POLÍTICA

A baixa representatividade feminina no Entorno do Distrito Federal

Dos 33 municípios que compõem a Região Integrada de Desenvolvimento (Ride), somente quatro elegeram mulheres

Mulheres entorno -  (crédito: Valdo Virgo)
Mulheres entorno - (crédito: Valdo Virgo)

Nos próximos quatro anos, os municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) serão governados, em sua maioria, por homens. Das 33 cidades que rodeiam o DF, somente quatro terão mulheres como prefeitas: Água Fria, com Virgínia Castro (PP); Formosa, com Simone Ribeiro (PL); Santo Antônio do Descoberto, com Jéssica do Premium (União) e Simolândia, com Dona Dete (União). Exceto por Dona Dete, que se reelegeu, as outras três são as primeiras a chefiarem o poder Executivo de cada um dos municípios, que só tiveram liderança masculina. Nas câmaras municipais, a participação feminina também foi baixa (veja relação abaixo). Especialistas ouvidos pelo Correio analisaram essa pouca presença, além da ascensão da direita no comando dos municípios da Ride.

Para a cientista política Camila Santos, a escassez de mulheres em cargos de liderança no Entorno impacta diretamente a formulação de políticas públicas, refletindo-se no dia a dia das cidades e, por consequência, no Distrito Federal. "Muitas vezes, questões que afetam o público feminino — como políticas de combate ao assédio e temas controversos como o aborto — não recebem a atenção necessária, pois a maioria dos eleitos é composta por homens, que tendem a priorizar outras agendas", destacou. "Além disso, a falta de representatividade feminina pode desestimular novas candidaturas; muitas mulheres não se sentem representadas e, portanto, não veem a política como um espaço acessível ou apropriado para elas", apontou.

Camila ressaltou, ainda, a importância de combater a violência partidária enfrentada por mulheres que ingressam na política, historicamente dominada por homens. "Para que possamos avançar na igualdade de gênero na política, é crucial trabalhar para eliminar essa violência e criar um ambiente mais seguro e inclusivo, onde mulheres possam se sentir capacitadas a participar plenamente. A promoção de candidaturas femininas, tanto para cargos de prefeitura quanto outros eletivos, não é apenas uma questão de justiça, mas também de efetividade na elaboração de políticas que atendam a todos os segmentos da sociedade", defende.

Direito

A lei determina que 30% das candidaturas devem ser femininas e elas devem receber 30% dos recursos de fundo eleitoral e partidário. Levantamento divulgado pelo Observatório Nacional da Mulher na Política mostra que a cota não foi respeitada em 700 dos 5.569 municípios brasileiros no primeiro turno das eleições municipais. "Infelizmente, vemos muitas candidaturas de mulheres que funcionam como 'laranjas', que são registradas apenas para cumprir a cota de gênero do partido, mas não são candidaturas reais e competitivas", lamenta a especialista em mobilização digital e construção de comunidades, Luka Borges. "Temos um cenário desfavorável para mulheres, diversas regras são descumpridas. Existe uma cultura extremamente machista que tende a desqualificar as candidatas", completa.

O censo das prefeitas, realizado pelo Instituto Alziras, analisou o último pleito e divulgou um levantamento que mostra mulheres postulantes e eleitas acumulando funções políticas e de cuidado com a família. "A estrutura patriarcal e machista as coloca em um lugar de responsabilidade com os cuidados com crianças, idosos, saúde de todos da família, além de tarefas domésticas", analisa Luka Borges.

Nos Executivos municipais, a presença feminina, de modo geral, foi baixa. "Das capitais que elegeram prefeitos no primeiro turno, por exemplo, nenhuma foi eleita, e das que foram para o segundo turno das capitais, a única que tem chance de ganhar é a candidata a prefeita de Palmas. No Entorno, a direita venceu e as mulheres não estão plenamente representadas. As mulheres foram culturalmente ensinadas a não gostar de política, a não participarem de atos políticos, a não disputarem eleições. Essa cultura ainda se reflete no pensamento de muitas eleitoras", observa o cientista político Rócio Barreto.

Dona Dete (União), Simolândia

Eleita com 54,63% dos votos (2.663 no total), Ildete Gomes Ferreira, mais conhecida como Dona Dete, foi eleita para o segundo mandato como prefeita de Simolândia. Com 63 anos, ela é viúva e declarou à justiça eleitoral ter o ensino fundamental completo. "Juntos, vamos continuar construindo uma Simolândia melhor, mais forte e cheia de oportunidades para todos. Com muita gratidão e compromisso, seguimos em frente, sempre buscando o melhor para cada cidadão. Obrigado por acreditarem em nós mais uma vez", postou a prefeita reeleita nas redes sociais após o resultado.

