especialista

Ao CB.Saúde, Natália Paes, especialista em reprodução humana, disse que ainda que o óvulo pode ficar congelado sem limite de tempo, mas a regulamentação determina que a fertilização seja feita até os 50 anos

A influência da idade nos tratamentos de reprodução assistida e os 40 anos da primeira criança no Brasil concebida por meio da técnica foram temas do CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — dessa quinta-feira (10/10). Às jornalistas Carmen Souza e Mila Ferreira, a especialista em reprodução humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida Natália Paes também falou sobre o atendimento para esse tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e as especificidades do procedimento para casais homoafetivos.

O que mudou desde a primeira experiência bem-sucedida de fertilização assistida no Brasil?

Até o próprio nome o mudou. Chamavam de bebê de proveta porque os primeiros tratamentos eram feitos em um tubo de ensaio, também conhecido como proveta. Hoje, a técnica é completamente diferente, já temos um arsenal tecnológico, a expertise dos profissionais envolvidos também mudou muito. Hoje, tudo é feito numa placa, num meio de cultivo, e é possível, inclusive, pegar um único espermatozoide e injetar dentro do óvulo. O tempo até a gestação está cada vez mais curto, mas existe um desafio que é a idade tanto do homem, como da mulher, principalmente da mulher. Quanto mais velha a mulher, mais difícil conseguirmos o resultado. As taxas de sucesso variam de 30% a 60%, mas se for mulher acima de 42, 44 anos, esse número pode ser muito reduzido, menor do que 5%.

Qual o primeiro passo para os casais que desejam buscar a reprodução assistida e qual a importância da idade?

É importante lembrar que a consulta com um especialista de reprodução assistida não é igual a uma fertilização in vitro. Temos outros caminhos de tratamento para os casais inferteis, dependendo do diagnóstico. Mas um fator muito importante é a idade. Mulheres de até 35 anos que tentam engravidar espontaneamente e não conseguem em até um ano, devem buscar ajuda. Quando a idade é de 35 a 40 anos, esse tempo diminui para seis meses. A partir de 40, nossa orientação é que a investigação seja imediata. Mas não necessariamente vamos dar esse passo para a fertilização in vitro, num primeiro momento.

Com relação ao congelamento de óvulos, para quais casos são recomendados?

O congelamento de óvulos inicialmente foi pensado para mulheres com diagnóstico de câncer. Depois, ele se estendeu para as mulheres que pretendem postergar a gestação. Pensando em óvulos próprios, o ideal é que se faça o congelamento até os 35 anos de idade. O óvulo pode ficar congelado sem um limite de tempo, mas, hoje, a nossa regulamentação diz que o tratamento deve ser feito até os 50 anos de idade. Esse limite de idade, de acordo com a regulamentação, é o mesmo para se submeter à reprodução assistida. Em alguns casos, é possível fazer além disso, mas há uma série de critérios.

Como funciona a reprodução asistida no Sistema Único de Saúde (SUS)?

Existem centros no SUS que realizam esse tratamento, e Brasília possui um deles. No Hmib, há um centro de reprodução assistida com critérios rígidos de inclusão e exclusão, mas essa possibilidade existe. Não é só quem tem condição financeira que pode acessar clínicas e centros. Atendemos todo tipo de paciente, inclusive, de baixíssima renda, e há programas de acessibilidade no país, além de serviços particulares que beneficiam essas famílias. A maior parte dos atendimentos inclui tanto o serviço público quanto o particular. 

Quais as especificidades nos procedimentos para casais homoafetivos? 

Quando falamos sobre os homoafetivos, temos que dividir um pouco. Pensando nas homoafetivas femininas, precisaremos da fertilização in vitro em todos os casos. No caso do homo feminino, é necessária uma amostra de sêmen, que pode ser doada de forma anônima ou de um parente de até quarto grau, desde que não haja consanguinidade. O que vemos na maioria dos casos é uma delas doar os óvulos, que são injetados com espermatozoides doados ou de um parente da outra, e a outra gesta. Chamamos isso de gestação compartilhada. No caso dos homens, além dos óvulos, precisamos de um útero de substituição, seguindo as mesmas regras. A doação de óvulos deve ser anônima ou de um parente até quarto grau, e o sêmen de um deles com o útero de substituição para gestar o embrião. (...) Há também a possibilidade de adoção de embrião, que muitos casais desconhecem. O embrião é doado, normalmente por casais que já obtiveram as gestações desejadas e têm embriões excedentes. A seleção é feita com base em características fenotípicas.

Veja a entrevista na íntegra:

*Estagiário sob supervisão de Malcia Afonso

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