Com as chuvas cada vez mais próximas, os moradores da capital começam a se questionar se o Governo do Distrito Federal (GDF) tem se movimentado para mitigar os efeitos delas. Limpeza de bocas de lobo e poda de árvores, em todo o DF, e medidas preventivas nas tesourinhas do Plano Piloto, que costumam virar piscinas com as tempestades, são reivindicações da população.
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O Correio ouviu reclamações da comunidade e a opinião de um especialista em planejamento urbano, que alerta sobre o perigo de a Universidade de Brasília (UnB) voltar a ficar embaixo d'água. Também conversou com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), órgão responsável por esses serviços, que detalhou o andamento dos trabalhos para evitar problemas recorrentes, como os alagamentos e a queda de galhos e árvores. A empresa aponta o descarte irregular de lixo como um dos motivos principais de entupimentos em bocas de lobo.
"Quando a chuva vem, tudo o que poderia escorrer a água está entupido", foi o que comentou Jayna Viana, 32 anos. De acordo com a babá, na quadra 1 do Gama, onde mora, essa é uma situação que se repete todos os anos. "É algo que dificulta a vida dos moradores da região. Não merecemos passar por isso constantemente. Acho que o governo deveria dar um pouco mais de atenção aos locais afastados do centro", opina.
Evany Baldes, 55, de Samambaia, tem queixa semelhante. "Onde eu moro, na QR 431, podemos ver muitos locais de escoamento de água entupidos. Mas esse problema é muito por causa das pessoas, que jogam restos de móveis, entulhos, areia e lixo nas ruas. Quando chove, tudo isso vai direto para os bueiros", lamenta, acrescentando que quem paga essa conta são os moradores, até porque, muitas vezes, a água invade as casas. "A classe mais pobre que sofre mais", analisa.
De outro lado, Evany elogia o trabalho de poda de árvores. "Tenho um exemplo da pracinha em frente à minha casa. Lá, tem um pé de manga que estava muito alto e com galhos muito grandes, com risco de caírem. O pessoal podou recentemente. Então posso dizer que, pelo menos na minha região, estou vendo melhorias nesse quesito."
Soluções
Os problemas apontados pelas moradoras estão entre os que mais precisam ser resolvidos. A poda de árvores de forma adequada e, sobretudo, a limpeza de bocas de lobo são ações complementares de manutenção indispensáveis e permanentes como parte da zeladoria da cidade, afirma o professor de Urbanismo e Planejamento Urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), Benny Schvarsberg. "Nem sempre são realizadas de forma sistemática. Vide as tradicionais lagoas formadas nos viadutos transversais ao Eixo Rodoviário e no chamado Buraco do Tatu", observa.
Outras ações são ainda mais impactantes, na ótica do especialista, como é o caso do Drenar-DF. "Apesar de vultosos, os trabalhos foram insuficientes e incompletos até aqui. A construção de rede de drenagem com centenas de bocas de lobo e do Parque Internacional da Paz, com uma bacia de detenção do sistema de drenagem para retenção da sujeira carregada pelas águas de chuva até o Lago Paranoá, são limitadas, infelizmente, até aqui, à faixa inicial da Asa Norte, não se estendendo a toda ela", explica o professor, fazendo um alerta. "O que inclusive põe em risco novamente a UnB, que sofreu com séria inundação e prejuízos materiais devido ao alagamento de águas pluviais acumuladas da Asa Norte", reforça.
O especialista pondera, ainda, que a responsabilidade maior de planejamento de ações públicas é do GDF, mas, no que for possível, os condomínios de blocos, prefeituras de quadras e comércios podem agir com providências nas próprias áreas, "orientando e evitando acúmulo de detritos e lixo nas vias e calçadas".
Prevenção
A Novacap afirma que trabalha diariamente e de forma preventiva na limpeza e desobstrução de bocas de lobo e demais galerias pluviais. Tudo isso, com foco na preparação e melhor escoamento das águas das chuvas. "Cerca de 11 mil bocas de lobo foram limpas somente no ano passado. No primeiro semestre deste ano, foram 2,3 mil", diz, em nota.
De acordo com os técnicos responsáveis pela limpeza, a maior parte do lixo retirado das estruturas é composta por folhas secas e galhos. "Há, ainda, restos de construção, além de garrafas pet e latinhas de alumínio, mas em quantidades menores. Diariamente, cerca de três metros cúbicos desse material são retirados, em média, durante as ações. É importante lembrar que o descarte inadequado de objetos e detritos nas ruas tem sido uma causa significativa de entupimentos, diminuindo a eficiência do sistema de drenagem e aumentando o risco de inundações e alagamentos", destaca a Novacap.
A companhia complementa que 48,5 mil árvores receberam algum tipo de intervenção, seja como supressão, poda ou remoção. "Vale lembrar que a empresa segue um cronograma de atividades e atua de acordo com sua capacidade operacional", complementa.
Tesourinhas
Outro temor, especificamente dos moradores do Plano Piloto, são as inundações nas tesourinhas. "Todos os anos, elas ficam alagadas e causam muitos transtornos aos motoristas. Deveriam dar uma atenção especial para essas áreas", pede Jéssica Jardim, 24, da Asa Sul.
Sobre isso, a Novacap garante que tem atuado em pontos estratégicos. "Após vistoria, foi identificado que algumas tesourinhas necessitavam de adequação e ampliação da rede de captação de água. As manilhas de dreno com espessura de 200mm foram trocadas por outras com 400mm. Além disso, em alguns casos, os poços de visita passam de dois para três, e a quantidade de bocas de lobo saiu de duas para seis", detalha.
A reportagem também contatou a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). O órgão informou que monitora áreas de risco do DF, para verificar ameaças e vulnerabilidades geotécnicas, estruturais e ambientais. São monitorados locais que tenham declive acentuado, erosões, que sejam próximos a córregos e demais cursos d'água, com precariedade dos sistemas de drenagem de águas pluviais, que tenham fragilidades construtivas das edificações, que apresentem acúmulo de resíduos sólidos, como entulho e restos de obras, entre outros problemas.
A Defesa Civil explica que realiza o mapeamento dessas áreas, "de modo a promover ações que possam mitigar os riscos existentes, bem como antever fatores anormais e provocadores de situações de emergência ou calamidades".
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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