Em 27 de setembro, devotos de São Cosme e São Damião celebram a tradição de distribuir doces para crianças em várias partes do país, mesclando fé, cultura popular e sincretismo religioso. A festividade, que tem origem católica, é significativa também para as religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda. A data leva milhares de pessoas às ruas para participar de uma prática que simboliza generosidade e proteção.
Embora a comemoração de São Cosme e São Damião tenha raízes católicas, o contexto contemporâneo revela uma distinção importante: enquanto a Igreja Católica celebra os santos no dia 26 de setembro, ontem, o foco se voltou para as religiões de matriz africana, que veneram outras divindades ligadas a essa tradição.
O padre Rafael Santos, do Santuário Nossa Senhora da Saúde, compartilhou com o Correio a história de São Cosme e São Damião. Dois irmãos gêmeos e médicos do século IV, que ficaram conhecidos como "aqueles sem prata", pois atendiam os doentes sem cobrar nada. Essa generosidade levou à prática de oferecer presentes em homenagem a eles, que se reflete na tradição de distribuir doces. "Hoje, quem comemora o Dia de São Cosme e São Damião não é a Igreja Católica, mas as religiões de matriz africana. A Igreja Católica celebra São Vicente de Paulo no dia 27 de setembro", destacou o padre.
A Paróquia Divino Espírito Santo — Rogacionista —, localizada no Guará, tem uma capela de São Cosme e São Damião, que são considerados os padroeiros das crianças, dos médicos, dos cirurgiões, dos farmacêuticos e das parteiras de dificuldade, onde há a tradição de realizar uma celebração todo 26 de setembro, em comemoração ao dia dos santos. "A comunidade oferece os doces e a equipe de acolhida dos paroquianos se reúne na véspera para organizar os saquinhos que serão distribuídos no dia. Os doces são abençoados antes de serem entregues às crianças", explicou Zélia Alves, da Pastoral da Comunicação da paróquia.
Doces
O trabalho realizado pelo Centro Espírita Assistencial Nossa Senhora da Glória, onde voluntários dedicam-se a servir almoço e a distribuir balas para as crianças, faz com que a tradição se torne ainda mais forte. "Aqui no Centro, fazemos isso há 59 anos, e eu estou aqui há 48 anos. Estamos sempre dedicados a oferecer um abraço, um sorriso e um pouco de amor para quem precisa. Isso é o que realmente importa: poder doar um pouco do amor que você tem em prol de alguém é tudo", contou Gilberto Marcos Pereira, um dos organizadores da ação.
A instituição distribui cestas básicas, roupas e medicamentos durante todo o ano, mas nesta data especial, a expectativa era de atender mais de mil pessoas. "A nossa preocupação é ter para aqueles que venham em busca. O dia é todo dedicado a ajudar as pessoas carentes, não só financeiramente, mas também espiritualmente. Além da celebração de hoje (ontem), o centro promove ações durante o Natal, distribui cestas básicas e roupas, e oferece apoio espiritual", acrescentou.
A ansiedade era tanta que Lorena Almeida, 8, e Leonardo Mendes, 8, nem almoçaram para comer a maior quantidade de doces possível. "O que eu mais estava esperando para comer era chocolate, que é o meu doce preferido. Já comi bastante e estou deixando um espaço na barriga para mais tarde. Aproveitei e estou guardando vários na mochila para levar para casa", destacou Lorena. Leonardo não fez diferente e estocou o quanto pôde de balas. "Eu peguei principalmente a que eu mais gosto, que é a 7 Belo", disse.
Outros pontos do Distrito Federal também tiveram crianças felizes, como é o caso de Ceilândia, onde na sede da Camisa 13 — torcida organizada do Ceilândia — mais de 500 pacotes de balas foram distribuídos. A meninada que foi até o local conseguiu se divertir no pula-pula e brinquedo inflável. "Essa ação é para relembrar a infância dos mais velhos e não deixar esse costume se perder com o tempo. Lembro-me de quando eu era pequeno e saía nas ruas em busca de doces. Proporcionar essa diversão para eles é muito gratificante para mim", descreveu Rodrigo Leonardo Ribeiro, 34, diretor da torcida organizada e um dos organizadores da ação.
A iniciativa acontece há três anos e, além do apoio da Camisa 13, conta com a ajuda do clube de motoqueiros Abutres, da comunidade e do próprio clube — Ceilândia. De acordo com Leonardo, cada edição vai ganhando mais forma e a tendência é só crescer. "Nos últimos anos, eram apenas doces. Neste, temos outras atrações e isso significa bastante para quem faz parte disso aqui", destacou.
James Cruz, 35, levou a pequena Emanuela Cruz, 10, para aproveitar a tarde e mostrar o lado bom da data. "Minha família é toda católica e tentamos levar essa tradição adiante. Isso significa muito para mim. Sem contar que nestes momentos ela fica longe das telas e socializa mais com outras crianças. Lembro que eu fazia bastante isso quando era menor, corria diversas ruas atrás de doces. Espero que essa lembrança também fique marcada na memória dela", relatou.
Emanuela, por sua vez, falou que estava contando as horas nos dedos para ir curtir a tarde com o pai. "Cheguei aqui agora e não tenho hora para voltar. O que eu mais quero é comer e brincar. Estou gostando bastante até agora, e pretendo levar muita coisa para a escola e dividir com os coleguinhas de lá", finalizou.
*Estagiários sob a supervisão de Eduardo Pinho
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