Acidente

Decreto limita tráfego de caminhões em São Sebastião

Medida foi adotada depois de mais um acidente com vítima fatal no trecho da DF-463 que corta a região administrativa. DER vai intensificar a fiscalização na via e explica como os motoristas desses veículos poderão acessar a área

Só há uma área de escape no local:
Só há uma área de escape no local: "Se o problema ocorrer depois desse ponto, podemos ter um desastre" - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Após o acidente no último sábado que deixou 14 feridos e uma pessoa morta, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) vai intensificar a fiscalização na DF-463, principal via de acesso a São Sebastião. A partir de hoje, equipes do órgão farão blitzes educativas informando aos caminhoneiros que a circulação no local está proibida. "É um processo de acomodação. Neste primeiro momento, não vamos multar as pessoas", explica o presidente da autarquia, Fauzi Nacfur Júnior. 

Na tarde de ontem, em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), o governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou o decreto que proíbe o tráfego de caminhões na via. O documento informa ainda que apenas veículos de emergência e os destinados a serviços públicos essenciais poderão transitar por ali. Casos excepcionais e a fiscalização do cumprimento do decreto ficarão a cargo do DER. 

Fauzi respondeu que a autarquia não estuda mudanças no traçado da via para evitar novos acidentes. "A pista não tem problema de traçado. O que causa os acidentes é o declive muito acentuado. Caminhões acabam ganhando velocidade e, por excesso de carga ou falta de manutenção nos freios, acabam perdendo o controle. É bem sinalizada e tem área de escape", detalha.

A nova rota de acesso a São Sebastião será a segunda entrada da cidade, pela BR-251. "É uma volta de 15km. A gente sabe que não é bom, mas é a alternativa para salvar vidas", justifica o presidente do DER.

Contraponto

Caminhoneiro há mais de 20 anos, Edmilson dos Reis, 51, acredita que faltam áreas de escape — espaços de contenção para ajudar na frenagem de veículos descontrolados — na DF-463. "Temos uma, mas não resolve muita coisa, porque, caso o caminhão dê problemas após aquela região, podemos ter um desastre. Precisamos de, no mínimo, mais três caixas de brita", observou.

Os motoristas Moisés, José e Ricardo também pedem mudanças na via, pensando na segurança da população, mas acreditam que um desvio seria inviável. "O frete ficaria mais caro e iria doer no bolso dos lojistas e consumidores. Sem contar que a outra rota tem descida do mesmo jeito", pontuou Ricardo.

Susto

"Não dava tempo nem para pensar, apenas correr", disse Maria de Lourdes Freitas, 57, proprietária da loja atingida pelo caminhão. "Ficamos desesperados porque o caminhão estava vindo em nossa direção e eu não sabia onde ele iria parar. Ainda bem que não chegou a entrar de fato no meu estabelecimento, mas destruiu muitos mostruários que estavam na frente dele, como churrasqueiras, grades, fechaduras, mangueiras, entre outros", reforçou.

A loja atingida está em funcionamento, mas os prejuízos ainda não foram calculados. "A empresa do caminhão entrou em contato conosco e falou que vai arcar com os prejuízos. Ainda estamos fazendo alguns orçamentos para saber o valor que será gasto", destacou.

O acidente acabou levando, de forma trágica, a vida de Maria Antonieta Menezes, 62. A vítima teve o corpo sepultado na cidade natal, em Caucaia, no Ceará, ontem, às 14h30. Amanda Soares, parente de Maria, destacou que o sentimento da família é um misto de revolta pelo ocorrido e aceitação, pois é algo que pode acontecer com qualquer pessoa.

Urgência

A proibição do tráfego de caminhões no trecho da DF-463 que corta São Sebastião é uma medida necessária pela urgência, disse Paulo Cesar Marques, professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB). "Agora, é uma medida que demonstra que pouca atenção tem sido dada para entender, de fato, o que está acontecendo e quais são as medidas mais efetivas a médio e longo prazo para resolver a situação", detalhou.

Os caminhões em bom estado e com sistemas de freios modernos representam menos riscos ao transitarem pela região, observou David Duarte, doutor em segurança de trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Segurança do Trânsito (ITS). "O que acontece é que o valor dos fretes para materiais como ferro, cimento e pedras é mais barato e não compensa colocar caminhões modernos para fazer esse tipo de transporte. E os caminhões que aceitam muitas vezes não têm as devidas manutenções", finalizou, dizendo que os motoristas também têm que sustentar a família e o dinheiro não sobra para esses ajustes.

Rotina

Acidentes envolvendo veículos desgovernados não são raros no trecho da DF-463 que corta São Sebastião. Em setembro, um caminhão carregado de tijolos colidiu contra vários veículos, depois que o motorista perdeu o controle. Na ocasião, um motociclista foi atingido, socorrido, mas, infelizmente, não resistiu.

Depois de perder os freios, um ônibus desgovernado arrastou diversos carros na mesma avenida. Além de veículos, o ônibus também bateu contra várias árvores. O acidente foi em maio, e não houve vítimas fatais.

* Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho

 


  • Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição
    Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição
    Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição
    Acidente na avenida principal de São Sebastião deixa rastro de destruição Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
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postado em 24/09/2024 06:00
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