Brasília atravessa, no momento, o maior período de estiagem desde a fundação, em 1960. Nesta sexta-feira (04/10), completam-se 164 dias consecutivos sem chuvas na capital do país. Até então, o recorde havia sido atingido em 1963, quando a cidade passou 163 dias sem registro de precipitações. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há previsão de chuva para a próxima terça-feira.
Além da seca, o Distrito Federal atravessa uma onda de calor com altas temperaturas registradas durante toda a semana. Na quinta-feira (03/10) foi o dia mais quente do ano, com os termômetros registrando máxima de 36,8ºC. De acordo com o Inmet, o clima quente deve se estender pelo fim de semana. No entanto, uma certa nebulosidade é esperada no sábado e no domingo, sinalizando a chegada das aguardadas chuvas, que devem começar na próxima semana.
O instituto informou ainda que, até a chegada das precipitações, uma massa de ar seco que atua sobre o DF deve manter a umidade relativa do ar mínima abaixo de 15%. Para terça-feira, a previsão é de pancadas de chuvas isoladas e, entre quarta e quinta-feira, são esperadas chuvas fortes com trovoadas, rajadas de vento e granizo.
Mudanças climáticas
Ambientalista e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), Christian Della Giustina destacou a importância de proteger o Cerrado em tempos de mudanças climáticas. "O clima não está mais tão previsível e isso reforça a importância de não desperdiçar água, proteger os nossos mananciais, que são valiosos para o abastecimento público e proteger o nosso bioma de modo geral. O Cerrado é conhecido como o berço das águas, a caixa d´água do país, uma região rica em nascentes", ponderou.
Quanto ao abastecimento de água, o ambientalista observou que, apesar do longo período de estiagem deste ano, não será como em 2017, quando o Distrito Federal precisou enfrentar, inclusive, um racionamento. "Hoje temos uma situação mais confortável por conta da interligação de uma adutora de Corumbá 4. Temos um sistema interligado no DF inteiro, o que permite uma melhor gestão da água", afirmou.
Desafio diário
Gecivaldo Figueiredo da Silva, 43, tratorista, morador de Valparaíso de Goiás, trabalha na capital e relata as dificuldades enfrentadas por quem trabalha exposto ao sol. "Está muito quente, o calor é abafante demais. Para nós, trabalhadores, não tem nada fácil. Infelizmente temos que fazer, mas somos seres humanos. Deveriam reduzir o horário de trabalho, trabalhar debaixo desse sol escaldante é difícil. No horário de almoço, o jeito é procurar uma sombrinha", desabafou.
O tratorista, que atua em obras públicas de paisagismo, destaca que o cenário é ainda mais desafiador por conta da falta de apoio das empresas responsáveis, que não oferecem protetor solar nem banheiros químicos aos trabalhadores.
Thaís Magalhães, 30, que também atua no mesmo local que Gecivaldo, destaca a situação enfrentada por ela e pelos colegas. "Trabalhar com paisagismo público debaixo desse sol é muito complicado, mas seguimos firmes", disse a encarregada de canteiro.
Já para quem trabalha diretamente com o comércio, o calor intenso pode até ser lucrativo. Inácia Carvalho Leite, 47, responsável pela unidade de uma rede de sorveterias localizada no Sudoeste, vê no calor uma oportunidade para impulsionar as vendas. "Esta época de calor é a que a gente mais vende. Esperamos o ano todo por agosto, setembro e outubro. Quando chega novembro, começa a chover, e as vendas caem um pouco, mas neste período o rendimento aumenta quase 100%. É ótimo para nós", contou.
Por outro lado, os impactos do calor em Brasília também preocupam quem vive fora e nota as mudanças climáticas na cidade. Conceição Lima, 59, trabalha com comércio, mas atualmente é aposentada e se diz impressionada com o clima do DF. "Vivi muitos anos aqui, hoje, eu moro na Flórida. Cheguei achando que seria como a Brasília de antes, seco, sem chuvas, mas suportável. Quando desci da aeronave ontem, percebi que está desagradável. Um cheiro forte, achei que estivesse pegando fogo no aeroporto. Depois, vi nos noticiários que era por causa das queimadas", relatou.
Além disso, a comerciante destacou as ações dos seres humanos que contribuem para o calor intenso e os incêndios na região. “As construções em áreas verdes estão matando a natureza, e estamos pagando o preço pelas ações dos seres humanos. Está insuportável, até os animais sofrem. Nós vamos viver agradavelmente aqui em Brasília por quantos meses?”, questionou.
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