A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), fez um balanço das eleições deste ano e observou um fortalecimento da direita, mesmo sob um governo federal de esquerda. Em entrevista aos jornalistas Ana Maria Campos e Roberto Fonseca, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem, Celina também falou das expectativas para 2026. "Acho que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem que buscar uma grande coalizão com o campo da direita. Temos grandes nomes", avaliou.
Ainda durante o programa, a vice-governadora falou sobre o cenário das mulheres na política. "O trabalho deve iniciar dentro de partidos. Não com o olhar de completar as cotas de 30% de candidatas, mas de querer mulheres eleitas."
Que avaliação a senhora faz do resultado do primeiro turno das eleições municipais deste ano?
Acho que a direita sai muito fortalecida dessas eleições. O Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguiu eleger nenhuma prefeitura de capital até agora, e o PL está com várias candidaturas no segundo turno. Acho que isso traz uma demonstração de força da direita. Os partidos de centro-direita cresceram muito no número de prefeituras e alianças, e a direita se fortalece mesmo sob um governo federal de esquerda. Esse é um passo muito importante para nós.
A senhora acredita que está havendo uma onda conservadora no país? Como avalia isso?
Acredito que é realmente a vida do cidadão. Quem vai defender bandido? O bandido tem direitos humanos que o protegem, mas quem vai defender o cidadão que vai trabalhar, que pega um ônibus às 5h? Qual governante você quer? Aquele que vai proteger o cidadão ou aquele que vai proteger o bandido? O que gera renda e emprego para que você saia do desemprego ou aquele que quer continuar inchando a máquina pública, com os privilégios? Ninguém aguenta isso mais. O PT está ultrapassado nas suas pautas, na gastança que continua fazendo, vivendo aquela velha política que não se renova, nem por realizações nem pelas pautas que as pessoas vivem todos os dias. Se você pegar o direito da minoria, ele é consolidado até na nossa Constituição, mas a maioria precisa ser preservada. A maioria que temos são pessoas que pegam um ônibus, que trabalham, que precisam desse olhar e cuidado.
Neste ano, o PT elegeu quase 250 prefeitos, um aumento de mais ou menos 50% em relação a 2020. Como a senhora visualiza essa questão para 2026, já que o PT tem menos do que 5% das prefeituras e tudo indica que o presidente Lula será candidato à reeleição?
Acho que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem que buscar uma grande coalizão com o campo da direita. Temos grandes nomes. Acredito que, na última eleição, perdemos por pouquíssimos votos. Por isso, o Brasil está tão dividido — quase 2 milhões de votos. Foi uma disputa quase voto a voto, repensada de forma coletiva por todo um grupo que apoiou o ex-presidente Bolsonaro. Acho que isso está se refletindo hoje, até nesta eleição de 2024, como uma das ações e reações à última eleição. Acho que o PT sai muito derrotado nesta eleição, porque não consegue ganhar capital político e perde nas maiores cidades. Temos 52 cidades que terão segundo turno, muitas delas com um embate direto entre o PL e a esquerda. Temos essa perspectiva de vitória, e acredito que isso é um caminho para 2026. Temos nomes importantes como Tarcísio (de Freitas), Zema (Romeu Zema), Caiado (Ronaldo Caiado), que já tentam se aliar a esse projeto. Podemos ter um embate dentro da própria direita no primeiro turno, mas uma união no segundo turno em 2026. Acho que muita coisa ainda vai acontecer, mas os erros cometidos na última eleição foram compreendidos e estão sendo corrigidos.
O resultado eleitoral de São Paulo ainda depende do segundo turno e é um sinal importante de vitória ou derrota para o presidente Lula. A senhora acha que esse cenário é um recado para as urnas em 2026?
Não quero ser arrogante, mas tenho certeza de que o (Guilherme) Boulos não será prefeito de São Paulo, porque ele tem um teto. Ele tem esse teto justamente agora. As pessoas não têm coragem de colocar a maior cidade do Brasil nas mãos de quem não confia na segurança pública, que não apoia os policiais, não defende o patrimônio privado. A maior cidade do Brasil tem um orçamento maior do que muitos estados, então é muita responsabilidade. Os eleitores não teriam coragem, e não há como você apagar as bandeiras que o Boulos defende, dar uma maquiada nele e falar na campanha: 'Olha, agora nós temos um Boulos que não invade propriedade privada, que defende policial'. A pessoa não muda, não consegue se transvestir de outro candidato. Então, eu ouso dizer aqui, e a gente vai saber disso depois das eleições, que o Nunes se manterá na Prefeitura de São Paulo, porque o Boulos não tem condição de subir mais do que já subiu. Ele quase não chega ao segundo turno. O projeto estava muito claro para São Paulo: eram dois projetos de direita e um projeto de esquerda que quase não chega ao segundo turno.
