Prêmio Nansen de 2024

Ativista que atua no DF com refugiados e migrantes será premiada pela ONU

Religiosa e advogada com atuação na capital, Irmã Rosita Milesi, de 79 anos, é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por sua incansável luta em defesa dos direitos humanos. Prêmio global será entregue em 14 de outubro, na Suíça

No Brasil, um país historicamente marcado pelo acolhimento a migrantes e refugiados, o caminho para a dignidade humana dessas populações sempre foi longo e difícil. Refugiados que fogem de guerras, perseguições políticas e crises humanitárias encontram aqui um abrigo, mas também enfrentam desafios diários, como a burocracia para a regularização de sua situação e a adaptação a um novo contexto social e econômico.

É nesse cenário que surge uma figura determinante: a religiosa e advogada Irmã Rosita Milesi, de 79 anos, vencedora global do Prêmio Nansen de 2024, concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O prêmio é um reconhecimento ao seu trabalho incansável em prol da defesa e acolhimento de migrantes e refugiados no Brasil, ao longo de quase 40 anos de atuação. A religiosa é a segunda brasileira a receber essa distinção, seguindo os passos do cardeal Paulo Evaristo Arns, que foi laureado em 1985.

Ao longo de sua carreira, a também diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), no Varjão, organização que fundou em 1999, ajudou pessoalmente milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade, garantindo-lhes acesso a abrigo, alimentação, saúde, além de lutar pela integração social e a regularização de documentação no Brasil. 

Divulgação: UNHCR/Marina Calderon -
Divulgação: UNHCR/Marina Calderon -
Divulgação: UNHCR/Marina Calderon -
Divulgação: UNHCR/Marina Calderon -
Divulgação: UNHCR/Marina Calderon -

Trajetória

Nascida em uma cidade rural do Rio Grande do Sul, Rosita Milesi aprendeu, desde cedo, o valor da generosidade e do trabalho. Sua mãe, profundamente religiosa e solidária, oferecia ajuda a moradores de rua e imigrantes que passavam pelas estradas próximas à sua casa. Essa educação baseada na fé e na solidariedade guiou sua trajetória de vida e, posteriormente, seu trabalho com os refugiados.

Um dos grandes marcos da carreira da religiosa foi sua contribuição para a criação da Lei de Refugiados de 1997, que ampliou os direitos das pessoas forçadas a deixar seus países de origem. Seu trabalho junto ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) da ONU e ao governo brasileiro resultou na criação de uma estrutura legal para acolher essa população, garantindo proteção e inclusão para milhares de refugiados ao longo das últimas décadas.

"O Brasil não tinha uma lei nacional e eu já estava envolvida com o tema, pois havia colaborado nos anos anteriores com a acolhida aos angolanos. Não foi difícil incorporar profundamente a proposta da primeira lei de refugiados do Brasil e enfrentar todos os desafios em busca de aprovação", afirma Irmã Rosita. 

Entre os maiores desafios que enfrentou está a construção de um hospital sem nenhuma experiência na área, além de prestar assistência a estrangeiros presos em situações de extrema precariedade. O impacto de sua atuação foi especialmente significativo durante a crise de refugiados angolanos nos anos 1990, quando o Brasil recebeu mais de 2.300 pedidos de refúgio. Para Rosita, a maior satisfação em seu trabalho é ver essas pessoas retomando suas vidas em segurança e dignidade. "Ver uma pessoa que fugiu de uma guerra ou de uma situação de violência extrema reconstruir sua vida é uma alegria que não tem preço". 

O prêmio será entregue em 14 de outubro em Genebra, na Suíça. Além da religiosa, outras quatro mulheres foram premiadas regionalmente. Dentre elas, a ativista africana Maimouna Ba, que ajudou a reintegrar crianças deslocadas à escola, e Jin Davod, uma refugiada síria na Europa que criou uma plataforma de suporte de saúde mental para refugiados.

*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti

 

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