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Doenças respiratórias se agravam por conta da seca e da fumaça na capital

Até 31 de agosto, cerca de 4,5 mil casos de síndromes respiratórias agudas graves foram notificados no DF. Também ocorreram 115 mortes devido a essas doenças. Especialista indica cuidados, principalmente para crianças e idosos

A seca prolongada e a poluição causada pelas fumaças dos incêndios que tomam conta do Distrito Federal agravam os sintomas das síndromes respiratórias agudas graves (SRAG). De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), até 31 de agosto, 4.568 casos foram notificados, uma média de 571 por mês. Além disso, 115 óbitos, causados por essas doenças, foram confirmados pela pasta.

Coordenador de pneumologia do Hospital Santa Lúcia, o médico William Schwartz ressalta que, durante queimadas, a combinação de fatores climáticos — baixa umidade, temperatura elevada e ventos fracos — acaba criando um ambiente propício para a concentração de poluentes no ar. "Especialmente um material particulado fino, oriundo dessas queimadas, e que pode ser inalado, profundamente, chegando aos pulmões", detalha.

De acordo com o especialista, isso pode causar a inflamação das vias aéreas respiratórias, tanto do nível superior quanto do inferior, prejudicando a função pulmonar. "Além disso, o tempo seco facilita o ressecamento das vias aéreas respiratórias, tornando o organismo mais suscetível à irritação, por causa desses poluentes", pontua Schwartz.

O médico afirma que pessoas com doenças respiratórias pré-existentes, como asma, rinite alérgica, sinusite e bronquite, acabam tendo uma frequência maior de crises, por causa da exposição a essas condições climáticas. "O impacto acaba sendo mais severo em pessoas idosas, crianças, imunocomprometidas e que têm o sistema respiratório mais fragilizado", alerta.

Atenção redobrada

O coordenador de pneumologia do Hospital Santa Lúcia aponta o momento ideal para procurar atendimento médico. "É muito importante ficar atento aos sinais. Se a pessoa sentir sintomas respiratórios mais persistentes, como falta de ar, tosse, aumento de produção da secreção e um cansaço maior do que o normal, é hora de procurar um profissional para avaliação", destaca.

No caso de quem tem diagnósticos pré-existentes, o especialista afirma que é preciso perceber se há uma necessidade maior do uso de medicamentos de rotina para tratamento dos sintomas, como os broncodilatadores e corticoides inalatórios. "Se, mesmo assim, esses sintomas não melhorarem, a orientação é procurar assistência médica", comenta.

William Schwartz ressalta que as crianças devem ter uma atenção redobrada, principalmente no que diz respeito a sintomas como dificuldade de respiração e chiado no peito. "São sinais de alerta para problemas respiratórios. Também é muito importante ficar atento ao surgimento de febre ou calafrios, que podem estar se desenvolvendo por causa da conjuntura de sintomas inflamatórios, que abrem portas para bactérias e outros micro-organismos oportunistas", descreve o médico.

Na emergência do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), pais procuraram atendimento por causa de sintomas respiratórios nos filhos. Viviane Lacerda levou Murilo, de apenas um ano, por causa de sintomas gripais.

Moradora de Brazlândia, ela vê de perto as chamas do Parque Nacional e acredita que a piora no estado de saúde do filho se deve ao aumento da fumaça no ar brasiliense. "Ele teve um resfriado uns dois meses atrás, mas está muito pior agora. Da outra vez ele ficou bom logo, só fazendo nebulização. Não precisou nem entrar com medicação. Desta vez, a médica está dando medicação e vai fazer raio-x também", descreve.

Quem também levou o filho ao Hmib foi Stephanie Coelho, 22. O pequeno Levi Gabriel, de um ano, tem lidado com forte tosse, febre e nariz entupido, sintomas que a mãe atribui ao clima. "Onde a gente mora, entre São Sebastião e a Cidade Ocidental, tem muito desmatamento. Tem muitos incêndios e, por conta disso, quem sofre é a população e os animais que vivem lá. O tempo está seco, a umidade do ar está baixa e tem os incêndios que o pessoal provoca, então piora."

A jovem também reclama das dificuldades para cuidar do menino neste momento. Além dos problemas de saúde, Stephanie relata obstáculos para o atendimento. Com grandes filas e poucos profissionais para atender as crianças, o hospital viu as famílias se acumularem na porta de entrada com os pequenos pacientes. Para combater a seca, Stephanie fez questão de pegar bastante água e manter o filho calmo em lugares de sombra.

*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho

 

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Minimizando efeitos

» Reduzir a exposição aos poluentes, evitando atividades físicas ao ar livre, principalmente quando a poluição estiver num índice mais alto;

» Manter-se em ambientes fechados, com portas e janelas vedadas, para reduzir a entrada de poluentes;

» Utilizar máscara, como a N95 ou a PFF2, principalmente para quem trabalha em ambientes abertos;

» Umidificar o ambiente, seja com um aparelho, uma bacia com água ou uma toalha molhada;

» Beber bastante água,
para aumentar a hidratação da mucosa e ajudar na eliminação de alguns elementos tóxicos, adquiridos pela exposição ao poluente inalatório.

Fonte: William Schwartz, coordenador de Pneumologia do Hospital Santa Lúcia