Aproveitando toda essa análise que a senhora fez, o que isso traz de mensagem para as eleições de 2026, especialmente para o DF?
A primeira coisa, quem tem um trabalho consolidado, independentemente de partido político, fica bem nas eleições. Isso foi registrado por dois prefeitos que são totalmente antagônicos no Nordeste, o JHC — prefeito de Maceió — e o João Campos — prefeito de Recife. Então, quem tem trabalho prestado e consegue comunicar à comunidade aquilo que faz, tem se consolidado nas urnas. Existe também o efeito da direita do bolsonarismo e da esquerda do Lula, que têm influência sobre as urnas, seja de forma positiva ou seja negativa. Isso traz uma grande lição: você não pode desprezar a força do bolsonarismo no Brasil. Ele levou para o segundo turno o Bruno (Engle), que estava em quarto lugar na pesquisa em Belo Horizonte. O que eu trago de reflexão, principalmente aqui no DF, independentemente de pensar sobre quem será o candidato, é que nós precisamos ter um governo bom, respeitado, que consegue se comunicar com a população, e a direita não se dividir.
Mais uma vez, o número de mulheres candidatas às prefeituras é baixo em comparação aos homens. Como a senhora avalia esse cenário e quais mudanças podem ser feitas para as eleições de 2026?
A participação das mulheres na eleição começa nos partidos políticos, com a capacitação e o olhar do Estado para elas. É muito importante que a gente aumente o número de vereadoras, para que elas possam pensar em um crescimento para serem deputadas estaduais e federais. Muitas delas podem sair de uma cadeira de vereadora e virar deputadas federais. O trabalho deve iniciar dentro de partidos políticos, não com o olhar de completar as cotas de 30% de candidatas, mas de querer mulheres eleitas. Esse é um trabalho que temos feito no Progressistas, o PL tem feito por meio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e o Republicanos, com a Damares Alves. Isso é para entendermos a necessidade de a mulher se envolver verdadeiramente na política e colocá-la em um potencial para que também tenha vitória.
Como está o cenário atualmente?
Temos hoje 722 mulheres prefeitas eleitas. Saímos de 12% para 13% de mulheres prefeitas. Um crescimento de vereadoras: antes, eram 10 mil; agora, temos 10.634 vereadoras eleitas. Um crescimento de 15% para 18%. Isso é importante? É. Mas o registro mais importante para pensarmos no assunto é o número de mulheres participando no segundo turno das capitais. Temos nove: ou seja, elas estão participando e indo para o segundo turno, o que demonstra um amadurecimento nessa pauta tão importante de nossas mulheres participarem e terem também uma condição de eleição.
Vimos nas eleições de São Paulo, uma cidade muito importante, com uma Prefeitura importante, um dos candidatos, Pablo Marçal, ser muito agressivo com as mulheres e, mesmo assim, ele quase foi para o segundo turno. A senhora acha que ainda existe um eleitor que aceita esse tipo de agressão às mulheres?
Acredito que isso, às vezes, é tido como um comportamento comum, o que é muito errado. E o pior de tudo é ver um candidato com esse comportamento quase chegar ao segundo turno. Isso reforça uma legislação que aprovamos quando eu era deputada federal e coordenadora da bancada feminina, que é a violência política. Acho que o Pablo, inclusive, ainda vai responder por esse crime. Ele não atacou somente as mulheres durante o debate, ele atacou a Tábata (Amaral), candidata à prefeitura de São Paulo, em sua honra, até na questão pessoal, chamando-a de 'talarica'. Penso muito que essa direita precisa vir renovada, precisa ser uma direita que respeite as mulheres e que entenda que as mulheres podem ter um poder de igualdade. Sempre falamos que não queremos privilégios, queremos igualdade. E que bom que ele — Pablo Marçal — não foi para o segundo turno, porque trazer mais desse tipo de misoginia e comportamento, reforçando que isso é um comportamento de direita, faz com que a gente volte para a pauta de costumes. Precisamos trazer uma direita renovada, que acredite e respeite as mulheres. É para isso que eu trabalho todos os dias, e acredito que essa também é uma pauta da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, de respeitar as mulheres e trazer mais mulheres para a política.
*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho