Criminalidade

Furto de cabos cresce no DF e traz prejuízo anual de R$ 2,7 milhões

Números da Neoenergia indicam rombo de R$ 2,7 milhões em 2023. De acordo com dados da PMDF, em 2024 houve um aumento de 26,1% na quantidade de ocorrências em relação ao ano passado. Especialistas sugerem punição mais rigorosa

De acordo com a PMDF, foram 473 ocorrências até agosto deste ano -  (crédito: Divulgação/PMDF)
De acordo com a PMDF, foram 473 ocorrências até agosto deste ano - (crédito: Divulgação/PMDF)

Prejuízo para moradores, comerciantes e também para o Poder Público, o furto de cabos tem preocupado no Distrito Federal. Dados da Polícia Militar (PMDF) mostram que houve um aumento de 26,1% nesse tipo de delito na capital do país, passando de 375 para 473 ocorrências, na comparação do período de 1º de janeiro a 21 de agosto dos anos de 2023 e 2024. Números da Neoenergia de Brasília mostram que também há prejuízo financeiro quando ocorre esse tipo de crime. De acordo com a companhia, em todo o ano passado, o rombo com furto de cabos foi de R$ 2,7 milhões. Em 2024, somente de janeiro a maio, o valor ficou em R$ 329 mil.

Professor de direito do CEUB, especialista em segurança pública e promotor de Justiça no DF, Antônio Suxberger afirmou que o furto de cabos ocorre, em geral, pelo valor econômico alcançado a partir da comercialização do material que se encontra no interior dos cabos: o cobre. "A facilidade de acesso aos cabos acaba tornando esse tipo de ação criminosa relativamente atraente. Afinal, seja pela necessidade de fácil acesso para manutenção ou pela necessidade de acesso assegurado às empresas prestadoras de serviço, esses cabos são facilmente alcançados e retirados por aqueles que buscam ganho econômico com esse tipo de crime", avaliou.

De acordo com o especialista, essa facilidade atrai, em sua grande maioria, grupos que estão em vulnerabilidade econômica e social, como dependentes químicos e pessoas em situação de rua. "Como se trata de crime sem violência contra a pessoa, muitas vezes quem o pratica é preso em situação de flagrante, mas tem a liberdade restituída para responder o processo em liberdade", explicou. Para tentar mudar essa realidade, um projeto de lei que visa aumentar a pena para o furto de cabos está correndo no Senado Federal (leia Punição).

Operação

Em 22 de agosto, a Polícia Civil (PCDF), por meio da 18ª DP (Brazlândia), prendeu um integrante de uma associação criminosa composta por prestadores de serviços a empresas de telefonia. O homem preso é acusado de furtar cabos de torres de telefonia, em Brazlândia. As investigações começaram após um furto ocorrido em junho, no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, na mesma região.I

Segundo a PCDF, o suspeito também participou de outros dois furtos em uma torre de telefonia do Recanto das Emas, no mês de agosto. As investigações seguem para identificar a participação de outros criminosos nesses furtos. Delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito afirmou que o furto de cabos de energia e de telefonia é um crime emergente e impacta diretamente na vida das pessoas e na lucratividade das empresas.

Fiscalização

Professor do curso de engenharia elétrica da Universidade Católica de Brasília (UCB), Luciano Duque ressaltou que a fiscalização constante, por parte das concessionárias e autoridades policiais, pode ser uma forma de minimizar a prática desse tipo de crime. "Além disso, é necessário fiscalizar os ferros-velhos que compram, muitas vezes, esses cabos sem procedência", observou.

O especialista explicou que substituir o material do cabo por alumínio não é possível, em muitas situações. "Isso porque o cobre é mais flexível, permitindo cabeamentos subterrâneos. O alumínio é utilizado nas redes aéreas, que são mais encontradas nas regiões mais afastadas do centro do DF. Por isso, a maioria desses crimes acontecem no Plano Piloto", pontuou. "O soterramento até poderia ser uma solução, mas as quadrilhas que praticam esse tipo de delito, às vezes, contam com pessoas especializadas, que sabem como retirá-los, mesmo estando em galerias subterrâneas", acrescentou Duque.

O especialista em segurança pública Antônio Suxberger disse que é preciso atacar o problema em sua raiz. "Isto é, por meio de políticas de assistência e acolhimento das pessoas envolvidas em ações pontuais e individualizadas. Em casos de atuação sofisticada, em que criminosos se valem dessas pessoas vulneráveis, a resposta passa pelo rigor penal desse tipo de delito", opinou o promotor de Justiça.

Trabalho conjunto

Porta-voz da PMDF, o major Raphael Broocke afirma que, para esse tipo de crime, a corporação trabalha com dados estatísticos e o mapeamento dos locais mais vulneráveis. "É com base nisso que a Polícia Militar tem concentrado o efetivo", pontua. "Também contamos com os canais de denúncia, como o 190, para que a população aponte qualquer movimentação estranha, mesmo que a pessoa esteja utilizando o uniforme de alguma empresa. A PMDF vai até o local para verificar se o serviço está sendo feito da maneira correta", acrescenta Broocke.

A Neonergia informou que, para tentar coibir a prática no DF, criou uma linha telefônica direta para validação dos serviços técnicos suspeitos realizados na rede, além de enviar, mensalmente, dados das ocorrências registradas. Além disso, a distribuidora também realiza rondas nas regiões mais sensíveis (confira o quadro com o ranking) para inibir a ação dos criminosos. Em algumas delas, como a Asa Norte, a Neoenergia informou que está soldando as entradas das caixas de energia e estações transformadoras, na tentativa de conter as ações dos criminosos.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) informou que tem direcionado investimentos para a capacitação das forças de segurança, a melhoria dos equipamentos utilizados e a adoção de tecnologias avançadas para otimizar o trabalho policial e o fortalecimento dos processos de gestão. Ainda de acordo com a pasta, reuniões com representantes das forças de segurança, Neoenergia e CEB são realizadas frequentemente, para tratar sobre medidas de enfrentamento a essa modalidade criminosa.

 

Punição

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 2.459/2022, de autoria da senadora Leila Barros
(PDT-DF), que tem como proposta aumentar a pena para o furto de cabos de energia, telefone, TV ou internet em um terço, além de dobrar a punição para quem for flagrado por receptar esse tipo de material. Caso não haja qualquer tipo de recurso para votação no plenário do Senado, a proposta irá direto para a análise da Câmara dos Deputados.

Áreas mais afetadas

Das 305 ocorrências de furto de cabos de energia registradas em 2023:

- 160 aconteceram na Asa Norte;
- 61 ocorreram na Asa Sul;
- 56 foram registradas no Guará.

Fonte: Neoenergia

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postado em 03/09/2024 04:00
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