contaminação

Estudo da UnB alerta para "níveis de poluição severos" durante incêndios

Projeto monitorou poluição atmosférica relacionada a incêndio no Parque Nacional. Sonda meteorológica captou níveis de contaminação até 16 vezes maiores que os valores de referência estabelecidos pelo Conama

Incêndio no Parque Nacional levou cerca de cinco dias para ser combatido -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Incêndio no Parque Nacional levou cerca de cinco dias para ser combatido - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Na semana passada, os brasilienses sofreram com uma queda acentuada da qualidade do ar, devido as queimadas espalhadas pelo Distrito Federal. Foi difícil respirar em meio a tanta fumaça. O Parque Nacional de Brasília, por exemplo, enfrentou um incêndio que destruiu mais de 2 mil hectares de sua área e levou cerca de cinco dias para ser combatido.

Com a rotina da capital alterada — nos lares, nos comércios e nas instituições educacionais — o professor Carlos Henke, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), foi a campo monitorar o padrão de poluição da atmosfera da Asa Norte, onde está localizado o campus Darcy Ribeiro e em uma área próxima ao parque. 

Mediante uma análise qualitativa, o docente teve como objetivo gerar compreensão sobre o cenário, provocar o debate sobre políticas de prevenção a incêndios e aprimorar a reação de autoridades em eventos futuros.

Emergência

Além do monitoramento móvel, Henke se baseou em dados do sensor de monitoramento de qualidade do ar instalado na Escola Classe 115 Norte. É possível visualizar o monitoramento desta unidade, administrada por cientista da USP, pela internet. O gráfico do sensor mostrou três picos de dispersão de partículas decorrentes do incêndio, entre 16 e 18 de setembro.

Segundo o docente, “tivemos exposições curtas, com concentrações muito elevadas de poluentes, que superaram mil microgramas por metro cúbico”.  A concentração máxima de poluente atmosférico do tipo material particulado fino admitida pela Resolução 506/2024 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em condições de referência é de até 60 microgramas por metro cúbico. A quantidade de 250 microgramas por metro cúbico já configura emergência.

“Eu começo a me preocupar quando sobe acima de 40 por um longo tempo de exposição”, alerta Henke.  Cinco dias após o incêndio ter sido controlado, o nível de poluição captado pela estação da Escola Classe 115 Norte ainda é alto, 84 microgramas/m³.

O mapeamento móvel da poluição feito pelo Projeto Prometeu aconteceu na manhã de 17 de setembro (dia 4 do incêndio) e percorreu por duas horas trecho da UnB à Granja do Torto, retornando pela Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). Nas proximidades do Parque Nacional, a sonda móvel do projeto captou índices máximos de 939 microgramas por metro cúbico de material particulado fino disperso na atmosfera — quantidade até 16 vezes maior que o valor de referência. 

Mal-estar coletivo

A análise do professor Henke, com exposições científicas sobre mecanismos atmosféricos em linguagem acessível, está disponível no canal do YouTube do Projeto Prometeu. “Seria bem importante que as pessoas conhecessem a meteorologia, porque ela explica muitas coisas e permite antever o comportamento de certos fenômenos”, afirma.

Nos comentários, internautas narram o mal-estar sentido durante os dias críticos, entre 14 e 19 de setembro. "Sou morador do bloco em frente a essa escola classe e posso afirmar, senti falta de ar consideráveis na parte da noite, tava impossível isso aqui", denuncia um espectador. Também há queixas sobre ausência de política pública, local e nacional, sobre como proceder em caso de piora na qualidade do ar.

Durante a exposição, Henke ainda lamenta as perdas causadas pelo incêndio ao ecossistema e elogia o trabalho dos brigadistas. “Os impactos à biodiversidade são imensuráveis. Se nós, em Brasília, tivemos essa sensação horrível de não conseguir respirar, imagina o que não é o trabalho do combatente florestal”, ressaltou, criticando o não pagamento de adicional de insalubridade aos brigadistas.

Por fim, o cientista deixa um alerta: “O que aconteceu conosco aqui na capital do Brasil não pode ser uma lição esquecida. Incêndios florestais são terríveis, mas é possível prevenir. É preciso que o Estado invista recurso nos órgãos ambientais. Orçamento para órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) cortado significa incêndio estabelecido.”

Com informações da Universidade de Brasília.

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postado em 25/09/2024 09:46 / atualizado em 25/09/2024 10:41
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