Com ausência das chuvas, a poeira e a fumaça no ar abrem as portas para o aparecimento de inúmeras enfermidades. Segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), doenças respiratórias, desidratação e doenças diarreicas — provenientes do aumento da circulação de vírus, como o rotavírus — estão entre os casos mais frequentes nos atendimentos da rede pública de saúde.
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Jennifer Emerick, médica especialista em clínica médica, informou que as doenças podem atingir diferentes áreas do corpo humano. No caso do sistema respiratório, o ar seco e a fumaça irritam as vias aéreas, aumentando o risco de crises asmáticas. A inflamação dos brônquios é exacerbada pela poluição e a presença de partículas suspensas no ar, causando bronquiolite. A poeira e as partículas provenientes das queimadas desencadeiam alergias, provocando crises de espirros, coriza e congestão nasal — a famosa rinite alérgica. A baixa umidade e a poluição contribuem para a inflamação dos seios nasais, levando a infecções e aumento das crises de sinusite.
Nos olhos, é comum o aparecimento de conjuntivite alérgica, pela exposição prolongada à poeira e à fumaça, que irrita os olhos, causando inflamação e desconforto. Na pele, pode haver desidratação e o aparecimento de doenças, como ressecamento, lábios rachados e irritações cutâneas.
"Quando a seca e a fumaça estão presentes, algumas medidas podem ajudar a proteger a saúde e minimizar os impactos das doenças, como evitar atividades físicas ao ar livre, pois a respiração intensa aumenta a inalação de partículas poluentes, e usar máscaras de proteção, como as do tipo N95, que ajudam a filtrar partículas finas e irritantes presentes no ar. Também é importante evitar a utilização de produtos de limpeza com odores fortes, velas e incensos, que podem piorar a qualidade do ar e aumentar a irritação nas vias aéreas", apontou a especialista. Para os olhos, o uso de colírios lubrificantes ajudam a proteger contra o ressecamento e os óculos de sol também são recomendados pela especialista.
No Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), a equipe de reportagem encontrou Antônia Teixeira, 42 anos, que levou os dois filhos para serem atendidos. Miguel, de oito anos, e Ayla, de cinco, estavam com alergias causadas pelo calor. "A gente veio domingo, pois o Miguel estava com muita coceira e vermelhidão no rosto, no pescoço e nos olhos. A médica disse que era por conta do clima e passou um anti-inflamatório. Mas não melhorou, então voltamos", disse. "A Ayla está com demartite no pescoço por conta do calor e do suor", completou.
Já a vendedora Amanda Soares, 30, procurou atendimento no hospital para o filho, Bento, de quatro meses. O menino nasceu prematuramente e, por isso, sofre de desconfortos respiratórios. Com a seca e a presença de fumaça e poeira, a mãe conta que ele tem sofrido mais.
A especialista alerta que crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias crônicas fazem parte do grupo vulnerável. "Essas pessoas devem receber atenção especial, sendo necessário, muitas vezes, limitar a exposição externa e aumentar a hidratação", ensinou a médica.
A SES-DF orienta que, nesse período, a população beba bastante líquido, mantenha portas e janelas fechadas, e use máscara quando estiver próxima aos locais de queimadas. Quando os sintomas forem pertinentes, a ajuda médica deve ser buscada. Em caso de sintomas relacionados a problemas respiratórios, orientamos que procure uma de nossas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), ou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
Qualidade do ar
Depois de quatro dias, a qualidade do ar em Brasília passou de insalubre e moderada para boa na manhã de ontem. Segundo a plataforma internacional IQAir, a concentração de partículas do tipo PM 2,5, atualmente, atende às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) pontua que as partículas do tipo PM2,5 são um tipo de poluente atmosférico com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros. Elas podem ser inaladas e penetrar na região torácica do sistema respiratório — podendo causar problemas de saúde. Para a OMS, o número de partículas que representa "nível seguro" de PM 2,5 é cinco microgramas por metro cúbico.
Na terça-feira, o DF registrou concentração de poluentes 11,1 vezes maior do que o valor anual recomendado pela OMS. Já o índice de qualidade do ar na capital era insalubre para grupos sensíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas. O céu da capital estava encoberto de fumaça por causa do incêndio que atingiu o Parque Nacional no último domingo. Na quarta-feira, o índice foi considerado moderado, mas a concentração de PM 2,5 ainda continuava acima do recomendado.