"É com o apoio do governo estadual (de Goiás) que conseguiremos trabalhar pelo desenvolvimento de Simolândia. A cidade tem a força necessária e a aliança com o Executivo (regional), deputados e senadores. Juntos todos eles trabalham (com a gente) pelas necessidades de nossa cidade", declarou Dona Dete.

Vereadoras eleitas

Água Fria:
9 vereadores
1 mulher

Formosa:
17 vereadores, 2 mulheres

Santo Antônio:
do Descoberto:
20 vereadores, 5 mulheres

Simolândia:
9 vereadores, nenhuma mulher


Jéssica do Premium (União), Santo Antônio do Descoberto

Eleita com 53,28% dos votos (18.230 no total), a empresária Jéssica Aparecida Ribeiro Gomes, 33 anos — mais conhecida como Jéssica do Premium — foi a primeira mulher eleita para governar o município de Santo Antônio do Descoberto. Proprietária de uma rede de supermercados, ela tem boa interlocução com deputados federais e senadores do DF que, segundo ela, irão ajudar o município com emendas parlamentares. "Temos um bom relacionamento também com o governo Ibaneis. Como fazemos divisa com o DF, é importante mantermos essa parceria", acrescentou. Ela lamentou que a arrecadação em sua cidade cidade não seja suficiente para suprir todos os problemas dos habitantes locais.

A prefeita eleita também disse ao Correio que, como Santo Antônio do Descoberto tem uma alta incidência de casos de violência doméstica, pretende levar programas de capacitação e de inserção no mercado de trabalho para as mulheres que adquirirem independência financeira. Ela comemorou a eleição de cinco legisladoras municipais para a câmara municipal. "Foram cinco mulheres eleitas e 15 homens. Apesar de sermos minoria, Santo Antônio nunca teve uma quantidade tão grande de vereadoras eleitas. Temos muito trabalho a desenvolver juntas", afirmou.

Outra preocupação de Jéssica são as chamadas famílias atípicas — que têm membros com necessidades especiais, condições médicas ou circunstâncias que fogem do padrão. "Não temos um centro de tratamento. As crianças são tratadas em Brasília. Quero trazer um centro de tratamento (especializado) para o município", declarou.

Simone Ribeiro (PL), Formosa

"Sou a primeira mulher negra prefeita de Formosa", é como Simone Ribeiro, 45 anos, tem orgulho de se apresentar. Eleita com 41,44% dos votos (23.319 no total), ela liderou em todas as urnas do município. Foi vereadora por um mandato e, na segunda vez que disputou uma eleição, teve o apoio da população para ser a primeira mulher a comandar a prefeitura de Formosa.

Simone é psicóloga de formação e atuou na área por mais de 12 anos. "Como vereadora, entendi o papel da mulher na política. Trabalhei pela saúde mental, emocional e pela qualidade de vida da população. Minha missão agora foi potencializada. Quero trabalhar projetos voltados à mulher, à família, ao empreendedorismo e ao despertar do potencial humano", ressaltou ao Correio.

Além destas bandeiras, Simone promete lutar pela limpeza da cidade, educação e segurança, além do turismo e do agroempreendedorismo. Contou com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro — que gravou um vídeo de apoio a ela — e de políticos do DF, como a deputada Bia Kicis, a quem chama de madrinha e o deputado distrital Thiago Manzoni.

Virgínia Castro (PP), Água Fria

Formada em Relações Públicas e Pós-Graduada em Gestão de Programas Sociais, Virgínia Castro, 46 anos, foi eleita com 57% dos votos válidos (2.524 votos) para o seu primeiro mandato eletivo, o de prefeita do município de Água Fria. Derrotou o candidato à reeleição e tornou-se a primeira mulher a chefiar o executivo municipal da cidade. Casada com o ex-prefeito do município, João de Deus, Virgínia foi gestora de assistência social pelos dois mandatos que o marido esteve à frente da prefeitura. Assessorou ainda o deputado distrital Jorge Vianna (PSD), de quem garantiu apoio na campanha. Disse que mantém "um bom diálogo com a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão", que é do mesmo partido.

Entre as bandeiras defendidas pela prefeita eleita estão a defesa do pequeno produtor rural, educação de qualidade para a primeira infância e melhoria das estradas. "Quero fazer uma gestão participativa. Assim como as portas da minha casa sempre tiveram abertas para a comunidade, a prefeitura também sempre estará", assegurou.

 


Dona Dete (União), Simolândia

Eleita com 54,63% dos votos (2.663 no total), Ildete Gomes Ferreira, mais conhecida como Dona Dete, foi eleita para o segundo mandato como prefeita de Simolândia. Com 63 anos, ela é viúva e declarou à justiça eleitoral ter o ensino fundamental completo. "Juntos, vamos continuar construindo uma Simolândia melhor, mais forte e cheia de oportunidades para todos. Com muita gratidão e compromisso, seguimos em frente, sempre buscando o melhor para cada cidadão. Obrigado por acreditarem em nós mais uma vez", postou a prefeita reeleita nas redes sociais após o resultado.

