Como colunista de televisão do Correio, tenho sido convidado para visitar, algumas vezes, um lugar que sempre foi mágico para mim. Os Estúdios Globo, popularmente conhecido como Projac ou Hollywood brasileira, quem é fã de dramaturgia idealiza como um parque de diversões a la Disney, onde as fantasias se tornam realidade.
Cruzar com artistas famosos que interpretam os personagens das novelas que se tornam parte do nosso cotidiano, conhecer os cenários suntuosos onde as histórias ganham vida e até andar nos famosos carrinhos que circulam pelos caminhos do imenso complexo... Aposto que muitos compartilham a ideia de uma experiência, no mínimo, pitoresca.
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Graças ao meu itinerário profissional, essas visitas se tornaram acessíveis para mim. Vinte anos atrás, porém, quando estive no Rio de Janeiro pela primeira vez, estava na minha lista de desejos andar pelo calçadão da praia de Copacabana, subir no Cristo Redentor, andar no bondinho do Pão de Açúcar e, de forma utópica, conhecer o Projac. Certo de que esse sonho não se tornaria real, restava me contentar com a ideia de encontrar alguma celebridade nas ruas.
Não tive a sorte de estar no Leblon naquela quinta-feira de 2011 em que Caetano Veloso estacionou o carro e virou notícia, mas é absolutamente natural que figuras mitológicas como Fernanda Montenegro, em algum momento, entrem em uma padaria para comprar um bolinho para o café da tarde. Mesmo que um paparazzi esteja lá para transformar esse episódio banal em espetáculo, é nesse momento que a gente se dá conta de que artista também é feito de carne e osso.
Embora eu ainda não tivesse o acesso atual ao mundo dos artistas, ao chegar em Brasília, logo se tornou comum para mim a proximidade com um outro universo repleto de mitos: o político. Lembro que um dos primeiros locais que visitei foi o Congresso Nacional. E ali eu acessei outro lugar que, para muitos brasileiros, é uma espécie de alegoria: aquela paisagem impactante que aparece toda noite no Jornal Nacional e que a maioria absoluta desconhece como é por dentro.
Ao contrário do Projac, o icônico e faraônico complexo composto por duas torres gêmeas não era exatamente um lugar que despertava meus mais profundos anseios. Mas, ao atravessar o interior das imponentes cúpulas do Senado e da Câmara dos Deputados, bateu-me um arrepio de curiosidade sobre as decisões históricas e os grandes nomes que marcaram a história desse reduto que imaginamos como frio e hostil, mas curiosamente tão cheio de vida.
Em meio aos previsíveis homens engravatados e mulheres com penteados imponentes desfilando elegância e poder nas suas posições parlamentares, o Congresso Nacional é uma Disneylândia quase fabulosa, mas habitada, de fato, por uma fauna humana extremamente diversificada de anônimos em apenas mais um dia de trabalho burocrático.
Essas pessoas vão sempre estar lá, ocupando o protagonismo: andando de um lado para outro, falando ao celular, servindo cafezinho ou transportando documentos importantes e, também, alimentando em suas almas aspirações pessoais como qualquer um de nós. Gente como a gente, fazendo, de fato, o Brasil acontecer — e que dificilmente vira notícia. Muitos, aliás, são jornalistas como eu, e estão lá, todo santo dia, em busca da notícia.
Chega a ser engraçada essa ideia provinciana que temos quando o assunto são as pessoas que gozam certa notoriedade. Tal qual o Rio de Janeiro nos permite cruzar com celebridades pelas ruas, Brasília também carrega esse imaginário de que vivemos em uma ilha habitada por políticos que estão espalhados pelas asas e eixos e que fatalmente nos encontraremos com vários deles no shopping ou mesmo cruzando uma esquina que a gente sequer tem no Plano Piloto.
Esses encontros acontecem, mas não são uma regra. Até porque a maioria dos deputados e senadores não vivem no Distrito Federal. E, ao contrário do que se imagina, não esperamos encontrar um presidente da República comendo acarajé na feirinha da Torre de TV. Já a Dona Fernanda e o Seu Caetano, talvez.
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