sustentabilidade

Maioria dos estabelecimentos ainda usa materiais poluentes em seus produtos

Embalagens de isopor e plástico filme ainda são amplamente utilizadas no DF. Especialista afirma que esses materiais, descartados de maneira incorreta, podem chegar como microplásticos em nossa alimentação

Embalagens de isopor envoltas em plástico filme, por exemplo, são práticas, mas poluem a natureza  -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Embalagens de isopor envoltas em plástico filme, por exemplo, são práticas, mas poluem a natureza - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Apesar de todos os esforços para proteger o meio ambiente, a maioria dos estabelecimentos ainda usa materiais poluentes em seus produtos. Embalagens de isopor envoltas em plástico filme, por exemplo, costumam guardar carnes, legumes, salgados e, quando não descartadas de forma correta, poluem a natureza.

A poluição causada por embalagens no Distrito Federal já vem sendo debatida pelo governo e a comunidade. Com a implementação da Lei nº 6.322, de 10 de julho de 2019, de autoria do então deputado distrital Leandro Grass (PV), o Distrito Federal proibiu a distribuição gratuita ou venda de sacolas plásticas descartáveis confeccionadas à base de polietileno, propileno, polipropileno ou matérias-primas equivalentes. As sacolas passaram a ser feitas de materiais biodegradáveis ou biocompostáveis.

Paulo Celso dos Reis, vice-diretor da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), explicou como são poluentes as embalagens de isopor envoltas em plástico filme. "O maior problema é a quantidade de plástico. O ser humano produz mais de 400 milhões de toneladas anualmente. O plástico filme pode ser degradado em até 100 anos e o isopor, que também é um plástico, tem seu tempo de decomposição indeterminado", afirmou.

"Nas redes de drenagem urbana, esses resíduos causam entupimentos, que podem favorecer a inundações", falou Paulo sobre o descarte irregular dos plásticos. "Além disso, a degradação das substâncias presentes em plásticos podem gerar microplásticos, que entram na cadeia alimentar de animais e humanos", disse.

O especialista esclarece que é necessário ter alternativas para esses produtos. "A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza somente o uso de material totalmente novo (também chamado de 'virgem') para confecção de embalagens que terão contato direto com alimentos, exceto o polietileno tereftalato, conhecido como PET. Portanto, deve-se priorizar o uso de materiais biodegradáveis nessas embalagens", pontuou. Ele alerta que o descarte regular é fundamental. "Após o uso, esses materiais devem ser descartados corretamente, para que sejam efetivamente reciclados e não poluam o meio ambiente", completou.

Leandro Grass, hoje presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-DF), que propôs a obrigatoriedade do uso de materiais biodegradáveis ou biocompostáveis na fabricação se sacolas plásticas, ressalta a importância desse debate. "É muito importante que se reflita sobre a necessidade de uso desses plásticos, que ficam na natureza durante décadas. Deve haver uma redução. Hoje existem soluções mais inteligentes, mais sustentáveis, seja para embalagens, seja para acomodação de produtos e mercadorias", destacou.

Clientela

A aposentada Neide Lins, 76 anos, gosta de fazer as compras e averiguar a qualidade dos produtos pessoalmente. Ela afirma que utiliza as embalagens poluentes pela praticidade, porém, separa de maneira minuciosa para destinar à reciclagem. "A facilidade de receber o produto cortado é o motivo de comprar, não tenho tempo de cortar e cozinhar tudo para minha filha", afirmou. 

 19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos.
19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos. (foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Anibal Rocha Filho, 56, explica que as embalagens poluentes visam o conforto do cliente. "Se não fosse elas, teria que levar algumas compras na mão. A solução seria esse mesmo tipo de embalagens, mas com material biodegradável. A gente viveria em um sistema melhor, um planeta mais limpo. Por outro lado, temos as sacolas biodegradáveis, que são pagas. A melhor maneira de resolver esse problema seria fazer uma lei que acabasse com todo tipo de embalagem poluente: um sistema no qual tudo fosse biodegradável, da forma mais natural possível", concluiu.

 19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos.
19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos. (foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Alternativas

Clara Jordão, 57, é comerciante e afirma que o motivo de usar as embalagens poluentes em seu estabelecimento é a falta de opção. "Não existe uma que tenha as mesmas características e seja sustentável. É importante que o produto fique visível e ao alcance do cliente. Não tem como escolher sem uma boa visibilidade. O isopor ainda é um mal necessário", disse.

 19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Clara Jordão, 51 anos.
19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Clara Jordão, 51 anos. (foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

O presidente do Sindsuper-DF, Jair Prediger, informou em nota que "as embalagens de isopor já estão sendo, aos poucos, substituídas por embalagens de papelão, principalmente no setor de hortifruti, que está mais avançado e vem num processo de mudança em relação a essas embalagens".

Sobre o papel filme, afirmou que as empresas ainda estão buscando soluções para esse tipo de embalagem. "Gostaríamos de ressaltar que o setor constantemente busca melhorias e alternativas biodegradáveis às embalagens. Até mesmo porque a sociedade hoje está muito ligada a essa questão e busca produtos que não apenas são produzidos de forma sustentável, mas também que são vendidos em embalagens sustentáveis. O setor supermercadista está sempre se modernizando e buscando atualizações em relação a isso, tanto que é proibida a distribuição de sacolas plásticas nos mercados. Hoje, apenas são permitidas sacolas retornáveis ou biodegradáveis", conclui a nota.

*Estagiários sob supervisão de Eduardo Pinho 

 

  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Clara Jordão, 51 anos.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Clara Jordão, 51 anos. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Anibal Rocha Filho, 56 anos. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos.
    19/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Embalagens poluentes nos supermercados. Na foto, Neide Lins, 76 anos. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
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postado em 14/10/2024 06:00
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