A mãe de João Miguel da Silva Souza, 10 anos, encontrado morto na sexta-feira, foi presa por policiais civis que investigam crimes ligados a facções criminosas. A reportagem apurou que a mulher teria ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e estava com um mandado de prisão em aberto expedido pela Justiça do DF. Até o fechamento da edição, fontes garantiram ao Correio que a detenção dela não tem relação com o assassinato do do filho.
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Ela recebeu voz de prisão na sexta-feira. A mulher morava em Pernambuco. Depois, mudou-se para o Maranhão e chegou ao DF na primeira semana do desaparecimento. O pai do garoto também está preso, mas por outro crime.
Justiça
A comunidade onde João Miguel habitava, uma invasão no Setor de Inflamáveis, na região do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), passa o dia se questionando sobre o que teria levado alguém a matar o menino. Classificado como prioridade, a polícia tenta montar o quebra-cabeça para elucidar o sequestro e a morte do garoto. Enquanto isso, familiares e vizinhos clamam por justiça.
Na tarde de ontem, a equipe de reportagem do Correio esteve na casa em que João vivia. No lote, cinco residências feitas em madeirite abrigam mais de 10 pessoas, entre crianças e adultos. A tia de João, Rafaela Santos da Silva, 23 anos, informou que todos estão em pé graças aos medicamentos calmantes pois, desde a descoberta do corpo, tem sido difícil encarar a realidade. "Era uma criança ativa e alegre, jamais arrumou confusão, não merecia isso. A gente queria ele vivo, machucado ou como fosse, mas nós esperávamos ele com vida", desabafou.
A família relatou ter recebido uma denúncia anônima sobre o possível paradeiro de João. O informante sugeriu que procurassem o menino em valas. Na sexta-feira, policiais civis, militares e bombeiros realizaram buscas em uma área de mata, no Lúcio Costa, onde encontraram o corpo do garoto dentro de uma fossa de aproximadamente 1,5 metro de profundidade.
A tia do menino declarou que a dor da perda é intensificada pela angústia dos questionamentos sem respostas. Apesar disso, afirmou que todos estão confiantes no trabalho da investigação. "A gente tem fé e não pensa, jamais, em fazer justiça com nossas próprias mãos, mas nós queremos que a pessoa que fez isso pague pelo crime que cometeu."
"Um bom garoto"
O menino não frequentava a escola desde o ano passado. Segundo Rafaela, os parentes não encontraram vaga para que João fosse matriculado, mas garantiu que estavam tentando resolver a situação. Longe da sala de aula, ele costumava passar o dia na rua, brincando com colegas. Por causa disso, era conhecido por toda a vizinhança.
O auxiliar de serviços gerais Valdeci Santos, 50, também morador da região, conhecia João Miguel. Sempre recebia o menino em sua casa para encher os pneus de sua bicicleta. Uma semana antes do ocorrido, comprou uma gaiola do garotinho. Lembrou que o menino logo correu empolgado ao mercado para comprar guloseimas. "Ele passava por aqui todos os dias. Minha esposa vende dindin e ele sempre chamava no portão. Era um menino inteligente e tranquilo, a gente não esperava receber essa notícia", lamentou.
O vizinho soube do desaparecimento do menino logo nos primeiros dias mas pensou, inicialmente, que ele pudesse ter ido para a casa de um amigo. "Conforme os dias foram passando, percebemos que a situação era muito séria." Na sexta-feira, enquanto assistia ao jornal em seu horário de almoço, Valdeci foi surpreendido com a notícia da tragédia. "Na hora que vi a reportagem eu perdi a fome. Ele convivia com a gente, eu tenho uma neta da mesma idade, isso foi uma barbaridade", declarou.
Morador da invasão há quase 13 anos, o atendente Yvo Ferreira, 26, disse que as crianças da comunidade jamais tinham sido vítimas de crimes anteriormente. "A gente achava que estava seguro. Todo mundo foi pego de surpresa e agora só se fala nisso. Estamos abalados e imensamente tristes."
Sentadas em frente ao portão de casa, Lúcia Maria de Jesus, 60, e Betânia Benito Fernandes, 68, relembraram as brincadeiras do menino no amontoado de materiais de ferro localizados em frente às residências onde moram. "Ninguém esperava uma tragédia dessa, ainda mais com o Joãozinho, um menino bom." Betânia contou que, desde o início, sentiu que o garoto não voltava mais. Lúcia, porém, acreditava que o menino estava "brincando por aí".
Investigações
De acordo com a análise preliminar da perícia, o menino foi morto cerca de três dias antes do corpo ser encontrado. Esse lapso de tempo entre o sumiço e o assassinato levanta várias possibilidades, incluindo hipótese de que a vítima tenha sido mantida em cativeiro.
A delegada-chefe da 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural), Bruna Eiras, afirmou que ainda não é possível determinar com exatidão a causa da morte devido ao avançado estado de decomposição do corpo. A principal linha de investigação sugere que o menino pode ter sido morto por asfixia. Os investigadores não descartam nenhuma hipótese e desconfiam que o menino estava em poder dos criminosos desde o dia do desaparecimento.
Enterro
O pequeno João Miguel será velado e sepultado amanhã, a partir das 14h, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Segundo a família, uma empresa funerária colocou-se à disposição para arcar com todos os custos da cerimônia.
A tia de João Miguel informou que a família deseja, também, que todos as pessoas presentes na despedida estejam vestidas com camisetas estampadas com o rosto do garoto. Os investigadores pedem para que quem souber de qualquer informação, ligue para o 197. A denúncia é anônima.
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