SAÚDE

Os riscos de uma nova epidemia de dengue no DF e o que está sendo feito

Com as chuvas batendo à porta, o Correio conversou com especialistas para verificar as possibilidades de uma nova crise

Equipe contra a arbovirose. A partir da esquerda: Indonésia Araujo, Silvana Galvão e Bruna Costa -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Equipe contra a arbovirose. A partir da esquerda: Indonésia Araujo, Silvana Galvão e Bruna Costa - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Este ano será lembrado na história no Distrito Federal por uma de suas maiores crises na área da Saúde: a epidemia de dengue. Segundo dados do GDF, entre janeiro e 28 de setembro, houve quase 309 mil casos de pessoas infectadas, entre as quais 440 morreram devido à doença. No mesmo período de 2023, registraram-se 37 mil notificações e três mortes, sendo 23 o total de mortos pela enfermidade, incluídos outubro, novembro e dezembro. Agora, a três meses do fim de 2024 cresce a preocupação dos moradores do DF sobre possibilidades de que o problema se repita em 2025. Entre outros motivos para esse temor estão o aumento de 1.800% de falecimentos, comparando o número de óbitos nos três primeiros semestres do ano passado com os mesmos, recentemente, e a chegada da temporada chuvosa.

O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB), Walter Ramalho, explicou que há quatro sorotipos da dengue — DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 —que podem ser transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti, que com sua picada deixa humanos doentes. "A cada dois, três, quatro anos, a gente tem uma nova emergência porque há a circulação de novos sorotipos. Dessa forma, é possível haver uma epidemia, especialmente, se surgir um novo vírus para o qual não estejamos imunizados", apontou.

Por sua vez, o infectologista André Bon — do Hospital Brasília — esclarece que o paciente, depois de infectado com dengue fica protegido contra todos os subtipos de vírus da enfermidade, incluindo o adquirido, pelos próximos dois anos. "Se a pessoa teve dengue tipo 1, ela vai ter proteção para a vida inteira contra o tipo 1 e, pelos próximos dois anos, contra os outros subtipos. Depois de dois anos, ressurge o risco de ter uma outra infecção pelo subtipo que ela não teve", detalhou.

Segundo ele, com a volta das chuvas, há o risco de ressurgimento de casos da doença. "Como houve uma epidemia de dengue no começo do ano, é possível que, caso haja uma nova epidemia ou surto, seja de magnitude menor. Mas só observando, a gente vai conseguir ter certeza", disse.

Providências

A Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) afirmou, por meio de nota, que trabalha realizando ações de combate ao Aedes aegypti, o que inclui visitas a residências, com o objetivo de eliminar focos do vetor, manejo ambiental, ações de mobilização e educação social, bloqueio de casos com uso de inseticidas, tratamentos de focos do vetor com uso de larvicidas e uso de armadilhas de monitoramento de infestação (ovitrampas). "Esse trabalho vem sendo fortalecido com a incorporação de novas tecnologias, como as estações disseminadoras de larvicida, a borrifação residual intradomiciliar e a implementação de um novo sistema de informação para monitoramento das ações de controle vetorial. Todas as estratégias de combate ao Aedes aegypti atendem às normativas preconizadas pela OMS e Ministério da Saúde, e para cada fase há uma metodologia", divulgou a pasta.

A Secretaria destacou que tem se preparado para o enfrentamento da próxima sazonalidade da arbovirose. "Tendo isso em vista, dispomos do Plano de Enfrentamento das Arboviroses que foi debatido com diversos setores e em diversas instâncias, inclusive, no Conselho Distrital de Saúde. Internamente, a SES-DF distribuiu as ações em cinco eixos: gestão, assistencial, vigilância, comunicação e imunização. Para cada um desses eixos estão descritas diversas ações específicas", ressaltou a nota.

Wildo Navegantes de Araújo, epidemiologista e professor da UnB, ressaltou que a prevenção necessita de atuação integral. "É necessário que seja um trabalho conjunto e articulado, não necessariamente emergencial, mas de forma antecipada, executado não só pela sociedade, mas por gestores públicos do Governo do Distrito Federal (GDF), além das secretarias municipais do Entorno; é um trabalho que envolve educação, a eliminação de resíduos sólidos, garrafas pets, pneus, cuidados com piscinas que por vezes ficam largadas, entre outros", declarou.

Araújo reforçou que essa é uma doença que pode evoluir de forma positiva, com o paciente curado em alguns dias após o adoecimento, mas que também pode levar a óbito. "O mosquito também transmite outras doenças, então é super estratégico o combate e de novo reforço à importância do trabalho coletivo", pontuou.

Sintomas e letalidade

A estudante de enfermagem Evelyn de Moura Oliveira, 18 anos, foi uma das várias habitantes do DF que tiveram dengue e temerem pela vida. Ela contraiu a arbovirose em março, quando os registros da doença eram altos. Moradora da Vila Telebrasília, nunca havia sofrido com a enfermidade. "Senti uma dor insuportável nas costas, tive febre de 38,5 graus e, no dia seguinte, apareceram várias manchas pelo meu corpo", lembrou. O último sintoma foi responsável por trazer o pânico e fazê-la pensar que morreria.

Ela buscou atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde foi informada que seu caso não era grave. A moça também viu seus irmãos, de 9 e 16 anos serem infectados. Todos se recuperaram e, para evitar passar novamente pelo sufoco, retiraram as plantas de casa e passaram a inspecionar baldes e latas que podem servir de "berçário" para o inseto transmissor.

Em São Sebastião, a doença vitimou a cuidadora de crianças Patrícia Monteiro, 51. Ela apresentou os sintomas em janeiro e, segundo a nora, Lueny Vieira, 27, o quadro acabou evoluindo para dengue hemorrágica. Patrícia chegou a apresentar melhoras, mas logo ficou mal e faleceu.

Após a perda, a família decidiu mudar de hábitos em casa. "Nós sempre usamos repelentes e dedetizamos a casa. Além de conferir se está tudo limpo e livre de água parada", relatou Lueny.

Também em São Sebastião, a doença fez mais uma vítima. Com quase metade da idade de Patrícia, Celso Lopes faleceu aos 26 anos, quatro dias após o surgimento dos primeiros sintomas. O estilo de vida dele? Saudável. Lopes praticava musculação, pedalava e corria.

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postado em 03/10/2024 06:00
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