SAÚDE

Os riscos de uma nova epidemia de dengue no DF e o que está sendo feito

Com as chuvas batendo à porta, o Correio conversou com especialistas para verificar as possibilidades de uma nova crise

Este ano será lembrado na história no Distrito Federal por uma de suas maiores crises na área da Saúde: a epidemia de dengue. Segundo dados do GDF, entre janeiro e 28 de setembro, houve quase 309 mil casos de pessoas infectadas, entre as quais 440 morreram devido à doença. No mesmo período de 2023, registraram-se 37 mil notificações e três mortes, sendo 23 o total de mortos pela enfermidade, incluídos outubro, novembro e dezembro. Agora, a três meses do fim de 2024 cresce a preocupação dos moradores do DF sobre possibilidades de que o problema se repita em 2025. Entre outros motivos para esse temor estão o aumento de 1.800% de falecimentos, comparando o número de óbitos nos três primeiros semestres do ano passado com os mesmos, recentemente, e a chegada da temporada chuvosa.

O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB), Walter Ramalho, explicou que há quatro sorotipos da dengue — DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 —que podem ser transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti, que com sua picada deixa humanos doentes. "A cada dois, três, quatro anos, a gente tem uma nova emergência porque há a circulação de novos sorotipos. Dessa forma, é possível haver uma epidemia, especialmente, se surgir um novo vírus para o qual não estejamos imunizados", apontou.

Por sua vez, o infectologista André Bon — do Hospital Brasília — esclarece que o paciente, depois de infectado com dengue fica protegido contra todos os subtipos de vírus da enfermidade, incluindo o adquirido, pelos próximos dois anos. "Se a pessoa teve dengue tipo 1, ela vai ter proteção para a vida inteira contra o tipo 1 e, pelos próximos dois anos, contra os outros subtipos. Depois de dois anos, ressurge o risco de ter uma outra infecção pelo subtipo que ela não teve", detalhou.

Segundo ele, com a volta das chuvas, há o risco de ressurgimento de casos da doença. "Como houve uma epidemia de dengue no começo do ano, é possível que, caso haja uma nova epidemia ou surto, seja de magnitude menor. Mas só observando, a gente vai conseguir ter certeza", disse.

Providências

A Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) afirmou, por meio de nota, que trabalha realizando ações de combate ao Aedes aegypti, o que inclui visitas a residências, com o objetivo de eliminar focos do vetor, manejo ambiental, ações de mobilização e educação social, bloqueio de casos com uso de inseticidas, tratamentos de focos do vetor com uso de larvicidas e uso de armadilhas de monitoramento de infestação (ovitrampas). "Esse trabalho vem sendo fortalecido com a incorporação de novas tecnologias, como as estações disseminadoras de larvicida, a borrifação residual intradomiciliar e a implementação de um novo sistema de informação para monitoramento das ações de controle vetorial. Todas as estratégias de combate ao Aedes aegypti atendem às normativas preconizadas pela OMS e Ministério da Saúde, e para cada fase há uma metodologia", divulgou a pasta.

A Secretaria destacou que tem se preparado para o enfrentamento da próxima sazonalidade da arbovirose. "Tendo isso em vista, dispomos do Plano de Enfrentamento das Arboviroses que foi debatido com diversos setores e em diversas instâncias, inclusive, no Conselho Distrital de Saúde. Internamente, a SES-DF distribuiu as ações em cinco eixos: gestão, assistencial, vigilância, comunicação e imunização. Para cada um desses eixos estão descritas diversas ações específicas", ressaltou a nota.

Wildo Navegantes de Araújo, epidemiologista e professor da UnB, ressaltou que a prevenção necessita de atuação integral. "É necessário que seja um trabalho conjunto e articulado, não necessariamente emergencial, mas de forma antecipada, executado não só pela sociedade, mas por gestores públicos do Governo do Distrito Federal (GDF), além das secretarias municipais do Entorno; é um trabalho que envolve educação, a eliminação de resíduos sólidos, garrafas pets, pneus, cuidados com piscinas que por vezes ficam largadas, entre outros", declarou.

Araújo reforçou que essa é uma doença que pode evoluir de forma positiva, com o paciente curado em alguns dias após o adoecimento, mas que também pode levar a óbito. "O mosquito também transmite outras doenças, então é super estratégico o combate e de novo reforço à importância do trabalho coletivo", pontuou.

Mais Lidas

Sintomas e letalidade

A estudante de enfermagem Evelyn de Moura Oliveira, 18 anos, foi uma das várias habitantes do DF que tiveram dengue e temerem pela vida. Ela contraiu a arbovirose em março, quando os registros da doença eram altos. Moradora da Vila Telebrasília, nunca havia sofrido com a enfermidade. "Senti uma dor insuportável nas costas, tive febre de 38,5 graus e, no dia seguinte, apareceram várias manchas pelo meu corpo", lembrou. O último sintoma foi responsável por trazer o pânico e fazê-la pensar que morreria.

Ela buscou atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde foi informada que seu caso não era grave. A moça também viu seus irmãos, de 9 e 16 anos serem infectados. Todos se recuperaram e, para evitar passar novamente pelo sufoco, retiraram as plantas de casa e passaram a inspecionar baldes e latas que podem servir de "berçário" para o inseto transmissor.

Em São Sebastião, a doença vitimou a cuidadora de crianças Patrícia Monteiro, 51. Ela apresentou os sintomas em janeiro e, segundo a nora, Lueny Vieira, 27, o quadro acabou evoluindo para dengue hemorrágica. Patrícia chegou a apresentar melhoras, mas logo ficou mal e faleceu.

Após a perda, a família decidiu mudar de hábitos em casa. "Nós sempre usamos repelentes e dedetizamos a casa. Além de conferir se está tudo limpo e livre de água parada", relatou Lueny.

Também em São Sebastião, a doença fez mais uma vítima. Com quase metade da idade de Patrícia, Celso Lopes faleceu aos 26 anos, quatro dias após o surgimento dos primeiros sintomas. O estilo de vida dele? Saudável. Lopes praticava musculação, pedalava e corria.