O Distrito Federal é conhecido pelo seu alto potencial agrícola. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), a capital do país tem uma produtiva área rural de aproximadamente 4 mil km², dos 5.802 km² de área total — onde 20 mil propriedades vivem da produção agropecuária. Um boletim divulgado em agosto pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostrou que algumas culturas se destacaram na safra 2023/2024, entre elas o milho e o trigo, que teve um crescimento de 105,9% da área total plantada no DF, passando de 3,4 mil para 7 mil hectares, segundo a Conab (confira os detalhes no quadro).
De um mogo geral, as culturas alcançaram boas produtividades, apesar da seca prolongada que assola o DF. Uma das exceções, de acordo com o engenheiro agrônomo da Emater-DF Carlos Antônio Banci, é o trigo na modalidade sequeiro (sem irrigação), que teve sua produção bastante prejudicada. "Acredito que somente 20% do que era previsto nessa modalidade tenha sido produzido", observou. Segundo o boletim da Conab, a maior parte da área total de trigo na safra 23/24, na capital do país, é de sequeiro — 5 mil hectares.
"Em relação ao arroz, não houve prejuízo, pois a colheita ocorreu logo no fim das chuvas, entre abril e maio. Quanto ao milho, o prejuízo não foi tão grande, pois ele terminou de ser plantado em fevereiro, ou seja, pegou uma quantidade de chuva suficiente para que a sua produção ficasse, pelo menos, na média", avaliou o engenheiro agrônomo da Emater-DF.
Tecnologia
Wilfrido Augusto Marques, 77 anos, é dono de uma fazenda no PADF e costuma plantar o trigo irrigado em sua propriedade. "Sempre esteve no nosso horizonte. Só que, no início, fizemos algumas tentativas quando o mercado não estava tão receptivo ao trigo brasileiro e a genética da semente não era propícia para as principais utilizações industriais", destacou. "Por isso, em 2014 paramos durante alguns anos. Em 2020 voltamos e pretendemos colocar o trigo como uma possibilidade de cultura para as nossas rotações e que, provavelmente, vai permanecer na fazenda por um bom tempo", acrescentou Marques.
O produtor comentou que o fato de ter uma genética de trigo que é adaptada ao Cerrado e a possibilidade de fazer o cultivo irrigado o levaram a considerar novamente o plantio na fazenda. "A gente está com uma grande produtividade. O clima do Cerrado permite uma sanidade muito grande do grão, justamente porque produzimos na época seca, sob irrigação", explicou. Na safra atual, foi produzido um total de 540 toneladas, sendo que 360 foram colhidas, até o momento.
Sobre a melhora na produtividade, Wilfrido Augusto Marques afirmou que, em sua fazenda, leva a sério a curva de aprendizado de todas as atividades. "Naturalmente, a cultura do trigo atual é melhor do que a anterior, porque a gente entende cada vez melhor a cultura, a aplicação das tecnologias e os tempos que são necessários para fazer os tratamentos fitossanitários. Isso nos leva a um resultado melhor e crescente", avaliou. Em relação ao faturamento, ele afirma que é sazonal, pois não planta uma quantidade fixa por ano. "A gente vai fazendo um giro (nas culturas). É claro que ele faz parte do nosso faturamento, mas não tem um percentual exato", pontuou.
Renda complementar
Outro que tem, entre as culturas, uma que foi apontada como destaque pela Conab é Artur Almeida, 44. Gerente de uma fazenda no Núcleo Rural Pipiripau, em Planaltina-DF, ele afirmou que o milho está dentro da rotação da propriedade. "Sempre tive como uma das culturas. Acredito que esta safra tenha sido melhor que a do ano passado, mesmo com a chuva terminando antes do tempo esperado", comentou.
De acordo com Almeida, quando é um ano bom — em que não falta chuva e a produção é boa — a renda complementar do milho costuma ser alta. "No caso da safra deste ano, como acabou sendo maior do que a do ano passado, tive um bom lucro", destacou o produtor, que plantou 1,8 mil toneladas de milho, da qual já colheu 1,56 mil.
Engenheiro agrônomo da Emater-DF, Carlos Antônio Banci disse que, entre os motivos que ajudaram no destaque feito pela Conab, está o período muito bom de chuvas entre fevereiro e abril. "Isso ajudou o arroz e o milho a terem boas safras. Depois disso, o tempo secou bastante, fazendo com que doenças ou outros motivos que pudessem impactar negativamente nessas lavouras não ocorressem", avaliou.
Hortaliças e frutas
O engenheiro agrônomo da Emater-DF Carlos Antônio Banci destaca que as hortaliças e as frutas estão sentindo a seca e começa a faltar água para a irrigação dessas safras. "Até o momento, está seguro. Só que, se não chover nos próximos dias, teremos problemas no desenvolvimento dessas lavouras, afetando as colheitas e, consequentemente, o abastecimento e o preço para o consumidor", alertou.
Por outro lado, em artigo publicado na coluna de Opinião do Correio Braziliense, o chefe-geral da Embrapa Hortaliças e Presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH), Warley Marcos Nascimento, disse que, para as plantas cultivadas em um sistema irrigado nesta época do ano, a umidade relativa do ar baixa pode ser benéfica, pois muitas espécies têm menor ocorrência de doenças foliares e melhora em aspectos fisiológicos e mesmo de sabor. "A época seca permite uma produção, digamos, mais sustentável, com menor utilização de agrotóxicos devido à menor incidência dessas doenças foliares", destacou.
Professor titular e diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB), o doutor em agronomia José Ricardo Peixoto afirmou que as diversas tecnologias disponíveis aos produtores, aliadas ao uso de materiais genéticos avançados e com adoção de boas práticas agrícolas, podem ajudar no aumento da produtividade e na melhoria da qualidade das safras (leia mais em Palavra de especialista).
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