Mandioca, macaxeira, aipim. Cada região do país dá um nome diferente a um dos alimentos mais consumidos no Distrito Federal e no Brasil. Em 2026, com o uso da ciência e da tecnologia, a mandioca chegará à mesa dos consumidores com mais sabor e em safras cada vez maiores.
Em 27 de setembro, foi apresentado aos produtores rurais do DF um novo clone de mandioca de mesa, a 54-10, que surge a partir de um projeto cujos objetivos são elevar a produtividade (produzir mais com menos recursos) e os nutrientes desse alimento ancestral. O projeto surgiu de uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) e a Universidade de Brasília (UnB).
Cerca de 50 produtores rurais do DF receberam ramas (mudas) clonadas da Embrapa Cerrados para testar a aceitação da nova cultivar junto aos consumidores. Após a fase de avaliação do público, o Ministério da Agricultura e Pecuária precisa mudar a nomenclatura da 54-10 para BRS, para que o novo tubérculo chegue, de fato, à mesa dos brasilienses e dos brasileiros. A previsão é 2026.
Nesta fase experimental, o tubérculo agrada aos agricultores. Jefferson Isoton plantou a novidade na chácara dele, no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina DF. "Eles (os clones) são muito bons. A produtividade é o ponto-chave e a qualidade da mandioca também, porque não adianta nada produzir muito e não ter aprovação no mercado", avaliou.
Atualmente, a propriedade de Jefferson conta com cinco hectares de cultura de mandioca de espécies variadas e o agricultor se prepara para plantar mais três hectares. "Eu já cheguei a tirar em torno de 1.300 a 1.400 caixas por hectare", calcula o produtor demonstrando empolgação.
De acordo com o pesquisador da Embrapa e líder da pesquisa, Eduardo Alano, os principais objetivos do projeto são desenvolver mais raízes de boa qualidade culinária, com sabor e pouco tempo de cozimento. "Além disso, é importante que elas sejam mais amarelas, porque quanto mais cor, mais beta-caroteno e mais provitamina A", explica.
Produtividade
Segundo a Emater, o Distrito Federal hoje tem 1.278 produtores de mandioca. É a unidade da federação com maior eficiência em produtividade. Enquanto a média nacional é de aproximadamente 9 toneladas por hectare/ano, no DF, com novas cultivares e manejo adequado, a produção pode atingir valores acima de 50 toneladas por hectare/ano. "É um supersalto. São variedades novas. Claro que não é só a genética, tem a fertilidade do solo, o manejo, ou seja, tecnologias que aplicamos no campo", disse Elcio Henrique Santos, zootecnista e extensionista rural da Emater.
A mandioca é originária do Brasil, onde foi domesticada e cultivada pelos povos originários, há cerca de 9 mil anos. De fácil adaptação, o tubérculo é plantado em todos os estados brasileiros, situando-se entre os oito primeiros produtos agrícolas do país, em termos de área cultivada, e o sexto em valor de produção.
No Cerrado, a planta não foge à regra de acomodação. "Em nossas condições climáticas, com um período de seca prolongado, ela consegue sobreviver e produzir bem. Por isso, ela (a mandioca) é a cultura queridinha no Brasil, não somente pelo sabor, mas pela rusticidade", completa o professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB Filipe Bittencourt Machado de Sousa.
No ranking de produção do DF, a mandioca de mesa ocupa o segundo lugar, perdendo apenas para o milho. De acordo com a Emater, no ano passado, 233.166 toneladas de milho e 19.154 de mandioca foram produzidas. Mesmo com o grande volume do tubérculo, a produção local não atende a toda demanda do DF, que precisa importar de Goiás e de Minas Gerais.
Na mesa do brasiliense, a iguaria está sempre presente. De acordo com a Central de Abastecimento (Ceasa-DF) a média anual de comercialização de mandioca é de 443.321 kg. Isso, sem contar as vendas diretas do produtor rural ao consumidor.
Família
Há dois anos, produtores do DF começaram a plantar o clone BRS 429, de olho em características como coloração amarela da polpa, saborosidade e alta produtividade, atributos muito semelhantes aos da "prima", a nova cultivar que está por chegar.
"A BRS 429 tem uma uma colheita um pouco mais tardia, de 10 a 11 meses, enquanto a 54-10 é de nove a 10 meses, compara Eduardo Alano, enfatizando que haverá mercado para as várias espécies existentes.
Na propriedade que possui no Novo Gama, Antonizete dos Reis Souza está cultivando duas variedades de mandioca: a BRS 429 e a "mãe" dela, a japonesinha. "As duas são de excelente qualidade e com um volume maior de raízes", constata. Com pouco manejo da terra, ele diz colher em torno 40, 50 toneladas por hectare/ano.
Eide Seidler produz uva em dois hectares da chácara dela no Incra 7, em Brazlândia, e planeja destinar outros três hectares do terreno ao cultivo de mandioca. "O retorno financeiro é muito mais rápido do que o da uva. A ideia é que, com as duas culturas, uma vá pagando as contas antes da safra da outra", explica. No cardápio de variedades apresentado pelos pesquisadores, Eide se interessou pela BRS 429 por causa de um quesito que faz os olhos de todos os produtores brilharem: a rentabilidade.
Usos da mandioca
Mandioca de mesa (amarela): alimentação
Mandioca branca: alimentação e produção de farinhas
Mandioca açucarada (indústria): produção de etanol e química fina de perfumes e cosméticos; xaropes naturais de glicose e frutose; bebidas fermentadas, como cerveja; aguardente; aditivo para melhorar o valor nutritivo e o padrão fermentativo da ensilagem de gramíneas forrageiras
Folhas e hastes das três mandiocas são usadas na alimentação animal, com alto valor proteico.
Fonte: Embrapa Cerrados
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Folhas e hastes das três mandiocas são usadas na alimentação animal, com alto valor proteico.
Fonte: Embrapa Cerrados
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