Os corpos das três vítimas do incêndio ocorrido na última terça-feira (27/8), no condomínio Parque das Árvores, localizado no bairro Parque Rio Branco, em Valparaíso de Goiás, foram velados e enterrados na manhã desta quinta-feira (29/8). Mais de 100 pessoas compareceram à cerimônia para prestar condolências. O prefeito do município, Pábio Mossoró, também esteve presente no velório.
Na despedida da profissional em extensão de cílios Graciane Rosa de Oliveira, 35 anos; do marido dela, o garçom Luiz Evaldo, 28; e do filho do casal, o pequeno Léo, que morreu aos 19 dias de vida, estiveram presentes familiares, amigos, vizinhos e pessoas que, apesar de não terem proximidade, comoveram-se com a tragédia.
Abalado, Elivelton Lima, 25 anos, irmão único de Luiz, declarou que a situação não está fácil para a família, que perdeu três entes de uma vez só. “Foram horas e dias de muita necessidade de carinho, de oração de todos, mas muita gente se solidarizou tanto com ajuda financeira quanto com apoio emocional, e eu quero deixar minha gratidão a cada uma dessas pessoas porque isso tem feito toda diferença”, expôs. Elivelton é militar e, por isso, o enterro contou também com a presença de membros do exército.
Definiu o irmão como uma personalidade querida, que fazia amigos, involuntariamente, por onde passava. “Meu irmão não era de buscar fazer muitos amigos, mas automaticamente ele fazia isso. Eu não tenho palavras para descrever o quanto que eu amava meu irmão e o quanto ele me amava, o Luiz abria mão do próprio conforto dele para me deixar confortável, isso é algo que vou levar para o resto da minha vida”, disse.
Uma amiga de Graciane, que preferiu não se identificar, a descreveu como a pessoa mais “ultra-astral do mundo”. “Ela era do nosso grupo de amigas, brincava o tempo todo, zoava todo mundo, tirava fotos nossas e fazia figurinhas, uma pessoa sempre para cima…”, lembrou. Ela informou que a filha mais velha de Graciane está com a família paterna e não foi levada ao enterro.
A cerimônia fúnebre foi marcada por lágrimas e sussurros de lamentações daqueles que questionavam o motivo da partida precoce da família. Amigo de infância, Leonardo Pereira Resende, 29 anos, lembrou, emocionado, dos bons momentos que colecionou ao lado do amigo. “Desde criança, estudamos juntos, primeira série, segunda… tivemos uma convivência bem longa na adolescência. Ele (Luiz Evaldo) sempre foi uma pessoa adorável, desde pequeno, dá para ver isso nas fotos dele com a esposa, era muito carinhoso e atencioso, não é à toa que tem tanta gente aqui, é porque ele era uma pessoa surreal e que vai fazer muita falta”, disse.
Leonardo disse que jamais esquecerá das partidas de futebol que competiam na beira de um córrego, quando crianças. A última vez que se encontraram foi há cerca de dois meses. “A gente se encontrou na passarela do Shopping Sul, nos abraçamos e conversamos por uns cinco minutos sobre nossas famílias…”, finalizou.
Mobilização
Para custear o funeral do recém-nascido, que ainda não integrava o plano funerário da família, familiares promoveram e compartilharam uma “vaquinha” on-line nas redes sociais. Com meta estimada em R$ 2 mil, a corrente de caridade já havia arrecadado cerca de R$ 23,5 mil na manhã desta quinta (29/8). A família informou que o dinheiro que restar será utilizado para ajudar a mãe e a filha de Graciane a se restabelecerem, uma vez que perderam todos seus bens em decorrência do incêndio.
“A família não condena ninguém”
Advogado da família de Luiz Evaldo, Paulo Henrique Santos falou, à imprensa, que a família da vítima está abalada, mas entende o ocorrido como uma fatalidade. "A gente não pode, ainda, ter um julgamento preliminar, mas nós não podemos descartar nenhuma possibilidade. A família entende que agora não é o momento de apontar alguém, ela está realmente passando por esse sentimento de fechamento de ciclo da vida, para somente depois a gente tomar as providências necessárias", informou.
Sobre a investigação, Paulo Henrique informou que a família acompanhará os trâmites de perto. "Nós vamos acompanhar atentamente, até para servir de alerta, porque são vários prédios na nossa cidade e a população precisa de um treinamento contra incêndio e acidentes, a gente entende que a população estava despreparada para esse momento, então nós vamos acompanhar e o laudo será divulgado quando sair, para que todos os síndicos tomem providências para que esse tipo de acidente não aconteça mais."
Ainda segundo o advogado, Maria das Graças, mãe de Graciane, segue internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com 30% do corpo queimado. Ele informou que ela não corre riscos. Sobre o funcionário que prestava serviços, Paulo Henrique confirmou a informação de que ele já recebeu alta e está em casa.
Monitoramento e avaliação
Presente no velório, o síndico do condomínio, Anderson Oliveira, informou que 64 dos 88 apartamentos que compõem o bloco E, onde o incêndio ocorreu, foram liberados. Os outros 24, que estão divididos do 6º ao 11º andar, passam por vistoria, sem previsão de serem liberados. Ele ressaltou que o condomínio está auxiliando as famílias afetadas e que seis estão abrigadas em um hotel da região.
Para auxiliar na vistoria, o condomínio adquiriu uma máquina importada que fará a inspeção da junta de dilatação do bloco, com o intuito de verificar se a estrutura do edifício foi afetada. A previsão é de que o equipamento chegue nesta sexta-feira (30/8).
Relembre o caso
O acidente aconteceu no condomínio Parque das Árvores, no bairro Parque Rio Branco, em Valparaíso, na manhã de terça-feira (27/8). Foi confirmado que cinco pessoas estavam no apartamento no momento do ocorrido, mas que, no entanto, duas, sendo a mãe de Graciane, identificada como Maria das Graças, e Renan Lima Vieira, prestador de serviço que fazia um trabalho de impermeabilização no sofá da família, conseguiram escapar das chamas. Além de Graciane, Luiz e do recém-nascido, um dos cachorros de estimação da família também perdeu a vida na tragédia. A filha mais velha da mulher, que tem 11 anos, estava na escola no momento que o incêndio se iniciou.
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