Os partidos de direita e de centro se destacam para as eleições municipais nas 11 cidades da Região Metropolitana do Distrito Federal, que foi instituída recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um levantamento feito pelo Correio, com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que a legenda com o maior número de candidaturas aptas, somado, até essa quarta-feira (2/10), era o União Brasil, com 182 — sendo 176 para vereador e seis para prefeito.
O domínio é tão forte que o primeiro partido mais ligado à esquerda, só aparece na sétima do ranking das legendas, com o Partido Democrático Trabalhista (PDT), com 145 candidaturas deferidas pelo TSE. O partido legitimamente de esquerda mais bem ranqueado é o Avante, com 132 concorrentes aptos nas cidades do Entorno.
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O cientista político Leandro Gambiati destaca que, para fazer a análise desse cenário é preciso considerar uma convergência de variáveis, como a tradição política, o perfil social e econômico e o tamanho dos municípios envolvidos. "Uma pauta conservadora, com candidatos de perfil mais tradicional, tem mais competitividade e apelo no Centro-Oeste, por isso, temos um predomínio evidente dos partidos de centro, de centro-direita e de direita", avalia.
"Essa questão tradicional da política, por aqui, conta com um perfil social mais conservador, fazendo com que legendas de esquerda tenham mais dificuldade para obter apoio eleitoral", acrescenta. O especialista pontua que, geralmente, os partidos com ideologias mais voltadas para a esquerda costumam ter um perfil que se adequa para disputar eleições em grandes cidades.
Influência
Nessas eleições municipais, muitos políticos do DF, e até do cenário nacional, estão participando das campanhas nas cidades da Região Metropolitana. Nomes como o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da vice-governadora da capital da país Celina Leão (PP), além de senadores e deputados federais, participam de comícios e outros eventos de apoio aos postulantes.
Questionado sobre o motivo para que políticos de peso estejam apoiando as candidaturas no Entorno, o mestre em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB) Valdir Pucci ressalta que esse apoio leva em consideração, primeiramente, o tamanho desta população. "O Entorno é uma região importantíssima, quando falamos em votos e em consolidar ou não candidaturas", considera.
"Pensando nos políticos do DF, temos que lembrar que muitos daqueles que moram nessa região trabalham e passam grande parte de suas vidas dentro da capital do país", pontua Pucci. "São pessoas que podem influenciar o voto, em Brasília, daqui a dois anos; seja apoiando candidatos ou transferindo o voto para cá", acrescenta o especialista.
Em relação aos políticos nacionais, o cientista político afirma que o principal aspecto que os leva a participar dessas campanhas é o fato de o DF ser uma metrópole que influencia outros municípios e até estados, com sua política. "Isso faz com que as pessoas que consigam ter uma 'penetração política' dentro de Brasília, tenham uma projeção maior no país", avalia. "Em resumo, o DF e o Entorno, como uma metrópole, têm a capacidade de influenciar as eleições em outros estados, a depender daquilo que for feito nessa região, no próximo domingo (6/10)", observa o mestre em ciência política.
Saiba Mais
Maximização do alcance
Os prefeitos e vereadores eleitos no Entorno, em 2024, desempenharão um papel estratégico na mobilização de eleitores para 2026. A força política dessas lideranças locais pode influenciar diretamente o apoio a candidaturas ao governo do DF e à Presidência do país. A articulação política no Entorno pode ser decisiva para a formação de alianças e o fortalecimento de candidaturas em 2026.
As necessidades da região (como transporte, segurança e habitação) estão diretamente ligadas às políticas públicas do Distrito Federal. Os eleitos em 2024 podem pressionar o governo do DF por soluções mais integradas, e os candidatos ao governo distrital deverão adaptar suas plataformas para atender essas demandas. Os líderes que emergirem dessas eleições podem se tornar aliados importantes em coligações para as eleições presidenciais ampliando a capilaridade de votos.
A forma como essas lideranças se posicionarem em 2024 pode determinar a direção de alianças políticas importantes nos anos seguintes. O Entorno, historicamente, é um espaço de disputa entre interesses de Goiás e do Distrito Federal, é um campo estratégico, pois tem uma dinâmica peculiar de ter dois governadores de influência. A região, marcada por desigualdades sociais, tem uma forte demanda por serviços públicos e a forma que será tratada esses assuntos, em 2024, poderá moldar os discursos de 2026, tanto em nível distrital quanto nacional. O que ocorre no Entorno pode definir não apenas a pauta eleitoral principalmente nas demandas mais carentes, mas também o direcionamento dos debates políticos em 2026.
Por fim, o ciclo de alternância entre eleições gerais e municipais oferece aos políticos uma oportunidade de aprendizado com o pleito anterior. Esse aprendizado vai além da adaptação de discursos, abrangendo uma compreensão mais profunda das dinâmicas político-ideológicas de cada região e a articulação de arranjos para sustentar candidaturas. A cada eleição, partidos e candidatos ajustam suas estratégias, buscando maximizar seu alcance e influência no pleito subsequente.
Gabriel Amaral, professor de ciência política e direito na Faculdade Republicana
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