Os moradores de Brasília ficaram impressionados com o paredão de fumaça provocada por um incêndio florestal que começou domingo (15/9), às 11h20, na Granja do Torno e se alastrou para o Parque Nacional de Brasília. Dois bombeiros sofreram ferimentos. Até a última atualização desta reportagem, as chamas haviam atingido 1,2 mil hectares de Cerrado, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela área. Hoje, o DF completa 146 dias sem chuva, a terceira pior seca da capital.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) informou, por meio de suas redes sociais, que dois bombeiros militares ficaram feridos durante a operação de combate ao fogo. Eles foram encaminhados ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Estamos atentos às queimadas ocorridas hoje (...). Graças a Deus, os ferimentos dos bombeiros foram leves. Cerca de 80 pessoas continuam no combate aos focos. Pedimos que todos colaborem, evitem o descarte irregular de materiais, não queimem folhas secas e entulho e ajudem na prevenção”, pediu Ibaneis.
Ao Correio, o presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Rôney Nemer, destacou a importância da preparação para o combate a incêndios florestais, especialmente durante o período de estiagem. “A primeira coisa que tem que ficar bem clara no combate ao incêndio florestal é que ele prejudica muito a qualidade do ar, com as fuligens e a fumaça, além da baixa umidade típica de Brasília nessa época. Essa poluição acaba causando muitas infecções e doenças respiratórias”, explicou.
Nemer ressaltou que o combate às queimadas não se restringe apenas ao momento do fogo. “Temos que preparar tudo, fazer os aceiros, utilizar os equipamentos adequados”, afirmou. Segundo ele, o Instituto Brasília Ambiental tem conseguido contratar brigadistas temporários, desde agosto, para realizar a prevenção e equipar os profissionais “Este ano, conseguimos fazer todo o preparo necessário para diminuir a possibilidade de incêndios de grande proporção”, detalhou.
“Temos que fazer um período de prevenção, porque todo o ano tem seca e, consequentemente, incêndios. É necessário termos brigadistas durante todo o ano e, por isso, defendo a terceirização com uma empresa que tenha uma expertise, para que fiquem conosco durante todo o ano”, concluiu.
O parque ficará fechado para visitas devido ao incêndio.
Combate
As operações de combate envolveram 20 brigadistas do ICMBio, 30 militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) e cinco brigadistas do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
Conforme o CBMDF, o combate inicial contou ainda com sete viaturas, apoio de duas aeronaves e de um drone. Embora parte das chamas tenha sido controlada, a fumaça se espalhou por diversas regiões administrativas do Distrito Federal. Até o fechamento desta edição, as equipes trabalhavam para extinguir o fogo. Enquanto as ações de combate ao fogo estiverem acontecendo, o parque permanecerá fechado.
Somente no sábado, os bombeiros contabilizaram 50 focos de incêndio. De janeiro a 10 de setembro, foram registradas 10.213 ocorrências. No ano passado, de janeiro a 31 de agosto, foram 4.180 episódios.
Tempo
O DF enfrentará mais uma semana de calor intenso e tempo seco, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “No decorrer desta semana, o sol deve predominar entre poucas nuvens, sem previsão de chuva. As temperaturas estarão elevadas e a umidade do ar bastante baixa, resultado da atuação de uma intensa massa de ar quente e seco. Durante o dia, essas condições favorecem a formação de névoa seca em algumas áreas do DF”, explica o meteorologista do Inmet Heráclio Alves.
Ontem, a temperatura mínima registrada na capital foi de 16ºC e a máxima chegou aos 32ºC. Hoje, as temperaturas mínimas devem variar entre 12°C e 15°C, nas primeiras horas da manhã. As máximas podem atingir entre 31°C e 34°C, no meio da tarde. A umidade relativa do ar, que atinge 75% no início do dia, deve cair drasticamente à tarde, com mínima prevista de 15%. “Pontualmente, não se descarta a possibilidade de a umidade atingir valores abaixo dos 15%”, alerta.
*Colaborou Letícia Guedes
Saiba Mais
Orientações
Prevenção e combate a incêndios florestais
» Ligar imediatamente para o Corpo de Bombeiros, telefone 193, caso aviste um incêndio florestal;
» Não jogar lixo em áreas florestais;
» Evitar o uso do fogo em lixo, restos de poda e na limpeza deáreas agrícolas;
» Adotar práticas agrícolas sustentáveis;
» Manter aceiros ao redor de áreas de cultivo e pastagem –essa medida é crucial para impedir a propagação do fogo.
