Com a chegada da primavera, no último sábado (21/9), a capital se transforma em um verdadeiro mar de cores e os ipês-brancos são os atuais protagonistas desse espetáculo natural. Essas árvores, que florescem entre agosto e outubro, não apenas trazem beleza à cidade, mas também desempenham um papel significativo no equilíbrio ambiental e no bem-estar dos brasilienses em meio à grande seca vivida no Distrito Federal. Nesta segunda-feira (23/9), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou a maior temperatura do ano: 35,4ºC na Estação do Gama.
Segundo Melina Guimarães, professora do curso de ciências biológicas da Universidade Católica de Brasília (UCB), os ipês fazem parte da identidade cultural da capital e têm grande importância no ecossistema. "Durante o período de seca, trazem beleza às ruas e avenidas, onde foram plantados em abundância. Além disso, fornecem alimento à fauna, com néctar e pólen. Árvores amenizam a temperatura, aumentam a umidade relativa, abafam a poluição sonora, filtram o ar, além de serem morada e alimento para um leque de espécies animais", explica ao Correio.
Com as mudanças climáticas se intensificando, com o aumento da estiagem e das queimadas, a especialista menciona que é muito importante que as cidades tenham planos de adaptação para os fenômenos extremos. "Aumentar a área de permeabilidade do solo e criar ambientes com um maior número de árvores em praças e canteiros são iniciativas que podem auxiliar na contenção das condições extremas que já estamos vivenciando", afirma.
Os ipês-brancos pertencem à espécie Tabebuia roseoalba e costumam florescer entre agosto e outubro. De acordo com Melina, o fotoperíodo, ou seja, o regime entre horas de luz e escuridão, influencia diretamente essa floração. "A temperatura e as chuvas também podem intensificar ou atenuar a floração. Portanto, não necessariamente, ela coincide com a chegada das chuvas. Como temos visto, alguns ipês-brancos já estão floridos este ano", destaca.
O ciclo de vida dos ipês está intimamente ligado à chegada das precipitações, especialmente sobre à dispersão de suas sementes. "Elas caem no solo perto do início da estação chuvosa porque têm um conteúdo elevado de água e não resistem muito à perda de umidade e acabam perdendo a viabilidade, caso passem muito tempo em solo seco", explica.
De acordo com a bióloga, as florações dos diferentes tipos de ipês ocorrem de forma sequencial. O ipê-roxo costuma ser o primeiro a florescer e o branco é geralmente o último. "Essa sobreposição entre as espécies garante que, por um longo período do ano, Brasília seja agraciada com a beleza dessas árvores", destaca.
O ipê-branco é uma árvore de médio porte, com alturas entre 7 e 16 metros, que se torna uma escolha popular no paisagismo e na arborização urbana pelo seu tamanho gerenciável. Marcada pela beleza, a espécie tem uma função ecológica importante, por fornecer abrigo e alimento para pássaros e insetos. Além de exuberante, a flor também pode ser utilizada na culinária, pois sua folha é comestível. São consumidas as pétalas, após a remoção do cálice, em receitas de refogados, empanados e saladas cruas.
Apreciadores
A chegada dos ipês-brancos na quadra 211 da Asa Norte se tornou um momento marcante para o aposentado Aldemar Amorim, 72 anos e morador de Brasília há 55. Ele afirma que já testemunhou muitas florações e segue admirando a beleza dessa espécie. "As árvores mais antigas que já estão morrendo ou que o pessoal derruba por estarem grandes demais deveriam ser substituídas por ipês de todas as cores", sugere. Aldemar ainda conta que ficou surpreso ao perceber que, apesar do longo período de seca, os ipês-brancos floresceram bastante este ano. "Achamos que, por causa do clima, os brancos não iriam dar aquela florada, mas está lindo. Um dos mais lindos que já vi", comenta o morador.
A bióloga Simone Ribeiro, 62, é moradora da Asa Norte e também se tornou uma grande apreciadora dos ipês. Segundo ela, as árvores contribuem significativamente para o bem-estar dos brasilienses. "Eu acho essas árvores a coisa mais maravilhosa que tem na cidade. A floração é espetacular, tanto na árvore quanto no chão, quando as flores caem. Parece que está nevando. A alma da gente leva um banho de felicidade", descreve.
Para a arquiteta e urbanista Yasodhara Chaibub, 41, essa coloração da espécie traz um grande impacto estético para a cidade. Segundo ela, o charme dessas árvores é inegável. "Os ipês-brancos trazem um toque bucólico à cidade. Eles têm uma beleza diferente do amarelo, que é mais vibrante. O branco traz uma sensação de paz e tranquilidade. Nós, que moramos próximo, aguardamos o ano inteiro a chegada deste momento", comenta.
Fernando Elias, 60, destaca como essas árvores ajudam a suavizar a secura do Cerrado e enchem de beleza a capital. "Acho que plantar mais árvores é a chave para lidarmos com o clima, que está cada vez mais difícil", comenta o fotógrafo que, ao longo dos anos, já registrou 10 milhões de imagens, e muitas foram dedicadas à beleza dos ipês.
Plantio
A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informa que já plantou cerca de 5,5 milhões de árvores em todo Distrito Federal. A instituição acrescenta que tem uma meta ousada para 2024: plantar mais 100 mil árvores e, entre elas, 40 mil serão ipês. De acordo com a Novacap, o plantio será intensificado no período chuvoso, previsto para o mês de outubro.
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