Nem todos os jovens que chegam à idade adulta têm as mesmas oportunidades de seguir uma carreira profissional. Dados do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (Ipedf — Codeplan) indicam que em 2022 cerca de 20% dos brasilienses entre 15 e 29 não trabalhavam nem estudavam. Por isso, o trabalho de organizações não governamentais (ONGs) na capacitação para o trabalho mostra sua importância ao oferecer uma chance de conquistar o tão sonhado primeiro emprego.
Um exemplo de ONG que trabalha com esse propósito é o Jovem de Expressão. Nascido em Ceilândia, o programa, hoje, tem seu espaço reservado na Praça do Cidadão e atrai jovens de todo o DF que buscam se expressar por meio da arte. A iniciativa surgiu após um estudo que identificou pessoas negras de áreas de periferia, como Ceilândia, como as grandes vítimas da violência na capital federal.
Para afastar os jovens dessa realidade, o Jovem de Expressão foi inaugurado há cerca de 17 anos no centro da região administrativa. Com aulas variadas dentro do mundo cultural, pessoas entre 15 e 29 anos encontram no espaço uma oportunidade de seguir seus sonhos e crescer na vida. A psicóloga Yasmin Moreira da Silva, 26, que trabalha no programa, explica que o projeto é dividido em quatro áreas: cultura, educação, empreendedorismo e saúde mental, da qual é coordenadora.
Oportunidades
Rafael Mamede, de 19 anos, é um dos jovens ceilandenses que acharam no Jovem de Expressão um caminho para seguir seus sonhos. Sem uma câmera, o jovem encontrava dificuldades para explorar sua paixão pelo cinema, mas o programa na Praça do Cidadão proporcionou a ele um começo.
"Acho que não teria essa oportunidade em nenhum outro lugar, principalmente na questão do cinema. Eu não conheço nenhuma oficina, curso ou outra coisa voltada para o cinema que seja parecida com isso aqui em Brasília, muito menos em Ceilândia. É tudo bem rápido, a gente aprende muito na prática desse jeito. Eu tive quatro produções neste ano, e nunca tinha tido experiência com nada do tipo", relata o aluno.
Há poucos meses no Jovem de Expressão, Mamede fez cursos de roteiro e direção para cinema, introdução ao audiovisual, e agora está aprendendo fotografia. O jovem cineasta relata que sempre divulga o programa para amigos e vizinhos de sua comunidade e acredita que vem crescendo profissionalmente e pessoalmente com a ajuda das aulas.
Ensinamentos
Professora de Rafael, Tatiana Reis acredita que, hoje, a fotografia é uma prática mais procurada pela sociedade. Com os avanços da tecnologia, os celulares servem como câmeras fotográficas mais acessíveis, e ela sugere que os alunos procurem as aulas por causa disso. Além de incentivar o uso dos celulares, as aulas da professora de 39 anos também oferecem máquinas para os que têm ambição de seguir a carreira, mas ela elogia a disposição dos alunos para buscarem as suas próprias máquinas.
"A gente sabe que o acesso a esses equipamentos fotográficos é um pouco difícil, mas a gente percebe que os meninos têm se esforçado para comprar suas primeiras câmeras, de segunda mão mesmo. Então, eu consegui perceber que, de um tempo pra cá, eles têm buscado se profissionalizar ao ir atrás desse equipamento", celebra.
Há mais de uma década lecionando no Jovem de Expressão, Tatiana comenta que muitos dos alunos que atendeu já haviam terminado a escola, mas não conseguiam ingressar em uma faculdade, tendo no programa um escape para continuar a vida profissional. Ela lembra que, hoje, vê ex-pupilos seguindo carreira na fotografia e até se tornando colegas.
Capacitação
Outra ONG que atua no DF, com sede em São Paulo, é o Instituto PROA. Criado em 2007, o programa abrange 35 mil jovens no Brasil, incluindo cerca de mil alunos no Distrito Federal. O trabalho desenvolvido pelo grupo atende a jovens entre 17 e 23 anos, de escolas públicas e baixa renda, e os prepara por meio de aulas virtuais para seus primeiros empregos. CEO do PROA, Alini Dal'Magro, 35, exalta a importância de conectar essas pessoas com o mercado de trabalho.
"O nosso trabalho é garantir que o jovem tenha uma boa formação e que ele consiga um bom primeiro emprego. E a partir disso, que ele mude a vida dele, gere imposto para o governo, melhore a sua comunidade e, assim, quebre o ciclo da pobreza", destaca.
Para fazer essa ponte, o PROA pergunta diretamente às empresas o que procuram em alguém que esteja buscando o primeiro emprego. Baseado nessas respostas, é produzido um curso que oriente os melhores passos para os alunos seguirem, trabalhando competências como autoconhecimento, noções de carreiras, projetos profissionais, comunicação e raciocínio lógico.
Ao término do curso, de três meses, o instituto encaminha os jovens a uma experiência profissional monitorada de seis meses. Alini afirma que, no DF, há uma taxa de empregabilidade de 70% entre alunos recém-formados no PROA, em até meio ano. Dessa maneira, o programa segue acompanhando os jovens após sua conclusão para garantir que tenham melhores chances de conquistar seu espaço no mercado.
* Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho
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