PATRIMÔNIO

GDF suspende alvarás de construção de atacadista perto do Mané Garrincha

Medida foi assinada na noite desta sexta pelo secretário de Desenvolvimento Urbano. Com isso, as obras serão interrompidas

Obra foi retomada em maio, após ter sido embargada por falta de documentação -  (crédito: Giovana Sfalsin/CB/D.A Press)
Obra foi retomada em maio, após ter sido embargada por falta de documentação - (crédito: Giovana Sfalsin/CB/D.A Press)

O Governo do Distrito Federal (GDF) suspendeu, na noite desta sexta-feira (20/9), dois alvarás que autorizavam a construção de um empreendimento de uma rede atacadista nas proximidades do Estádio Mané Garrincha.

Um documento obtido pelo Correio, assinado pelo secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), Marcelo Vaz, determinou à Central de Aprovação de Projetos (CAP) a suspensão imediata dos alvarás que permitiam a construção do atacadão.

“O presente processo foi instaurado com o objetivo de apurar possíveis irregularidades veiculadas por portais de notícias que relatam a construção de um estabelecimento atacadista no Setor de Recreação Pública Norte (SRPN) – Área A, especificamente na unidade imobiliária onde está localizado o Estádio Nacional Mané Garrincha”, cita o documento.

Os alvarás permanecerão suspensos, de acordo com o texto, "até que sejam apuradas as características das edificações em construção e a respectiva conformidade com as licenças emitidas".

A decisão de vetar o projeto partiu do governador Ibaneis Rocha (MDB). Após a medida, a concessionária Arena BSB, responsável pela gestão da área, recuou e optou por “suspender as obras até garantir o alinhamento do projeto com os interesses dos cidadãos de Brasília” (veja a nota completa abaixo).

A área é destinada a edificações voltadas para o esporte, lazer e comércio associado e a construção de um atacadão gerou resistência dentro do governo. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu um inquérito para investigar o caso.

Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou à reportagem que realizará uma vistoria no empreendimento. Equipes serão enviadas ao local até terça-feira (24/9) para verificar se a intervenção está de acordo com as etapas previstas no projeto. É previsto no local um atacadão do grupo Costa.

Polêmicas

A reportagem do Correio mostrou, na noite de quinta-feira (19/9), que a construção tem gerado polêmica entre urbanistas, por ferir regras do uso e ocupação do solo, além de contrastar com a qualidade das construções que fazem parte do Eixo Monumental. Mesmo que a área seja destinada a edificações de caráter esportivo, lazer e comércio associados, o urbanista Pedro Grilo apontou irregularidades. "O que vemos é uma concessão que realizou um concurso a contragosto. O projeto vencedor é magnífico, mas nunca foi executado. Em vez disso, a concessionária tem feito uma série de intervenções inadequadas no entorno do estádio, cercando-o para a realização de eventos. Isso é inaceitável, pois nada no Eixo Monumental deveria ser cercado", criticou.

Grilo ainda acrescentou sinalizando que a qualidade das obras é duvidosa. "Essas ações tornam o local, que já é inóspito e precário, ainda mais desagradável. As intervenções provisórias contrastam fortemente com a qualidade das obras existentes no Eixo, como o Palácio do Buriti", concluiu.

Frederico Flósculo, urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), destacou que ainda existem impasses sobre o uso do solo. "Há um problema sério na condução das propostas, que deveriam ser baseadas em análises diagnósticas e pesquisas. Brasília tem espaço suficiente para que muitas intervenções ocorram sem afetar o tombamento", criticou.

Flósculo também ressaltou a falta de fundamentação técnica nas decisões. "As políticas públicas precisam ser realizadas de maneira científica e técnica. Não estamos vendo isso acontecer. Algumas decisões podem não violar o tombamento, mas ferem o bom senso. O GDF deveria ouvir mais a população, e isso não está sendo feito", completou.

Embargo e regularização

A obra havia sido embargada em 2023 por falta de alvará da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal (Seduh-DF), mas foi retomada em maio deste ano. Segundo a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), o embargo foi aplicado justamente pela ausência do alvará, documento necessário para a construção. Com a obtenção da autorização, as obras foram retomadas e, com a nova determinação, suspensas. 

Leia a nota da Arena BSB

A concessionária Arena BSB esclarece que as obras iniciadas recentemente são parte de uma nova área comercial e de entretenimento, que vai trazer ainda mais opções de lazer para a população brasiliense. 

Buscando sempre a transparência e o diálogo, paralisaremos estas obras até garantir o alinhamento do projeto com os interesses dos cidadãos de Brasília, através do diálogo com as autoridades competentes. 

Desde que assumiu a concessão, a Arena BSB sempre esteve empenhada em modernizar os equipamentos concedidos, e já se tornou uma referência no turismo de nossa cidade, recolocando Brasília no roteiro dos grandes shows e eventos esportivos nacionais e internacionais.

 

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postado em 20/09/2024 23:18
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