A economia do Distrito Federal demonstrou um aquecimento econômico gradual no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Boletim de Conjuntura do Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF), divulgado em julho. A pesquisa ressalta que os efeitos do acesso ao crédito e de cortes na taxa de juros impulsionaram os setores de comércio (+2,7%) e serviços (+5,2%) — crescimento no acumulado de 12 meses, até março de 2024 — o que ampliou a comercialização de bens duráveis e de consumo básico (confira o quadro).
Esse crescimento, de acordo com o levantamento, especialmente dos setores automobilístico e de eletrodomésticos, se deve ao aumento do rendimento médio dos brasilienses e à melhoria no acesso ao crédito pelas famílias, o que possibilita ampliação do consumo familiar. Além disso, a expansão das vendas, indo além dos bens de consumo básicos, condiz com o ciclo de cortes da taxa de juros e ancoragem de expectativas inflacionárias, verificadas até março deste ano.
Secretário de Economia do DF, Ney Ferraz ressalta que os estudos do IPEDF mostram que "estamos no caminho certo", conduzindo bem a economia local. "Estamos investindo em obras, movimentando e estimulando vários segmentos da economia e o resultado disto é a criação de postos de trabalho", analisa. "Também seguimos estreitando os laços com o setor produtivo e, sempre que possível, atendendo suas demandas, com o objetivo de gerar mais emprego e renda", acrescenta Ferraz.
José Aparecido Freire, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), destaca que o desempenho do setor de comércio e serviços no DF, no primeiro trimestre de 2024, demonstrou a solidez do setor produtivo e sua capacidade de recuperação. "Isso foi fruto da resiliência do nosso empreendedor/empresariado e da parceria entre o setor produtivo e o poder público, na busca pelo desenvolvimento econômico e social", observa.
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta comenta que o bom desempenho econômico está ligado à estabilidade dos preços de alguns produtos e à disponibilidade de empregos. "O comércio varejista está apresentando um crescimento. Em datas comemorativas, por exemplo, as vendas aumentaram nos últimos anos", avalia.
Abritta ressalta que, com as perspectivas de redução de desemprego, o consumo deve continuar aumentando, pela segurança em conseguir assumir mais dívidas. "Emprego imediato traz consumo imediato. A cada ano que passa, estamos recuperando a economia, aos poucos", comemora.
"Normalmente, para o varejo, o segundo semestre é melhor para o consumo, pois temos mais datas comemorativas, mais pagamentos ao trabalhador, além do fim de dívidas, como IPVA e IPTU. Então, se no primeiro trimestre os números foram bons, a expectativa é que a gente feche o ano com um belo superávit no comércio varejista", pontua o presidente do Sindivarejista-DF.
Readaptação
Economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo destaca que os números da economia do DF mostram que o setor de serviços continua sendo o carro-chefe. "Após a pandemia, ele recuperou o que havia perdido e tem dado sustentação à economia local", afirma.
Um dos exemplos é Elis Fernandes. Proprietária de um salão de beleza no Cruzeiro há 20 anos, ela diz que está se restabelecendo aos poucos, depois da pandemia. Ela afirma que, desde o fim do ano passado, o setor tem vivido um dos melhores momentos. "Aqui, na loja, por exemplo, a gente vem inovando, trazendo novos serviços para o salão, como a terapia capilar, pois houve uma mudança no mercado e tivemos que nos readaptar a esse novo ciclo", argumenta Elis. "Nos especializamos, por meio de cursos profissionalizantes, e a esperança é de que, com essa novidade, a gente consiga dar um 'boom' nos serviços para o fim do ano que se aproxima", analisa.
Serviços na área da saúde também estão em alta no DF. A fisioterapeuta Cyntia Nathalia Magalhães é dona de uma clínica de pilates em Taguatinga e aponta uma melhora na clientela. "Teve, sim, uma melhora. Acredito que seja porque a população, como um todo, está tentando cuidar mais da saúde", opina.
De acordo com o especialista César Bergo, outro setor que vem demonstrando crescimento constante é o comércio varejista, levado pelo consumo forte e a maior renda per capita dos moradores do DF. Vendedora de uma loja de cosméticos no Sudoeste, Kamilla Nunes concorda com o economista. "O mercado de cosméticos, de forma geral, tem melhorado bastante, tanto na clientela quanto nas vagas de emprego. Não demorei muito para conseguir um serviço quando procurei", afirma.
Segundo Kamilla, 2024 tem sido o melhor ano para o setor, depois da pandemia. "Ainda mais agora, a partir de junho, sentimos que a procura tem sido maior pelos produtos, principalmente de autocuidado", ressalta. A vendedora destaca que uma das coisas que ajudaram a alavancar o mercado dos cosméticos, foi algo herdado da própria pandemia. "A divulgação on-line contribui bastante para as vendas na loja", diz.
Futuro promissor
Subgerente de um supermercado no Cruzeiro, Francisco Hugo Leite percebe uma melhora no consumo. "Depois da pandemia, a economia tem se reerguido. Os clientes estão voltando a fazer compras maiores e com mais frequência. Estamos sempre cheios", aponta.
"Acredito que 2024 esteja sendo o melhor ano pós-covid. O movimento está bem melhor na loja. Até mesmo as compras on-line, que implantamos durante a pandemia, estão diminuindo, pois os clientes estão preferindo vir até o estabelecimento", argumenta Hugo.
O economista César Bergo avalia que, apesar de os números do Boletim de Conjuntura falarem apenas do primeiro trimestre, a tendência para os próximos meses é de que a economia do DF continue crescendo e apresentando números positivos. "Temos uma inflação controlada, por isso, o desempenho no segundo semestre deve ser bom também, principalmente pelo potencial do setor de turismo, com a chegada dos eventos de fim de ano", observa.