Do escambo às vendas on-line, a forma como os produtos são comercializados já passou por diversas fases. Mesmo com o avanço da internet, que permite ao empreendedor vender de qualquer lugar, no Distrito Federal há quem tenha optado pelo modelo dos antigos mascates, profissionais que saíam às ruas oferecendo seus produtos a quem cruzasse o seu caminho. O Correio conheceu histórias de "negócios nômades", em que empreendedores, sem um ponto fixo, levam seus produtos até os clientes. Comunicação, o acolhimento do contato físico e público plural são as vantagens, segundo eles.
Com duas bolsas abarrotadas de acessórios em prata, Daniela Brito, 40 anos, proprietária da Brito Joias percorre, há três anos, diversas ruas do Distrito Federal. Em bares das Asas Norte e Sul, no Eixão do Lazer, na Torre de TV, entre outros, ela vai ao encontro dos clientes. Seu escritório é ao ar livre.
"Muitas mulheres começam a empreender por causa da necessidade e a história da Brito Joias não é diferente. Eu me mudei de Goiás para Brasília há cinco anos e, em 2021, com R$100, comprei 40 pares de brincos e fundei o meu empreendimento", contou orgulhosa.
A necessidade também foi responsável pelo formato que cativou a proprietária. Sem tempo para muitos planejamentos, entendeu que as vendas itinerantes seriam o melhor formato para iniciar no empreendedorismo — e deu certo. "O contato com o público proporcionado pelas vendas nas ruas é maravilhoso. Por mais que hoje existam as vendas on-line, o que a gente sente nas ruas é diferente. Quando se aborda o cliente, há contato físico, olho no olho e eles se sentem acolhidos", explicou.
Daniela mora em Planaltina- DF e, por lá, todos conhecem seu trabalho. Os primeiros clientes foram alcançados nas ruas, feiras e bares. Ela colocava os brincos em uma cesta e os abordava um por um. Há cerca de um mês, um grande passo foi dado, Daniela inaugurou seu primeiro ponto fixo na cidade em que vive.
Apesar disso, assegurou que o negócio itinerante jamais será deixado de lado. "É uma forma de fazer amigos, conversar com pessoas e conhecer diferentes histórias. Há uma pessoa para ficar na loja e eu continuo nas vendas de rua com um outro funcionário. Jamais deixaria isso de lado porque o que traz dinheiro para a empresa é o comércio pelas ruas. Cerca de 98% da receita é prospecção de clientes, a gente indo atrás e alcançado essas pessoas", relatou.
Comércio nômade
A Gabriigadeiros, de Gabryela Lustosa, 24 anos, também funciona no estilo "pés nas ruas". Para a proprietária, que enfatiza em suas redes, com muito orgulho, que é "vendedora de rua", não há modelo melhor que esse. "Eu gosto muito da adrenalina de sair de casa sem saber o que vai acontecer e, no fim, perceber que sempre dá certo", expôs.
A empreendedora ressaltou que o planejamento é essencial para que as vendas externas tenham êxito. Mãe de duas crianças, desabafou que é difícil seguir à risca a rotina, mas explicou que se organiza para que a higienização e produção dos doces aconteçam no início da semana e as vendas posteriormente. "O cansativo é produzir. Sair pelas ruas é a melhor parte." Com os brigadeiros expostos em uma bandeja acrílica pendurada ao pescoço, Gabryela explora a capital, do Norte ao Sul do Quadradinho.
Ela destacou, porém, que a formalização do negócio é tão importante quanto aos empreendedores de estabelecimentos fixos. Expôs que, infelizmente, a discriminação não é incomum e por isso registrou-se como Microempreendedora Individual (MEI). "Não dá para somente endeusar a situação, eu amo muito isso, mas não tratam-se só flores", disse.
O negócio faz sucesso. Para as fotos da reportagem, a empreendedora preparou 50 docinhos, no entanto, vendeu várias unidades antes mesmo do início da entrevista. "Ainda que eu conquistasse um ponto fixo, eu continuaria na rua, jamais largaria. Eu não acredito que ter um local seja tão vantajoso para o brasileiro. São muitas taxas e penso que o que realmente move a economia é o microempreendedor; na rua é só alegria", finalizou.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) indica que o melhor caminho é sempre a formalização do negócio, seja como Microempreendedor Individual (MEI), micro, ou seja pequena empresa. A capacitação também é essencial.
Brechós que se movem
Imagine que interessante seria haver uma feira de brechós que passeia por diversos pontos do Quadradinho... é exatamente assim que o Varanda BSB, idealizado pela Sarah de Magalhães, 36 anos, funciona. A proprietária fundou o modelo em 2018, após deixar o emprego de atendente de telemarketing para se dedicar ao segundo filho que acabara de nascer.
Anteriormente, jamais havia pensado em empreender, mas, por meio do conselho de uma amiga, viu-se atraída pelo cenário. O formato? Longe do tradicional. A feira é móvel e permanece apenas alguns dias no espaço selecionado. A cada dois meses, reúne expositores e instala-se em um local diferente. "A primeira edição foi em um restaurante da Asa Sul, deu super certo e, então, continuei. Depois, tive a ideia de não fazer somente lá, mas em vários locais, porque no fim das contas as pessoas querem novidades. Fizemos edições em hotéis, na Piscina com Ondas do Parque da Cidade, no Museu de Arte de Brasília (MAB) no Museu Nacional da República, entre outros", lembrou.
Segundo a proprietária, são infinitas as vantagens do negócio nômade. "É sobre explorar lugares novos, vivenciar novidades e há também o fato de não se ter custos fixos mensais, porque os valores para sustentar uma loja colaborativa, por exemplo, são muito altos. Definitivamente, sai muito mais caro." Sarah também destacou que o público de cada espaço é diferente, o que contribui para a pluralidade de quem consome o negócio.
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