É tempo de colher uva no Distrito Federal. De acordo com os dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), de 2023, o DF tem 94 hectares de área com plantações de parreiras, totalizando 78 produtores. Ano passado, foram produzidas cerca de 2,7 mil toneladas da fruta na capital.
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De acordo com a Emater, no Cerrado brasiliense, a uva encontrou condições climáticas que permitem uma excelente produção. O inverno com dias quentes, noites frias e sem chuvas permitem a produção de uvas mais doces do que na região Sul do país. E ainda é possível colher duas vezes ao ano quando se adota técnicas como dupla poda e quebra de dormência.
Felipe Camargo, coordenador do programa de Fruticultura da Emater, informa que a uva mais plantada no DF é a niagara rosada para o consumo, mas que alguns agricultores apostam na variedade BRS Vitória sem semente. "Recentemente, a procura por variedades finas, como syrah, tempranillo, barbera, cabernet franc, malbec tem aumentado, fato que colocará Brasília na rota nacional de apreciação de vinhos finos de inverno. No DF, 21 produtores produzem vinho", diz o coordenador.
São 64 hectares espalhados na região, intercalando áreas que estão produzindo vinho com as de parreirais em formação. De acordo com Camargo, a parte produtiva pode representar, nos próximos anos, mais de 500 mil garrafas anuais. "Os solos do Cerrado são aptos para a fruta, porém precisam ser trabalhados. É preciso que o produtor corrija a acidez e o teor de alguns nutrientes, como o fósforo", conclui o coordenador.
Experiência
A Fazenda Califórnia, localizada próxima à Fercal, oferece a oportunidade para o brasiliense experimentar a colheita da fruta, a pisa e a gastronomia de uma das frutas mais apreciadas do planeta. Em meio ao Cerrado com relevo acidentado da região, os parreirais exibem os cachos de uvas dos tipos niágara rosada e vitória, destinadas para o consumo in natura e para a produção de sucos e geleias. De acordo com José Bardawil, proprietário da fazenda, toda a colheita é absorvida pelo mercado DF.
A experiência imersiva na cultura da uva pode ser aproveitada aos sábados e aos domingos, com pacotes que podem incluir a colheita, a pisa, a degustação de pratos feitos com a fruta e a chance de levar duas caixas de uva para casa. A fruta e os produtos derivados ficam disponíveis para venda durante a visitação. Sobre a pisa, o fazendeiro opina que a técnica, usada em produções de vinhos e sucos no mundo todo, faz diferença no resultado final. "Na pisa, você sente a fruta. Com a máquina, o resultado sai instantaneamente, sem o contato".
Bardawil conta que o plantio da uva na fazenda começou há sete anos, tendo a primeira colheita dois anos depois. "Comecei a plantar porque eu gosto de uva e minha filha e meu genro plantam a fruta na Itália. Começou como uma brincadeira e acabou virando negócio", relata o fazendeiro.
No início eram dois hectares de niágara rosada. Hoje, os sete hectares ocupados pelos parreirais servem também para a produção para os tipos syrah, tempranillo e barbera, tudo isso a apenas 25 quilômetros da Esplanada dos Ministérios.
Agora é a vez da colheita de inverno das uvas niágara e vitória, mas, devido à técnica da poda invertida, as duas espécies contam com duas safras anuais, uma entre agosto e setembro e a outra em fevereiro. "A uva precisa de calor ao longo do dia e frio durante a noite. São condições que deixam a fruta mais doce e saborosa", aponta José Bardawil, ao comentar sobre o quanto o clima de Brasília favorece o cultivo da fruta. A plantação conta com um sistema de gotejamento que fica ligado durante três horas pela manhã e no período da tarde.
Para os produtores que têm interesse em começar a cultivar uvas nas terras onde trabalham, o primeiro conselho que o fazendeiro dá é a realização de uma análise de solo. "Depois, com isso na mão, escolher o tipo de uva que vai plantar, de preferência que seja um que algum produtor local já plante, que seja adaptada. É preciso comprar a rama daqui mesmo", complementa Bardawil.
Vinhos
Toda a uva dos 4,7 hectares da propriedade de Alexandre Ahlert, localizada na região do PAD-DF, é destinada para produção de vinhos. As espécies cultivadas na área são tempranillo, cabernet franc e sauvignon blanc, que renderam 10 toneladas da fruta ao longo da colheita feita em agosto, e que vai resultar em torno de 7 mil garrafas da bebida. A colheita da syrah vai começar neste fim de semana. Carro chefe da propriedade, a espécie deve render mais 20 mil garrafas de vinho brasiliense.
Ahlert começou a plantar uva em 2019, como forma de diversificar a produção da propriedade, que é voltada para soja, milho e feijão, além do gosto pessoal do produtor por vinhos. "A uva vinífera é muito exigente em termo de tecnologia. É uma cultura de longo prazo e os custos são altos. No primeiro ano, houve colheita, mas foi muito pequena. Apenas neste ano é que começou a dar resposta de produtividade", conta Alexandre.
O viticultor aponta que a videira é uma planta muito sensível a pragas e doenças, que podem, rapidamente, causar grandes prejuízos. Também é preciso atenção no equilíbrio nutricional do solo, quantidade usada na irrigação e o ponto certo da colheita. "Muita água deixa a fruta pouco concentrada, o que pode prejudicar a qualidade do vinho", detalha.
Visitação
Os pacotes de visitação à Fazenda Califórnia para adultos variam de R$ 100 a R$ 295. Crianças e adolescentes pagam R$ 50 e R$ 70, respectivamente, e menores de seis anos não pagam taxa. As reservas podem ser feitas por meio do link na bio do perfil @fazendacaliforniadf, no Instagram, ou por direct.
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