Internada no Centro de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Gran), Maria das Graças, mãe de Graciane Rosa de Oliveira, 35 anos, que morreu durante um incêndio em Valparaíso (GO), conversou com um familiar e contou sua versão. A mulher disse que, no momento da explosão no apartamento, estava na cozinha e ouviu o barulho vindo da sala. A Polícia Civil (PCDF) trabalha com duas hipóteses: vazamento de gás ou combustão do produto usado para impermeabilizar o sofá do imóvel.
Maria das Graças teve 30% do corpo queimado e passou por uma cirurgia nesta segunda-feira (2/9), segundo informou o advogado Paulo Henrique, que representa a família de Luiz Evaldo, 28, marido de Graciane e também vítima do incêndio. No leito, Maria conversou com o irmão mais novo de Luiz e deu sua versão sobre os fatos. Alegou que estava na cozinha, quando escutou o estrondo. A explosão foi tão forte que a porta da geladeira quebrou. “Ela disse que o cheiro era muito forte e, por isso, Graciane, o marido e o filho do casal se trancaram em um dos quartos. Ao sair da cozinha, ela se queimou. O rapaz que aplicava o produto voltou ao apartamento para salvá-la”, detalhou o advogado.
O advogado acredita na hipótese de que o casal não pulou da janela junto ao bebê. Nas imagens analisadas por ele e tratadas com sigilo pela polícia, a família parece estar encurralada pelo fogo. “Ela (Graciane) estava com o pé em cima da cama, se esticou para buscar ar com o bebê no colo e ele (Luiz) tentando segurar a cachorra. Nisso, eles caíram”, explica.
A linha de investigação de uma suposta queda acidental ainda está sendo analisada. Momentos antes do incêndio, Renan Lima Vieira, aplicador de impermeabilizante em estofados, esteve no apartamento do casal para fazer o serviço em um sofá. A polícia tenta descobrir se o produto utilizado foi à base de substâncias inflamáveis ou de água.
Riscos
Em reportagem publicada na semana passada, o Correio trouxe a análise de especialistas sobre os riscos e cuidados com o serviço de impermeabilização de estofados, que é bastante procurado em todo o país, mas exige um controle direto das autoridades e dos órgãos fiscalizadores.
O produto usado para impermeabilizar um sofá, por exemplo, é, na verdade, uma combinação de várias substâncias, que têm por base ou materiais inflamáveis ou a água. É o que explica o aspirante do Corpo de Bombeiros Militar do DF Anderson Ventura. Nos dois casos, há riscos diferentes, mas é possível trabalhar com segurança com ambos, desde que se tome medidas prévias, afirma. “Com a base de água, a segurança é maior. Mas há aquele perigo de uma criança estar no local e colocar na boca, por exemplo. Já os inflamáveis, temos um risco iminente de incêndio.”
Para além da base de água, prestadores de serviço dessa área costumam usar substâncias altamente inflamáveis para dissolver o impermeabilizante. São elas: benzeno, hexano e isoparafina (solvente). Ramon Tiago Albuquerque Andrade, mestre em físico-química pela Universidade de Brasília (UnB), ressalta que os produtos causam inúmeros problemas genotóxicos — capacidade de alguns agentes químicos de danificar a informação genética no interior de uma célula — e neurológicos.
“A explosão pode ser ocasionada pela simples mistura dos dois materiais, porque a reação é bastante exotérmica e, se não for feita com cuidado com as proporções, pode ocasionar explosão. Se o ambiente onde a pessoa estiver manipulando esse material não estiver na temperatura correta, pode ocasionar explosão também”, afirma Andrade.
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