(Artigo)
Incêndio queimando a cidade-parque
Por Benny Schvarsberg, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB
Brasília foi concebida como cidade-parque, daí os generosos espaços verdes livres e públicos que compõem, sobretudo, a sua escala bucólica, mas também as escalas residencial e monumental da cidade. Essa concepção do projeto original vencedor do concurso de 1957, garantida pela legislação de preservação patrimonial, sempre foi celebrada e reconhecida pelos moradores e visitantes como um urbanismo ambientalmente agradável, mesmo nos sazonais períodos de seca.
Os incêndios recentes colocaram a capital no noticiário nacional, ao lado de São Paulo e outras cidades, como um país em chamas. Eles podem ser vistos como fruto de multifatores como a crise dos extremos climáticos do planeta, aqui percebidos numa das secas mais prolongadas da história de Brasília (mais de 140 dias), ao qual se associam intencionalidades excusas ambientalmente criminosas, e a negligência do poder público em antecipar e planejar ações preventivas mitigadoras. Um aspecto chama atenção: os focos mais graves não se dão, felizmente, por enquanto, nos parques urbanos centrais, nas superquadras residenciais, bordas do lago ou eixos monumental e rodoviário; eles ocorrem em áreas menos adensadas de população e atividades, portanto de menor visibilidade e acesso cotidiano da população, o que não os torna menos impactantes, vide os efeitos prolongados na qualidade do ar da cidade chegando a suspender atividades escolares e afetando a saúde da população.
É um alerta de que, além de enfrentar aqueles focos e suas consequências, outras medidas e campanhas, urgentes e preventivas, devem ser tomadas de forma planejada em todo o Distrito Federal pelo poder público envolvendo toda a população. Sem alarmismo, os fatos demonstram que o DF está sob grave risco ambiental.
Além de ações imediatas, cabe também um planejamento de medidas territoriais de médio e longo prazos, pois tudo indica que a crise e os extremos climáticos não são passageiros. Uma delas, de cunho urbanístico e ambiental integrado, é elaborar um plano que reveja e redesenhe o uso e a ocupação do solo nas áreas lindeiras ao Parque Nacional e à Flona, além de outras áreas semelhantes. A tragédia das enchentes do Sul deu uma triste, mas clara lição, de que o Poder público e a sociedade civil não podem ser omissos, muito menos coniventes, diante de tragédias reiteradamente anunciadas por técnicos e cientistas.
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Incêndio queimando a cidade-parque
Brasília foi concebida como cidade-parque, daí os generosos espaços verdes livres e públicos que compõem, sobretudo, a sua escala bucólica, mas também as escalas residencial e monumental da cidade. Essa concepção do projeto original vencedor do concurso de 1957, garantida pela legislação de preservação patrimonial, sempre foi celebrada e reconhecida pelos moradores e visitantes como um urbanismo ambientalmente agradável, mesmo nos sazonais períodos de seca.
Os incêndios recentes colocaram a capital no noticiário nacional, ao lado de São Paulo e outras cidades, como um país em chamas. Eles podem ser vistos como fruto de multifatores como a crise dos extremos climáticos do planeta, aqui percebidos numa das secas mais prolongadas da história de Brasília (mais de 140 dias), ao qual se associam intencionalidades excusas ambientalmente criminosas, e a negligência do poder público em antecipar e planejar ações preventivas mitigadoras. Um aspecto chama atenção: os focos mais graves não se dão, felizmente, por enquanto, nos parques urbanos centrais, nas superquadras residenciais, bordas do lago ou eixos monumental e rodoviário; eles ocorrem em áreas menos adensadas de população e atividades, portanto de menor visibilidade e acesso cotidiano da população, o que não os torna menos impactantes, vide os efeitos prolongados na qualidade do ar da cidade chegando a suspender atividades escolares e afetando a saúde da população.
É um alerta de que, além de enfrentar aqueles focos e suas consequências, outras medidas e campanhas, urgentes e preventivas, devem ser tomadas de forma planejada em todo o Distrito Federal pelo poder público envolvendo toda a população. Sem alarmismo, os fatos demonstram que o DF está sob grave risco ambiental.
Além de ações imediatas, cabe também um planejamento de medidas territoriais de médio e longo prazos, pois tudo indica que a crise e os extremos climáticos não são passageiros. Uma delas, de cunho urbanístico e ambiental integrado, é elaborar um plano que reveja e redesenhe o uso e a ocupação do solo nas áreas lindeiras ao Parque Nacional e à Flona, além de outras áreas semelhantes. A tragédia das enchentes do Sul deu uma triste, mas clara lição, de que o Poder público e a sociedade civil não podem ser omissos, muito menos coniventes, diante de tragédias reiteradamente anunciadas por técnicos e cientistas.
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