A definição de quem será a nova reitora da Universidade de Brasília (UnB) pelos próximos quatro anos ficou para setembro. Nenhuma das três candidatas obteve maioria absoluta na contagem dos votos, encerrada sexta-feira, por isso, de acordo com as regras da disputa, realizada entre terça e quarta-feira, será necessário um segundo turno, previsto para ocorrer nos dias 3 e 4 do mês que vem. A disputa será entre Rozana Naves, com 42,08% da preferência do eleitorado, e Olgamir Amancia, com 31,18%. Fátima Sousa sai da disputa, com 26,74%.
A conclusão sobre a necessidade de realizar uma nova consulta à comunidade universitária da instituição — formada por estudantes, servidores técnicos-administrativos e docentes — veio ao final de uma apuração que virou a noite, no auditório da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), e que começou com atraso e problemas. Votos que tiveram de ser verificados em separado porque alguns eleitores, aptos a votar, não constavam nas listas de seções de votação, e uso de cédulas erradas em alguns casos retardaram o andamento do processo. Os entraves foram resolvidos pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), integrada por representantes dos trabalhadores, alunos e educadores da instituição, além representantes das chapas que ajudaram na fiscalização.
Para eleger a gestão da UnB, 56.806 pessoas estavam habilitadas. Desse total, 50.806 eram universitários, 2.862 técnicos-administrativos e 2.610 professores. Desse somatório — sem incluir os votos nulos e brancos, que não foram divulgados — 8.981 pessoas se manifestaram, 15% do total.
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Concorrência
Olgamir Amancia Ferreira leciona desde 2010 na Faculdade UnB de Planaltina. Decana de Extensão desde o início da gestão da atual reitora, em 2016, é considerada a representante da situação. O indicado a vice da chapa é Gustavo Romero, diretor da Faculdade de Medicina e ex-diretor do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
A docente do campus de Planaltina ressalta a sua participação na gestão da atual reitora, Márcia Abrahão, estando à frente do Decanato de Extensão. “Por força disso, consigo ver os grandes avanços que foram alcançados em diferentes áreas, como o alcance da pesquisa e do avanço da pós-graduação. São muitas as conquistas, principalmente no âmbito acadêmico, nos rankings internacionais, onde a universidade vem se posicionando cada vez melhor”, destaca.
“Por outro lado, o processo eleitoral chama a nossa atenção para o fato de que ainda existem muitas demandas a serem respondidas. Foram feitas muitas entregas, porém há várias outras demandas que precisam ser tratadas com urgência e olhar cuidadoso”, pondera.
Sobre buscar o apoio de Fátima Sousa, Olgamir observa que as duas têm trajetórias semelhantes, em lutas pela educação, saúde e democracia. “Temos muitos pontos de aproximação, daí eu já ter feito um gesto de diálogo coma professora Fátima, porque o programa que ela apresenta agrega elementos ao nosso. Faço questão de continuar esse diálogo e queremos vê-lo consolidado com a presença dela”, afirma.
Para o segundo turno, Olgamir explica que a estratégia de campanha será intensificá-la com diálogo em todas as unidades acadêmicas, olhando, com atenção, os campi.
A respeito da apuração, ela analisa que o método do voto impresso não contribui para a participação da comunidade acadêmica na consulta, principalmente em um momento de pós-greve e em que muitos técnicos estão em teletrabalho.“Uma saída interessante seria uma que nós já experimentamos, que é o voto eletrônico. Em 2020, nós tivemos mais de 15mil votantes e, este ano, tivemos pouco mais de 8 mil. Nós temos o SIG Eleição, sistema adotado por várias universidades no Brasil”, lembra a candidata.
Rozana Reigota Naves é professora do Instituto de Letras desde 2006. Defendendo mudanças na atual gestão da universidade, Rozana revelou-se a principal voz de oposição no pleito. O candidato a vice-reitor da chapa dela é Márcio Muniz, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
A professora do Instituto de Letras avalia que a comunidade universitária manifestou, nas urnas, o desejo por mudanças na UnB. “A nossa candidatura foi a mais votada no segmento técnico, com bastante diferença. No estudantil, tivemos uma ótima votação e, entre os docentes, praticamente empatamos, com votação muito próxima à de Olgamir. A gente imagina que, no segundo turno, a comunidade vá reafirmar esse sentimento de mudança”, aposta.
O apoio da terceira colocada, Fátima Sousa, pode ser decisivo para o resultado final do pleito e não é descartado por Rozana. “A gente tem mantido uma boa relação com os candidatos, e a gente vai seguir conversando, sim. Quase 70% (dos três grupos) da comunidade pautou essa mudança. O recado deixado é esse, e a interlocução com a professora Fátima é nesse sentido”, diz.
Sobre estratégias para se eleger, ela afirma que seguirá ampliando a representatividade de todas as unidades acadêmicas em seu grupo. “Há algumas[unidades nas] que vamos buscar maior interlocução, mas a ideia é seguir pautando debates sobre a universidade, com temas de interesse, como qualidade da pesquisa, ensino, extensão e inovação, além das questões de permanência estudantil, acessibilidade e valorização das pessoas”, revela.
Quanto à consulta, a postulante avalia que houve grande participação, apesar de a instituição ter, há pouco tempo, voltado de uma greve de docentes e da aproximação do fim do semestre letivo. “O processo democrático eu avalio muito positivamente, pautou mesmo o debate sobre a universidade. Ontem (quinta-feira), a gente procurou garantir uma maior tranquilidade na apuração. Foi cansativa, mas tudo dentro da normalidade ,sem controvérsias”, avalia Rozana, que destaca a transmissão da apuração pela UnB TVe a transparência do processo.