A importância de se preparar para enfrentar o mosquito da dengue e evitar a explosão de casos ocorrida durante a última temporada de chuvas foi abordada por Carla Pintas, professora de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB), câmpus Ceilândia, durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — dessa quinta-feira (3/10). Às jornalistas Carmen Souza e Mila Ferreira, a especialista também comentou sobre a baixa cobertura vacinal contra a dengue, o aumento da incidência de covid-19 e sobre o tema da saúde pública no contexto das eleições municipais.
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Já é hora de lidar com a dengue?
A dengue deve ser combatida o ano todo. Independentemente do período de chuva, é importante iniciar a prevenção agora, a fim de evitar a formação do criadouro do mosquito, para não se repetir a grande profusão de casos que ocorreram em janeiro deste ano no Distrito Federal. O que é falado sobre dengue, a maioria das pessoas sabe, mas não coloca em ação. Reforçar essa ideia é fundamental. Não deixar água parada, manter o reservatório tampado e as calhas limpas são as orientações padrão da Secretaria de Saúde. O ponto fundamental nesse combate são os agentes comunitários de endemias em contato com a população, batendo na porta das casas e orientando. Esse protocolo deve ser seguido durante todo o ano, mas não é o que acontece, e essa falta de acompanhamento vai reverberar com o número de casos cada vez maior.
Qual a importância de uma grande cobertura vacinal relacionada à dengue ?
O público-alvo da vacina da dengue é restrito, se comparado à cobertura de outras vacinas, por insuficiência de produção e escolha do grupo prioritário, em função da gravidade da doença. A não adesão é uma questão importante, visto que a vacina não está sendo oferecida para as pessoas que podem sofrer danos importantes por conta da dengue. O movimento da vacina da dengue tem que ser retomado, especialmente neste período, porque a gente vai passar por uma nova pós-chuva, uma nova revoada de mosquitos no DF.
O que pode ser feito no DF para enfrentar a crise climática?
As condições climáticas estão cada vez mais adversas, e a nossa rotina precisa mudar. Além dessa quantidade de dias sem chuva, o clima do DF é extremamente seco, com variações de temperatura muito grandes. Não tem organismo que dê conta dessas variações, fisiologicamente falando. Isso tem um impacto, especialmente, para idosos, para crianças e pessoas que têm alguma comorbidade associada. Então, é fundamental se atentar à melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Ingestão de água em quantidade maior; espaços onde você dorme, evitando aqueles que estejam abafados e com poeira, optar por locais ventilados; deixar toalha na beira da cama; evitar exposição à alta temperatura, onde o ar é mais seco. O uso de máscara é recomendado para não inalar fuligem e fumaça. São medidas muito simples, que irão melhorar, de maneira considerável, a qualidade de vida. Sobre a população vulnerável, é a que está próxima da área com o maior número de queimadas. O fogo chega muito perto da casa dessas pessoas, a qualidade de vida delas com essas intempéries fica precária e vão adoecer mais. (...) Políticas públicas específicas para essa população têm que ser para ontem.
Quanto à covid-19, quais medidas devem ser tomadas para frear o aumento do número de casos?
A gente está numa situação em que a vacina disponível é distribuída com equalidade, sabemos como lidar com a doença, conhecemos os sintomas. Temos medicamentos, inclusive, para tratar, no caso mais específico, mas, como tudo, a gente acaba relevando. É importante lembrar que o clima tem ajudado muito, a proximidade das pessoas. Os cuidados são os mesmos. É importante destacar que, além do aumento de casos, aumentaram as internações. Por algum motivo desconhecido, o vírus voltou um pouco mais forte. É um vírus que faz mutação muito rapidamente. (...) O cuidado continua sendo estabelecido. Se você está com coriza e sentindo que está um pouco mais gripado, a utilização da máscara passa a ser até educativa para as pessoas.
Quais atenções devemos ter em relação à saúde pública nas eleições ?
A saúde não tem começo, meio e fim em relação à gestão local, federal e estadual. O planejamento é feito sempre um ano antes. O gestor que assume tem uma agenda de planejamento já realizada, que traz uma continuidade, indispensável para a política pública. Quem ocupa o cargo pode mudar, mas a política tem que se manter. O que o novo gestor pode fazer é melhorar as condições de vida da população, e não destituir esse ou aquele programa para colocar o seu ou o que acha melhor. A orientação geral é ficar de olho na proposta do seu candidato.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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