Assim como na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), fazendo o recorte somente da Região Metropolitana do DF, a centro-direita dominou as prefeituras e também as Câmaras Municipais, de acordo com os resultados das urnas deste domingo.
Segundo o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Murilo Medeiros, a corrida municipal mostrou a força da centro-direita nas cidades que integram o Entorno do Distrito Federal. "Há um predomínio dessa composição partidária no comando das cidades da região, com a esquerda não elegendo nenhum prefeito", destaca.
O União Brasil foi o partido com mais prefeituras conquistadas na Região Metropolitana do Distrito Federal: cinco no total. O PL elegeu em três municípios, seguido por PP (dois) e MDB (um). Segundo o especialista, o uso dos governadores como cabos eleitorais é uma estratégia usada com êxito nessa região.
"Historicamente, o partido do governador de Goiás (atualmente Ronaldo Caiado — União), com o peso da máquina estadual, costuma predominar nos municípios do Entorno, com reflexos eleitorais", analisa. "Em 2016, com o governador tucano Marconi Perillo, o PSDB elegeu a maioria dos prefeitos do Entorno — quatro no total. Nas eleições seguintes (2020 e 2024), a legenda do governador Caiado tornou-se o partido majoritário na região", aponta Medeiros.
Vereadores
Sobre os eleitos para as câmaras municipais, o cientista político acredita que o avanço de vereadores mais à direita é uma tendência forte na Região Centro-Oeste, com reflexos no xadrez político de 2026. O União é o partido com a maior bancada de vereadores em seis municípios, seguido por PP, com três, e PL, com dois.
"Essas três legendas, juntas, dominam mais de 50% do número total de vereadores no Entorno do DF", ressalta. "O domínio dessa trinca partidária sugere que essas agremiações devem obter vitórias importantes na eleição de deputados federais em 2026, com impactos em Goiás e no Distrito Federal", pontua.
Em relação à atuação da esquerda, o especialista comenta que a composição partidária "amargou um resultado pífio na região". De acordo com Medeiros, há um nítido enfraquecimento de legendas progressistas no Entorno. "Houve uma perda de conexão (da esquerda) com a sociedade local, sobretudo em pautas ligadas à segurança pública, ao empreendedorismo e à agenda de valores", observa. O Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo, elegeu vereadores em apenas um município do Entorno do DF, Formosa, com dois assentos na Câmara Municipal.
Redução partidária
Houve também um estreitamento partidário nas prefeituras do Entorno. Em 2016, foram sete partidos comandando cidades na região. Nas eleições de 2020, esse número caiu para seis legendas. Agora, são apenas quatro partidos: União, PL, PP e MDB. "O que mais influenciou essa redução foi a cláusula de desempenho, que restringiu o uso do Fundo Partidário e diminuiu o tempo de rádio e TV", afirma o cientista político.
"Nota-se, ainda, uma diminuição partidária, de forma nacional. Isso acabou impactando nesse resultado", acredita Medeiros. Para as eleições de 2026, o especialista acredita que elas ficarão mais "enxutas", prevalecendo aqueles partidos com mais capilaridade.
A quantidade de legendas, na maioria das câmaras municipais do Entorno, também diminuiu. De acordo com o cientista político, isso ocorreu por causa do fim das coligações proporcionais. "Com menos partidos nas câmaras municipais, os prefeitos eleitos ganham um melhor cenário para gerenciar a governabilidade e montar sua base de coalizão", avalia.
Já o cientista político pela Unicamp André César enxerga a situação de forma mais cautelosa. "Nos 11 municípios da Região Metropolitana, há uma grande fragmentação. Isso mostra que, independentemente do posicionamento partidário dos prefeitos, eles vão enfrentar dificuldades e terão que negociar com esses vereadores, o que não é fácil, pois haverá um custo político", pontua.
De acordo com o especialista, a situação é bem parecida com o que vemos no cenário nacional. "Apesar de o Lula ter ganhado a Presidência, ele tem que negociar, caso a caso, com a Câmara dos Deputados, por exemplo, por conta dessa fragmentação", compara. "Por isso, a governabilidade desses prefeitos não deve ser fácil, por melhor que tenha sido o desempenho nas urnas", acredita o cientista político.
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