Na semana passada, os brasilienses sofreram com uma queda acentuada da qualidade do ar, devido as queimadas espalhadas pelo Distrito Federal. Foi difícil respirar em meio a tanta fumaça. O Parque Nacional de Brasília, por exemplo, enfrentou um incêndio que destruiu mais de 2 mil hectares de sua área e levou cerca de cinco dias para ser combatido.
Com a rotina da capital alterada — nos lares, nos comércios e nas instituições educacionais — o professor Carlos Henke, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), foi a campo monitorar o padrão de poluição da atmosfera da Asa Norte, onde está localizado o campus Darcy Ribeiro e em uma área próxima ao parque.
Mediante uma análise qualitativa, o docente teve como objetivo gerar compreensão sobre o cenário, provocar o debate sobre políticas de prevenção a incêndios e aprimorar a reação de autoridades em eventos futuros.
Emergência
Além do monitoramento móvel, Henke se baseou em dados do sensor de monitoramento de qualidade do ar instalado na Escola Classe 115 Norte. É possível visualizar o monitoramento desta unidade, administrada por cientista da USP, pela internet. O gráfico do sensor mostrou três picos de dispersão de partículas decorrentes do incêndio, entre 16 e 18 de setembro.
Segundo o docente, “tivemos exposições curtas, com concentrações muito elevadas de poluentes, que superaram mil microgramas por metro cúbico”. A concentração máxima de poluente atmosférico do tipo material particulado fino admitida pela Resolução 506/2024 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em condições de referência é de até 60 microgramas por metro cúbico. A quantidade de 250 microgramas por metro cúbico já configura emergência.
“Eu começo a me preocupar quando sobe acima de 40 por um longo tempo de exposição”, alerta Henke. Cinco dias após o incêndio ter sido controlado, o nível de poluição captado pela estação da Escola Classe 115 Norte ainda é alto, 84 microgramas/m³.
O mapeamento móvel da poluição feito pelo Projeto Prometeu aconteceu na manhã de 17 de setembro (dia 4 do incêndio) e percorreu por duas horas trecho da UnB à Granja do Torto, retornando pela Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). Nas proximidades do Parque Nacional, a sonda móvel do projeto captou índices máximos de 939 microgramas por metro cúbico de material particulado fino disperso na atmosfera — quantidade até 16 vezes maior que o valor de referência.
Mal-estar coletivo
A análise do professor Henke, com exposições científicas sobre mecanismos atmosféricos em linguagem acessível, está disponível no canal do YouTube do Projeto Prometeu. “Seria bem importante que as pessoas conhecessem a meteorologia, porque ela explica muitas coisas e permite antever o comportamento de certos fenômenos”, afirma.
Nos comentários, internautas narram o mal-estar sentido durante os dias críticos, entre 14 e 19 de setembro. "Sou morador do bloco em frente a essa escola classe e posso afirmar, senti falta de ar consideráveis na parte da noite, tava impossível isso aqui", denuncia um espectador. Também há queixas sobre ausência de política pública, local e nacional, sobre como proceder em caso de piora na qualidade do ar.
Durante a exposição, Henke ainda lamenta as perdas causadas pelo incêndio ao ecossistema e elogia o trabalho dos brigadistas. “Os impactos à biodiversidade são imensuráveis. Se nós, em Brasília, tivemos essa sensação horrível de não conseguir respirar, imagina o que não é o trabalho do combatente florestal”, ressaltou, criticando o não pagamento de adicional de insalubridade aos brigadistas.
Por fim, o cientista deixa um alerta: “O que aconteceu conosco aqui na capital do Brasil não pode ser uma lição esquecida. Incêndios florestais são terríveis, mas é possível prevenir. É preciso que o Estado invista recurso nos órgãos ambientais. Orçamento para órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) cortado significa incêndio estabelecido.”
Com informações da Universidade de Brasília.
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