As eleições nos municípios do Entorno do Distrito Federal foram tranquilas, de maneira geral, embora marcadas pelo calor e pela quantidade de propaganda espalhada, os chamados “santinhos”, que sujaram as ruas. Também houve filas e registro de seis prisões por crimes eleitorais, sendo três em flagrante. Na Cidade Ocidental, uma mulher entrou em trabalho de parto, enquanto votava, no fim da manhã.
À noite, os candidatos vencedores comemoraram a vitória. Dois municípios elegeram mulheres, pela primeira vez, para a prefeitura. Simone Ribeiro (PL) foi a vitoriosa em Formosa, com 41,44% dos votos válidos.
Jéssica do Premium (União) foi eleita em Santo Antônio do Descoberto, com 53,28% dos votos válidos. Ao Correio, ela agradeceu a confiança dos eleitores. “Eu tenho um chamado, que é cuidar do povo de Santo Antônio do Descoberto. Vou me dedicar 100% para isso”, disse.
Sujeira
Luziânia, a 60km de Brasília, maior colégio eleitoral do Entorno, amanheceu tomada pelos chamados “santinhos”. A prática ilegal sujou as ruas da cidade e surpreendeu os eleitores. A moradora Silvede Vornati dos Santos, 57 anos, ficou indignada com o cenário. Está totalmente errado. É muito lixo!”, reclamou. A pena para esse delito é detenção de seis meses a um ano, com possibilidade de aplicação de pena alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, mais a multa.
Por volta das 7h, no Colégio Estadual Professor Josué Meirelles, uma funcionária do serviço de limpeza tentava retirar os papeis. Ela, que preferiu não se identificar, sempre trabalha nos domingos de eleição e contou que todos anos a luta é a mesma.”A gente tenta limpar o máximo que pode, mas, como não tem outra pessoa me ajudando nesta rua, limpo de um lado e o vento leva a sujeira para o outro”, desabafou.
Para escapar do calor, muitos moradores optaram por horários em que o sol não é tão forte — primeiras horas da manhã e minutos antes do fechamento das urnas. Ontem, a temperatura na região ficou em torno de 37ºC.
Filas
No segundo maior colégio eleitoral do Entorno do DF, a movimentação começou horas antes de abrirem os portões. O pleito em Águas Lindas de Goiás foi marcado pelas longas filas nas portas das escolas que serviram de zonas eleitorais. Desde as 6h30 da manhã, alguns locais apresentavam grande concentração de eleitores, aguardando a abertura dos portões, às 8h.
A quantidade de propaganda irregular também chamou a atenção. Segundo policiais militares, alguns carros passaram com pessoas jogando a propaganda em grande quantidade na madrugada, por volta das 2h. Onde há escoamento de água, os papeis formavam bolos de lama. Os comerciantes que abriram as portas tiveram trabalho para limpar as calçadas em frente às fachadas. No Jardim Guaíra, moradores confirmaram que os papeis foram jogados em sua maioria na madrugada. “Está horrível, mas ontem não estava assim”, afirmou Maria Gracionele.
Assim como em Luziânia, houve eleitores de Águas Lindas de Goiás que deixaram para votar nos últimos minutos na esperança de o calor dar uma trégua. No Colégio Municipal Maria de Fátima Alves dos Santos, Carol Lopes, 31, levou a filha Maria Isabelle, de 7 meses, faltando apenas 30 minutos para o encerramento. “Foi um dos dias mais quentes, e por isso esperei o calor diminuir, já que tenho uma bebezinha”, contou.
No geral, o juiz eleitoral Rafael Cabral avaliou que as eleições ocorreram de forma tranquila em Águas Lindas. “Estamos trabalhando há meses em conjunto com as instituições — Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil —, todas acompanharam o pleito”, disse ao Correio.
Falha na biometria
Na cidade de Valparaíso de Goiás, os eleitores enfrentaram problemas com a biometria. O sistema de uma das sessões do Colégio Estadual da Polícia Militar Fernando Pessoa teve de ser reiniciado quatro vezes, devido a mau funcionamento. O processo, que dura cerca de seis minutos, resultou em pequenas filas em frente às salas de votação.
A fiscal Edygnecia Lima, 44, queixou-se que o transtorno também aconteceu em outros locais da região. “Na Cidade Jardins, estão tendo problemas desde as 8h. Estava todo mundo reclamando, e nada de funcionar”, relatou a professora.
No Colégio Fernando Pessoa, faltou energia nas tomadas das salas de quatro sessões, mas as urnas operaram com baterias e a votação não foi prejudicada.
