A tragédia ocorrida no quartel do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, localizado no Setor Militar Urbano (SMU), na sexta-feira (11/10), causou comoção no Distrito Federal. O jovem Iury Araújo Azevedo, de 19 anos, morreu no cumprimento do dever, quando uma árvore o atingiu enquanto arriava a bandeira nacional, junto a um colega de farda, durante uma forte chuva. Iury deixa um filho bebê e a família dilacerada. O velório será neste domingo (13/10), das 13h30 às 15h30, no Cemitério Campo da Esperança, do Gama. O sepultamento está marcado para as 16h.
Abalados, os familiares não falaram com a imprensa, até o fechamento desta edição. Nas redes sociais, tanto eles quanto os amigos lamentaram a perda. Pâmela Araújo, mãe de Iury escreveu: "Oh, meu filhinho, como dói sua perda. Deus te deixou tão pouco ao meu lado. Sem acreditar", desabafou.
Em uma publicação, Maria Clara, irmã do jovem, contou que a família estava orgulhosa dele e que, agora, cuidará do sobrinho da mesma maneira como o pai cuidava. "A dor pela perda de um irmão é imensa, mas as lembranças e o amor que vocês dividiram permanecerão para sempre em seu coração", disse.
Um amigo escreveu que Iury não era somente seu companheiro de farda, mas um irmão. Ele desejou condolências à família. Uma internauta lamentou que "quando uma mãe chora, todas as mães choram juntas. Meus sentimentos, só Ele para dar conforto aos corações enlutados", finalizou. Outro amigo declarou que Iury será eternamente lembrado. Além dos familiares e amigos, diversos internautas manifestaram sua consternação e prestaram condolências nas redes sociais.
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O colega do soldado ficou ferido e foi levado para o Hospital das Forças Armadas (HFA). Ele não teve o nome divulgado e a última informação repassada pelo Comando Militar do Planalto foi na sexta-feira, quando comunicou, em nota, que o rapaz permanecia fora de risco de morte.
Manutenção
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o fato ocorreu às 17h52, quando a árvore tombou e atingiu os militares. Iury sofreu lesões graves no pescoço e na cabeça, vindo a óbito no local do acidente. A 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro Velho) apura o fato.
A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que a manutenção arbórea da área militar dos quartéis não é da competência dela. A empresa destacou que se disponibilizou e está em contato com o Exército para realizar uma força-tarefa para uma avaliação em todas as áreas internas dos quartéis, a fim de monitorar e executar serviços, caso haja necessidade, com o objetivo de evitar novos incidentes. A Novacap destacou que trabalha de forma preventiva durante todo o ano, para evitar incidentes como queda de árvores ou galhos.
Até a noite deste domingo, não havia sido divulgada a causa da queda da árvore. Nao se sabe se a planta apresentava algum problema que pudesse levar à queda ou se estava saudável e sofreu com a chuva e o vento de sexta-feira (11/10). O Exército se pronunciou após o ocorrido por meio de duas notas, emitidas pelo Comando Militar do Planalto (CMP) e pelo Batalhão da Polícia do Exército de Brasília (BPEB). "Era um militar exemplar, que serviu ao Exército Brasileiro com bravura e dedicação. Sua perda é irreparável para sua família, amigos e companheiros de farda", diz um trecho de uma das notas, completando que o Exército presta todo o apoio necessário aos familiares das vítimas.
O BPE escreveu: "A morte desse valoroso irmão de farda (Iury) representa, verdadeiramente, uma grande perda para os militares do BPE, que enxergam nele um exemplo de soldado e cidadão". O batalhão vai instaurar um Inquérito Policial Militar (IMP) para averiguar as circunstâncias do acidente.
Preservação
Marcelus Oliveira de Jesus, engenheiro ambiental especialista em geoprocessamento, da Universidade Católica de Brasília (UCB), avalia que é crucial entender que a preservação das árvores e sua manutenção não são incompatíveis. "Árvores saudáveis desempenham um papel fundamental no equilíbrio ambiental e na melhoria da qualidade de vida nas cidades", analisa. Para o especialista, o manejo consciente e preventivo é essencial, especialmente em áreas urbanas onde o risco de acidentes é maior. "Além disso, fortalecer a infraestrutura urbana para lidar com tempestades intensas, como melhorar o sistema de drenagem e proteger árvores contra danos em áreas de risco, é uma ação preventiva importante", completa.