"É com o apoio do governo estadual (de Goiás) que conseguiremos trabalhar pelo desenvolvimento de Simolândia. A cidade tem a força necessária e a aliança com o Executivo (regional), deputados e senadores. Juntos todos eles trabalham (com a gente) pelas necessidades de nossa cidade", declarou Dona Dete.

Jéssica do Premium (União), Santo Antônio do Descoberto

Eleita com 53,28% dos votos (18.230 no total), a empresária Jéssica Aparecida Ribeiro Gomes, 33 anos — mais conhecida como Jéssica do Premium — foi a primeira mulher eleita para governar o município de Santo Antônio do Descoberto. Proprietária de uma rede de supermercados, ela tem boa interlocução com deputados federais e senadores do DF que, segundo ela, irão ajudar o município com emendas parlamentares. "Temos um bom relacionamento também com o governo Ibaneis. Como fazemos divisa com o DF, é importante mantermos essa parceria", acrescentou. Ela lamentou que a arrecadação em sua cidade cidade não seja suficiente para suprir todos os problemas dos habitantes locais.

A prefeita eleita também disse ao Correio que, como Santo Antônio do Descoberto tem uma alta incidência de casos de violência doméstica, pretende levar programas de capacitação e de inserção no mercado de trabalho para as mulheres que adquirirem independência financeira. Ela comemorou a eleição de cinco legisladoras municipais para a câmara municipal. "Foram cinco mulheres eleitas e 15 homens. Apesar de sermos minoria, Santo Antônio nunca teve uma quantidade tão grande de vereadoras eleitas. Temos muito trabalho a desenvolver juntas", afirmou.

Outra preocupação de Jéssica são as chamadas famílias atípicas — que têm membros com necessidades especiais, condições médicas ou circunstâncias que fogem do padrão. "Não temos um centro de tratamento. As crianças são tratadas em Brasília. Quero trazer um centro de tratamento (especializado) para o município", declarou.

Simone Ribeiro (PL), Formosa

"Sou a primeira mulher negra prefeita de Formosa", é como Simone Ribeiro, 45 anos, tem orgulho de se apresentar. Eleita com 41,44% dos votos (23.319 no total), ela liderou em todas as urnas do município. Foi vereadora por um mandato e, na segunda vez que disputou uma eleição, teve o apoio da população para ser a primeira mulher a comandar a prefeitura de Formosa.

Simone é psicóloga de formação e atuou na área por mais de 12 anos. "Como vereadora, entendi o papel da mulher na política. Trabalhei pela saúde mental, emocional e pela qualidade de vida da população. Minha missão agora foi potencializada. Quero trabalhar projetos voltados à mulher, à família, ao empreendedorismo e ao despertar do potencial humano", ressaltou ao Correio.

Além destas bandeiras, Simone promete lutar pela limpeza da cidade, educação e segurança, além do turismo e do agroempreendedorismo. Contou com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro — que gravou um vídeo de apoio a ela — e de políticos do DF, como a deputada Bia Kicis, a quem chama de madrinha e o deputado distrital Thiago Manzoni.

Virgínia Castro (PP), Água Fria de Goiás

Formada em Relações Públicas e Pós-Graduada em Gestão de Programas Sociais, Virgínia Castro, 46 anos, foi eleita com 57% dos votos válidos (2.524 votos) para o seu primeiro mandato eletivo, o de prefeita do município de Água Fria. Derrotou o candidato à reeleição e tornou-se a primeira mulher a chefiar o executivo municipal da cidade. Casada com o ex-prefeito do município, João de Deus, Virgínia foi gestora de assistência social pelos dois mandatos que o marido esteve à frente da prefeitura. Assessorou ainda o deputado distrital Jorge Vianna (PSD), de quem garantiu apoio na campanha. Disse que mantém "um bom diálogo com a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão", que é do mesmo partido.

Entre as bandeiras defendidas pela prefeita eleita estão a defesa do pequeno produtor rural, educação de qualidade para a primeira infância e melhoria das estradas. "Quero fazer uma gestão participativa. Assim como as portas da minha casa sempre tiveram abertas para a comunidade, a prefeitura também sempre estará", assegurou.

Vereadoras eleitas

Água Fria:
9 vereadores
1 mulher

Formosa:
17 vereadores, 2 mulheres

Santo Antônio
do Descoberto:
20 vereadores, 5 mulheres

Simolândia:
9 vereadores, nenhuma mulher

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postado em 12/10/2024 06:00
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