Fonte: Sema-DF
POVO FALA
"Estava em um almoço de família aqui no Noroeste e deu para ver a fumaça com bastante intensidade. Nunca tinha visto nada parecido por aqui dessa proporção. Não assustou porque sabemos que está tendo muito incêndio, mas incomoda muito. Já temos clima seco e umidade baixa. Já é difícil dormir e respirar, junta a fumaça e piora muito".
Joabh Nascimento, 38 anos, policial militar, Noroeste
"Deu para assustar. Moro na Asa Norte e estava, inclusive, sentindo um cheiro muito forte de queimado. Sou cientista ambiental de formação e fico muito preocupada com o nosso bioma Cerrado. Espero que passe logo e que os órgãos responsáveis consigam dar uma solução para os incêndios que têm sido cada vez mais constantes"
Daiana dos Santos Ferreira, 28 anos, influenciadora, Asa Norte
"Desde cedo, foi possível ver a fumaça se alastrando aqui na 213 Norte. É muito ruim para a saúde. Inalar fumaça assim favorece doenças pulmonares e há também doenças de pele relacionadas com a seca e a fumaça. As pessoas devem evitar jogar ponta de cigarro na rua, porque contribui para incêndios"
Itamar Alves Barbosa Neto, 38 anos, médico, Lago Norte
"Hoje o céu tava mais azul, então deu pra ver bem a fumaça que tomou conta do céu. Pensei que pudesse ser um incêndio de origem química, depois vi que foi um incêndio florestal. A umidade está tão baixa nos últimos dias que esse incêndio mal fez diferença no meu dia, porque já estamos acostumados a ter dificuldade de respirar. Fico sensibilizado com a vegetação que está sendo destruída"
Kwame de Melo, 55 anos, educador físico, Cruzeiro
Três perguntas para
Rôney Nemer, diretor-presidente do Ibram
Como o Ibram está atuando no combate aos incêndios no DF?
Estamos trabalhando intensamente para que essa situação se normalize. Não concordamos com a contratação de brigadistas em contratos de apenas seis meses. Apagar e combater focos de incêndio vai além disso. É fundamental investir em prevenção e conscientizar a população a não jogar bitucas de cigarro no chão e a não provocar incêndios. Por isso, estamos em diálogo com o Corpo de Bombeiros (CBMDF) para encaminhar um projeto ao Tribunal de Contas do DF (TCDF), solicitando a contratação de brigadistas por períodos mais longos. Todos os anos enfrentamos a seca, e, com a prevenção adequada, conseguiremos controlar melhor os incêndios, contando com brigadistas atuando o ano inteiro.
O que está sendo feito para melhorar a qualidade do ar dos brasilienses, que vem sendo impactada pelos incêndios florestais?
Para combater situações como essa, adquirimos abafadores e outros equipamentos que podem ser usados em nossas unidades de conservação. Além disso, mantemos um grupo de WhatsApp com o governador Ibaneis Rocha (MDB) e a vice-governadora Celina Leão (PP), no qual nos comunicamos diariamente para discutir as medidas que podem ser tomadas neste período crítico. O governador, inclusive, formou um grupo de trabalho para tratar especificamente da qualidade do ar e autorizou a aquisição de duas torres de monitoramento. A longo prazo, planejamos instalar essas torres em todas as cidades do Distrito Federal.
Que recomendações o senhor dá aos moradores do DF?
O que temos observado é que muitas pessoas estão colocando fogo deliberadamente nas nossas matas. Pedimos que essas práticas cessem, pois são extremamente prejudiciais ao nosso bioma e a todos nós. O Cerrado é resiliente e consegue se regenerar, mas os animais, infelizmente, não. Aqueles que morrem não voltarão. É importante que as pessoas tenham consciência disso e ajam de forma responsável.
Crime
Pprovocar incêndio em mata ou floresta é crime ambiental definido no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais, com previsão de pena de reclusão de dois a quatro anos. Causar incêndio expondo a vida, integridade física ou patrimônio de outro a perigo sujeita o infrator a reclusão de três a seis anos (artigo 250 do Código Penal), com pena acrescida de um terço se o incêndio for lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Onde denunciar incêndios florestais criminosos
162 — Ibram
190 — Polícia Militar
193 — Bombeiros
99224-7202 — Centra de Denúncias
Parque
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