O quadro de imundície gerado pela propaganda irregular se repetiu na cidade. Além de jogados no chão, foram colados em árvores e postes. “Estamos na rua desde as 4h para fiscalizar o derrame de santinhos pelas ruas e, como pode ser visto, há bastante material. Estamos registrando para encaminhar aos nossos superiores, que tomarão as medidas cabíveis para esse crime eleitoral”, explicou Ariany Soares de Campos, servidora do Ministério Público de Goiás. Os garis agiram rápido e, às 10h, as ruas estavam mais limpas.
Na Cidade Ocidental, uma mulher entrou em trabalho de parto enquanto votava em uma escola, por volta das 11h30. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) prestou os primeiros atendimentos e a encaminhou para o Hospital Municipal. Apesar da bolsa rompida, por volta das 14h30 a criança ainda não havia nascido, mas a mãe estava bem. Ela foi encaminhada ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) para passar pelos procedimentos necessários. O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IgesDF) informou que a paciente está no centro obstétrico do HRSM.
Silêncio
Com 15.307 eleitores e 47 seções eleitorais, votantes de Cocalzinho de Goiás estavam bem cautelosos. Quando eram abordadas para dar entrevistas, algumas preferiram não falar e outras pediram para não divulgar seus nomes.
A presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico do município, Sirley de Paula, 56, comentou que isso acontece porque a cidade é muito pequena e os habitantes ficam receosas de relevar suas preferências políticas. “As pessoas estão intimidadas porque aqui está polarizado, oposição ou situação”, disse.
Diferentemente de outras cidades do Entorno, Cocalzinho amanheceu limpa, sem propaganda espalhada. As filas eram longas, mas os eleitores não chegaram a passar mais de 30 minutos para votar. Para criar um clima mais agradável, a Escola Municipal Modelo disponibilizou cama elástica e piscina de bolinhas para as crianças brincarem enquanto os pais votavam.
Em Padre Bernardo, o processo foi muito tranquilo. “Nenhuma ocorrência foi registrada. Inclusive, o problema mais corriqueiro, com impressoras, não aconteceu”, observa a chefe do cartório eleitoral, Vanessa Souza Tavares.
Ambulantes
No Novo Gama, o dia de votação começou mais agitado. Com muitas filas e pessoas nas ruas, os ambulantes aproveitaram e estavam presentes nas portas de muitas escolas. Moradores reclamaram de diversos casos de boca de urna, pedindo uma fiscalização mais eficiente. “No Lago Azul tem muita boca de urna”, denunciou a aposentada Júlia Paula Gomes de Araújo, 56 anos.
Em Formosa, as ruas próximas ao Colégio Estadual Professora Maria Angélica de Oliveira, no bairro de Formosinha, foram tomadas por material de campanha. Nas portas de seções na escola, dois fiscais partidários — que acompanham a urna e todo e qualquer material referente à votação — foram advertidos por usarem adesivos com imagens de candidatos, prática proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo a Justiça Eleitoral, os profissionais devem usar apenas o crachá com nome e sigla do partido político ou federação, sem nenhum tipo de propaganda eleitoral, sendo vedada a padronização do vestuário. Questionado pela reportagem sobre o uso dos adesivos, um dos fiscais relatou que foi orientado pelo partido a utilizá-los e que não tinha conhecimento sobre a proibição. No Colégio Estadual de Planaltina, um fiscal de urna foi expulso por usar adesivo de candidato.
Prisões
Um total de sete pessoas foram presas em flagrante durante as eleições em Goiás. Dessas, três foram em municípios do Entorno. O balanço foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO),
Do total de prisões, uma foi por desacato, uma por condução irregular de eleitores e cinco por compra de votos. As ocorrências foram registradas em Águas Lindas, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Cuverlândia, Goiatuba, Guapá e Morrinhos. Segundo Renato Brum, nenhum candidato esteve diretamente envolvido nas ocorrências, somente pessoas que trabalham para eles.
Entre as ocorrências registradas, um homem foi preso em flagrante por policiais no bairro JK, em Luziânia, quando oferecia a quantia de R$ 20 e um santinho a uma pessoa. Em entrevista ao Correio, Aluísio Nascimento, delegado adjunto da 1ª DP de Luziânia, explicou que o crime cometido pelo homem chama-se “Corrupção Eleitoral” (art. 299). O autor foi liberado após pagar fiança no valor de dois salários mínimos.
Além disso, foram registrados 67 Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO), um recurso utilizado para registro de infrações eleitorais com menor potencial ostensivo. Três deles foram na Cidade Ocidental, por boca de urna. De acordo com a polícia civil, os infratores permaneceriam detidos até as 17h.
No DF, embora não haja eleições, a Polícia Federal prendeu três pessoas por crimes eleitorais, mas, até o fechamento da edição, não havia mais informações divulgadas pela corporação.