Previsão de tempestade
Com a chegada da primavera, a expectativa é o retorno das pancadas de chuva, segundo a meteorologista Andrea Ramos, da Climatempo. A previsão indica que essas chuvas devem se concentrar hoje nas regiões litorâneas de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Andrea explicou que, devido ao aumento das temperaturas, uma característica desta estação, as precipitações que atingem o Sudeste tendem a se deslocar para o Centro-Oeste.
"Os estados do centro do país também passam a receber umidade proveniente da Amazônia. Esses fatores favorecem o desenvolvimento de nuvens de chuva, conhecidas como cúmulos. Inclusive, esperamos precipitações significativas, que podem ocorrer de forma isolada em Mato Grosso, Goiás e no Distrito Federal. Já no Sul, a previsão é de tempo mais aberto, com poucas chances de chuva", explicou a meteorologista.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, na tarde de ontem, um alerta de tempestade para a capital federal. O informe prevê ventos intensos (40 a 60km/h) e possível queda de granizo. O aviso é válido até as 10h deste domingo (13/10).
Cinco perguntas para:
Marcelus Oliveira de Jesus, engenheiro ambiental especialista em Geoprocessamento
Por que incidentes como quedas de árvores ocorrem?
Especialmente por três motivos. Saturação do solo: chuvas fortes podem encharcar o solo, diminuindo sua capacidade de sustentar o peso das árvores. Árvores grandes com raízes superficiais ou em solos compactados ficam mais suscetíveis a tombar. Principalmente se forem espécies de árvores exóticas, que não pertencentes ao bioma Cerrado. Ventania intensa: rajadas de vento fortes são comuns em tempestades ainda mais com clima que está em mutação devido as alterações antrópicas, esses fatores podem exercer grande força nas árvores, especialmente em combinação com solo encharcado. Estado debilitado da árvore: árvores doentes, com raízes danificadas ou comprometidas, são mais vulneráveis à queda. Muitas vezes, problemas estruturais não são visíveis externamente, o que dificulta a identificação.
Como a chuva pode influenciar na queda de uma árvore?
Peso adicional nas folhas e galhos. A água da chuva acumula-se nas folhas e galhos, aumentando o peso da árvore. Isso, combinado com ventos fortes, pode fazer com que galhos ou a própria árvore quebrem. E também raízes enfraquecidas. Áreas onde o solo é muito compacto ou urbanizadas com calçadas podem ter raízes rasas. Em solos saturados, essas raízes podem perder aderência, facilitando o tombamento.
O que pode ser feito para prevenir essas tragédias?
Manutenção e monitoramento. É fundamental que autoridades responsáveis inspecionem regularmente as árvores em áreas públicas e residenciais. Um manejo adequado, com podas preventivas e a remoção de árvores doentes, pode evitar acidentes. Plantio consciente. Escolher as espécies de árvores adequadas para cada tipo de solo e ambiente urbano também é importante, garantindo que elas cresçam de forma saudável e segura. E campanhas de conscientização. Ensinar a população a identificar sinais de risco e incentivar a comunicação com as autoridades em caso de necessidade, pode prevenir acidentes.
Como identificar uma árvore que oferece riscos?
Inclinação acentuada — árvores com inclinação anormal podem indicar raízes comprometidas; rachaduras no tronco ou grandes galhos secos podem ser sinais de fraqueza estrutural; cavidades ou buracos no tronco, muitas vezes, resultam em apodrecimento interno; raízes expostas ou levantadas, especialmente após chuvas intensas, podem indicar instabilidade; folhas ou galhos secos em excesso podem ser um sintoma de uma doença que enfraquece a árvore.
O que deve ser feito ao perceber que uma árvore ameaça cair?
Comunicação imediata. Contatar as autoridades locais, como a Defesa Civil ou órgãos de controle ambiental, que podem avaliar a situação e tomar medidas adequadas. Também evacuar a área, se a ameaça for iminente, as pessoas devem sair do local imediatamente para evitar riscos.
Memória
Morte de soldado não é a primeira ocorrência grave causada por queda de árvore em Brasília, Em 2022, uma árvore de cerca de 20 metros caiu na cabeça do adolescente Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, de 15 anos, no Parque da Cidade, deixando o rapaz tetraplégico. Segundo testemunhas, o tronco da árvore caiu após algumas crianças se balançarem nela. O caso ocorreu no domingo de Dia das Mães, 8 de maio. Com o impacto, Pedro sofreu uma parada cardiorrespiratória no local e precisou ser reanimado. Pedro foi internado em um hospital particular de Taguatinga e recebeu alta cinco meses depois, com o diagnóstico de tetraplegia.
Colaboraram Pablo Giovanni, Mila Ferreira e Bruna Pauxis (especial para o Correio).
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