TRAGÉDIA

Moradores clamam por regularização de área onde cinco morreram em incêndio

Acesso a água e energia era feito por meio de "gatos" e a maior parte dos imóveis foram levantados com materiais como madeira e telhas de amianto

Além da dor da perda dos conhecidos, a comunidade de Arapoangas, onde aconteceu o incêndio que culminou na morte de cinco pessoas, se disse indignada por sentirem-se abandonados pelos gestores públicos. Eles relataram à imprensa que têm acesso a água e energia por meio de “gatos” e que pediram auxílio por diversas vezes, mas não foram ouvidos.

“Esperaram uma tragédia acontecer para virem aqui, eles nunca pisaram o pé nesse barro antes”, gritou Ruth Ribeiro, 68. Após a tragédia, moradores expuseram duas faixas pedindo pediam por respostas e por justiça. Eles também usaram tintas para escrever as frases nas paredes de alguma residências.

Na região onde ocorreu o incêndio, praticamente todos os imóveis foram levantados com materiais como madeira e telhas de amianto. Na vizinhança, a reportagem verificou apenas três casas construídas com tijolos. O administrador de Arapoangas, Sérgio de Araújo informou que a área onde os barracos estão localizados é particular e que os documentos são regidos por uma fazenda, mas garantiu que, a partir de agora, uma força tarefa será iniciada para que a região possa ser regularizada.

“A Defesa Civil já está na região para fazer o levantamento do número de famílias e barracos que há no local, para que a gente possa ver as possibilidades de regularizar e assentar essas pessoas em um lugar mais adequado”, disse o Sérgio.

O açougueiro Gilson Lopes de Souza, 38 anos, mora na região e foi um dos moradores que tentou apagar as chamas. Emocionado, lamentou que foi tudo muito rápido e não deu para salvar as vítimas. “Quando eu cheguei, o fogo já tinha se alastrado e tinha muita gente tentando apagar, mas, para nós, já não tinha o que fazer, as chamas eram muito altas e a casa foi consumida muito rápido. Tinha gente que queria entrar dentro do fogo para pegar as crianças, mas a única coisa que pude fazer foi acalmar os familiares, foi assustador”, lembrou.

No local, testemunhas relataram que Dona Jane, que tinha 47 anos e era diarista, costumava pegar as netas para dormir na casa dela, porque, durante a noite, o barraco em que vivia ficava mais aquecido do que o da filha, mãe das crianças. Segundo eles, na noite dessa segunda (12/8), ela havia trancado as portas com cadeado, o que dificultou o socorro.

Extremamente abalada, Valquiria Monteiro, vice-diretora da Escola Classe 5, onde as irmãs Maribella, 9, e Sofia, 8, estudavam, contou que as meninas foram à escola ontem e passaram a tarde sorrindo e brincando com os amigos. “Elas eram extremamente amorosas e tranquilas, estavam sempre muito felizes e eram crianças saudáveis. Ontem mesmo sorriram, brincaram, tiraram fotos com a professora; eu não tenho palavras, estamos abalados.” Logo que a notícia foi recebida, hoje pela manhã, as aulas foram suspensas na escola.

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