O delegado aposentado Luiz Ricardo e Silva, de 58 anos, foi assassinado com três tiros na cabeça enquanto dormia, entre a noite da última quinta-feira (05/09) e a manhã de sexta-feira (06/09). No mesmo dia, o suspeito foi identificado, preso e confessou o crime. O acusado é Kayky Bastos Ferreira, de 20 anos. Segundo familiares do servidor público, Kayky, garçom no Gama, e Luiz se conheciam há cerca de um mês. Na quinta-feira à tarde, eles saíram juntos para tomar açaí em Taguatinga com outros amigos. Depois disso, Kayky e Luiz dormiram na casa do delegado, localizada em Vicente Pires, que funcionava como um espaço de lazer, já que Luiz morava com a mãe em Taguatinga.
As suspeitas surgiram quando a mãe do delegado aposentado estranhou a ausência do filho, que costumava aparecer no almoço para preparar comida para a família, mesmo quando dormia fora. Preocupada, a idosa de 83 anos ligou para o filho de Luiz e expressou sua inquietação. O rapaz foi até a casa do pai, mas ninguém atendeu o portão. Ele notou que o carro não estava na garagem e decidiu entrar. No quarto, encontrou o corpo de Luiz em cima da cama, já sem vida.
O jovem conversou com o Correio, mas preferiu não se identificar. "Fomos até a casa dele para saber o que havia acontecido. Desconfiamos porque hoje (sexta-feira) era a festa de aniversário de um sobrinho e todos iriam almoçar, mas ele não apareceu. Quando chegamos, encontramos ele já sem vida no quarto", detalhou.
Kayky foi preso na noite de sexta-feira em uma operação conjunta da Polícia Militar (PMDF) e da Polícia Civil (PCDF). O delegado Pablo Aguiar, responsável pelo caso e chefe da 38ª Delegacia de Polícia de Vicente Pires, descreveu o autor como um "psicopata". Após o latrocínio — roubo seguido de morte —, o garçom foi trabalhar normalmente, como se nada tivesse acontecido. Segundo o delegado Pablo Aguiar, a polícia soube que a vítima havia ido tomar açaí no dia anterior e, ao investigar as pessoas presentes no local, obteve o nome do suspeito. "Encontramos Kayky após verificar o Instagram da vítima", afirmou.
Durante o interrogatório, Kayky confessou o crime, mas não apresentou uma motivação clara. A polícia constatou que o delegado estava dormindo no momento da execução. "Pela manhã, por volta das 7h, ele acordou, pegou a arma da vítima dentro da mochila e deu três tiros sem sequer ligar a luz do quarto", explicou o delegado Pablo Aguiar.
Kayky deixou a casa por volta das 7h50 no carro de Luiz, um Corolla cinza. Ele levou os cartões bancários e a arma da vítima. Segundo as investigações, o assassino circulou pelo Distrito Federal com o veículo, tinha cerca de 800 reais em espécie e efetuou mais de R$ 700 em compras com os cartões roubados antes de seguir para o trabalho na região do Gama.
A atitude fria e cruel de Kayky chamou a atenção da polícia. "Ele demonstrou traços de psicopatia, pois foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. Em seu depoimento, evidenciou uma insensibilidade perturbadora ao matar uma pessoa indefesa", destacou Aguiar.
Kayky contou aos policiais que estava organizando uma festa no seu local de trabalho e usou o carro da vítima para comprar bebidas e outros itens ao longo do dia. Ele alegou que, devido à correria, "não teve tempo para pensar no que havia feito".
O tenente Nicolas Valle, da PMDF, comandou a operação que resultou na prisão do garçom. Os militares receberam informações dos policiais civis e iniciaram o patrulhamento na região do Gama. "Vimos o autor saindo do bar onde trabalhava, fizemos a abordagem e ele não tentou fugir nem demonstrou arrependimento."
Os policiais recuperaram o carro, a arma, uma pistola .40 e outros objetos pertencentes à vítima. Kayky já tinha uma passagem por roubo e agora responderá por latrocínio. "A PCDF e a PMDF estão de luto pela perda de um colega, especialmente de forma tão covarde. Embora Luiz não possa voltar, o trabalho foi feito", concluiu o delegado Pablo Aguiar.
Aposentadoria
Luiz Ricardo ingressou na PCDF em fevereiro de 1996 e se aposentou recentemente, em 8 de abril, conforme publicado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). Durante sua carreira, atuou como coordenador de plantão nas duas Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DCA) do Distrito Federal.
Em 2016, também exerceu a função de diretor da Penitenciária do Distrito Federal II (PDF II), no Complexo Penitenciário da Papuda. O ex-diretor-geral da PCDF Eric Seba lamentou profundamente a perda do colega. "Estou em completo choque. Trabalhei com ele em várias unidades, tanto circunscricionais quanto especializadas. Era uma pessoa fantástica, um ser humano excepcional. Nunca o vi de mau humor ou com energia negativa. É uma perda lamentável", declarou o delegado aposentado.
Condolências
O Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, lamentou o ocorrido e parabenizou a rápida ação da polícia. "Teremos mais detalhes em breve. É muito pesado ver um crime assim, dentro da casa de um policial civil. É importante a pronta resposta e a rápida prisão do criminoso", disse.
A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (Sindepo),Cláudia Alcântara, relata que a corporação está abalada e jamais esperaria que um delegado partisse como vítima de um crime dessa natureza. "Ele era uma pessoa que por 30 anos se dedicou ao combate ao crime. Nos formamos na mesma turma de delegados, sempre foi um profissional exemplar, extremamente amigável e disposto a ouvir os colegas. O sindicato está à disposição da família ", lamentou.
O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) expressou profunda tristeza com o caso. "Sua trajetória na Polícia Civil do DF foi marcada pela dedicação e compromisso com a segurança pública. Seu legado permanecerá vivo entre todos que tiveram o privilégio de conviver e aprender com ele. O Sinpol-DF se solidariza com familiares, amigos e colegas neste momento de imensa dor", relatou em nota.
O velório está marcado para este domingo (08/09), das 13h30 às 15h30, no cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, capela 1. O corpo será cremado, atendendo à vontade de Luiz Ricardo.
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